sábado, 28 de junho de 2014

“Pensamentos inúteis” e o Sistema - (Parte Final)

Geraldo Phonteboa

O que transforma o homem em um ser imprevisível e capaz de romper com os sistemas é sua capacidade de fazer perguntas. A pergunta tem um papel fundamental dentre da dinâmica humana: é ela que promove o novo, que institui e instala a dúvida, que promove o desconforto e tira o próprio homem de seu espaço comum, de sua “zona de conforto”. A pergunta é também um espaço privilegiado para a ruptura com os sistemas que as instituições implantam na tentativa de controlar os processos e as atividades de seus funcionários (também chamados de “colaboradores”). E por que isso ocorre? Vejamos.
Os sistemas não fazem perguntas. Este é um “espaço” de humanização possível dentro do sistema, ou da matrix. Assim, como “desconfiado que sou”, aproveito este “espaço” e pergunto: seria este verdadeiro ou enganador?
Considerando o “espaço” da pergunta como verdadeiro vem a dúvida se as perguntas serão elaboradas, e se essas serão suficientes para romper com as capacidades dos sistemas se adaptarem e manipularem nossas próprias perguntas. E mesmo assim, seremos capazes de resistir ao sistema através de nossa capacidade de perguntar, de criar dificuldades na instalação dos sistemas... Mas se considerarmos que o “espaço” de perguntar seja falso então teremos escolhas? Resta-nos algo mais?
Considerando o “espaço” da pergunta, do questionamento, como um “falso espaço” o sistema, provavelmente, nos ofertará algumas opções. E quem serve ao sistema sabem que opções são estas: o “falso espaço” das escolhas. Quantas vezes já ouvimos frases como “você pode fazer escolhas” ou “façam suas escolhas”. Dentre as escolhas ofertadas pelos sistemas a primeira e mais comum é: você pode escolher entre continuar a atender as exigências do sistema ou você pode escolher sair do sistema. A partir deste modelo clássico de escolha, as demais escolhas apresentadas pelo sistema dela derivam. E porque esta escolha e todas as outras são “falsos espaços” construídos pelo sistema?
Se escolher permanecer no sistema, ter-se-á que esquecer a possibilidade de questionar, de perguntar. Sendo assim se se perde a essência, se se deixa de existir e o resto será servir ao sistema. No entanto, se escolher sair do sistema, provavelmente, será “excluído” do sistema e colocado à disposição de outros sistemas ou subsistemas. Então, as “escolhas” são os “falsos espaços” definitivos e criados dentro dos diversos sistemas. Assim sendo, sair do sistema não é uma escolha, mas também permanecer no sistema não é uma escolha, por isso todas as escolhas são apenas “falsos espaços”.
O único espaço, que de alguma forma, parece permanecer como um possível “espaço”, possível de ser verdadeiro, que dentro ou fora do sistema é a nossa possibilidade de perguntar. Talvez seja por isso que, desde os tempos dos filósofos clássicos – os gregos Sócrates, Platão e Aristóteles – a “pergunta” é mais importante que a resposta. A resposta é estéril. É presa fácil dos sistemas. A pergunta é “a possibilidade do novo”. É a expressão de nossa humanidade. É nossa essência. Questionar, perguntar, interrogar. Não se trata de incomodar o sistema, trata-se humaniza-lo, de compartilhar nossa “essência” e manter vivo dentro do sistema.
Que sejamos criativos ao elaborar nossas perguntas e que elas não cessem! Embora muitos serão silenciados, outros expulsos do sistema, outros cooptados, outros..., mas façamos nossas “perguntas”, são elas que nos humanizam e que tornam a vida possível dentro do Sistema e a pesar dos Sistemas. Que nossas “perguntas” sejam capazes de nos conduzir por caminhos que possibilitam a construção de “espaços” novos e verdadeiros dentro dos sistemas!

E então, faço a primeira pergunta: você pode me ajudar?

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