sábado, 24 de novembro de 2012


Dia Nacional da Consciência Negra.


No dia 20 de novembro comemorou-se o Dia Nacional da Consciência Negra. Mas o que se comemora, de fato, nesta data? Por que foi instituído o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra? Como foi a origem deste movimento? Quais os reflexos desta comemoração para a consciência nacional, para a vida social e para a cultura do brasileiro? Todas estas perguntas são cabíveis, bem como muitas outras.
Primeiro é importante saber que esta dada foi escolhida e foi definida como uma homenagem à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. O quilombo situado na Serra da Barriga, na região do atual Estado de Alagoas, chegou a ter mais de 20 mil habitantes, significativa para a época, constituída por brancos pobres, índios, mestiços e principalmente negros que fugiam da escravidão.
Por mais de trezentos anos, os negros eram arrancados de sua terra e transportados nos porões de navios, previamente adaptados para este fim – os tumbeiros – vendidos aos proprietários de terras e pessoas com capacidade financeira nos centros urbanos para os mais diversos serviços. Muitos negros enfrentaram as piores condições de trabalho, sofriam com a severidade dos senhores, além da restrição cultural e ter que se adaptar para poder manifestar suas crenças, seus costumes, suas tradições.
Muitos preferiam fugir desta situação e refugiavam em lugares de difícil acesso e desses lugares promoviam assaltos, sequestros, ataques a propriedades buscando libertar outros negros daquela situação degradante. Nesses ambientes formavam comunidades onde podiam reviver suas tradições e crenças de origem – construir uma “África” (das muitas possíveis) aqui. O quilombo de Palmares pode ser considerado um desses grandes agrupamentos de negros que fugiram das fazendas da região de Alagoas, Bahia e Pernambuco. Durante mais de 100 anos (os primeiros registros do quilombo é do ano de 1597) este Quilombo se transformou em uma opção de vida e de liberdade para muitos negros. No entanto no final do século XVII, com a crise na produção açucareira no nordeste brasileiro, principalmente devido a retirada dos holandeses de Pernambuco e a concorrência do açúcar produzidos pelos mesmos holandeses nas Antilhas (Cuba, Haiti, São Domingos), a presença do Quilombo dos Palmares passou a representar uma ameaça à frágil estrutura econômica local. Destruí-lo era uma necessidade. O Quilombo resistiu o quanto pode, mas no ano de 1695, Zumbi, líder guerreiro do quilombo foi morto (20 de Novembro) e Palmares foi destruído.
Ao escolher o dia 20 de Novembro – dia da morte de Zumbi dos Palmares – como o Dia Nacional da Consciência Negra, mais que uma homenagem a este negro que lutou defendendo sua condição de livre no quilombo e sua gente, quer promover a discussão sobre os direitos da população negra de contar sua história, de valorizar sua cultura e de reconhecer a importância deste grupo étnico na história deste país, que ainda não gera as mesmas oportunidades aos diversos seguimentos sociais. Não se trata de criar um novo herói, embora ele (Zumbi) o seja, trata-se de recordar a luta dos negros pela sobrevivência, por sua dignidade, suas tradições e costumes, que é a luta dos menores de nossa sociedade (pessoas simples, pobres, brancos, negros, pardos).
Na década de 1960, um movimento proposto pelo professor de literatura do Rio Grande do Sul – professor Oliveira Silveira - iniciou um movimento de valorização da luta dos negros, que ao mesmo tempo resgatasse a história do negro no Brasil e ainda valorizasse sua cultura de modo amplo. O movimento cresceu de tal forma, conseguindo o apoio de vários seguimentos sociais e de entidades educacionais, políticas e religiosas. Esse apelo pela necessidade de recontar a história de grande parte da população se fez ouvir no governo brasileiro e o levou a aprovação de uma lei reconhecendo o dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra (lei nº9.660). A partir de então a história dos negros, seu trabalho, sua luta e sua cultura passou a ser integrada ao sistema nacional de educação, movimentos passaram a ser organizados no sentido de valorizar a cultura afro-brasileira, políticas afirmativas passaram a ser aplicadas garantindo a ascensão social de brasileiros de origem africana, em suma, fazendo a inserção social dos descendentes dos ex-escravos. Uma forma de fazer o que o Estado deveria ter feito em 1888 quando o governo imperial aboliu a escravidão.
Nesse sentido devemos entender que ao se comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra é oportunizar uma reflexão mais séria sobre este grupo étnico, uma das raízes da nação brasileira. Perceber e reconhecer as diferenças sociais e criar mecanismos de se construir uma sociedade mais justa e igual. Esta não deve ser uma luta exclusiva dos negros, e nem uma luta no sentido de divisão, de oposição, mas uma luta no sentido de esforço, de construção, de valorização desta diversidade cultural, étnica, que por si só, constitui uma riqueza da cultura que nos integra como país, como nação.
Não se trata de negar a abolição da escravatura feita por princesa Isabel em 13 de maio de 1888, mas de reconhecer que a abolição da escravatura foi, antes de tudo, uma conquista da população negra brasileira. E ao mesmo tempo de explicitar que aquela abolição, expressa pela Lei Áurea, não atendeu plenamente as necessidade da população negra brasileira. Que muito ficou por ser feito e que muito ainda está para ser feito. Reconhecer que é preciso abolir o preconceito, abolir os entraves que dificultam o acesso à educação de qualidade, a saúde de qualidade, abolir os mecanismos que inibem a justiça social, a melhor distribuição da renda, a aplicação séria, honesta e transparente dos recursos públicos. Esta luta é de todos nós brasileiros: brancos, negros e pardos. Por isso, viva Zumbi dos Palmares! Que sua história de luta seja para nós, exemplo e inspiração para a luta de nossos dias! Neste Quilombo que hoje é Itaúna, que um dia foi influenciado pelo Quilombo do Ambrósio... Mas esta é outra história.., que eu contarei em um outro dia...

segunda-feira, 19 de novembro de 2012


"ALÉM DOS TRILHOS"

Um mergulho na alma cultural de uma criança (e família) marcada pela chegada e pela partida dos trens de ferro. Este é o resultado da obra "Além dos trilhos" de Maria Lúcia Mendes neste leitor.

“Dentro de mim não mais ansiedade e sim quietude, reflexão: as coisas que amamos não envelhecem, assim pensando agachei-me, juntei um punhadinho de terra, esfreguei-o devagar entre os dedos e pequei o caminho de volta.
Quem nasce à beira da linha aprende cedo que chegadas e partidas são do comando de Deus, mas a viagem vida afora cabe ao destino de cada um. Seja outono ou inverno – não importa a estação – guardará consigo o desejo de decifrar segredos que se escondem em paisagens perdidas no ir e vir da memória” (pág. 10)
Iniciar um artigo com uma epigrafe, embora não sei se é ou não conveniente, mas isso é mais que uma questão de forma, de estilo, é uma questão de sentimento. Escolhi assim porque o texto da epígrafe se apresentou para mim como uma chave de leitura. Uma chave de leitura, porque “os segredos das paisagens do ir e vir da memória” perpassa toda a obra “Além dos trilhos”, ultrapassando os limites da realidade de uma história vivida por duas irmãs em uma cidade interiorana denominada de Cristais, mas que também pode ser qualquer cidade do interior das Minas Gerais marcadas pelo trem de ferro, pelo comércio de secos e molhados, pelos relacionamentos intensos com os vizinhos e, sobretudo, de como os problemas familiares dos adultos são percebidos e vivenciados pelas crianças.
Ao desvendar estes “segredos... no ir e vir da memória” há o encontro com a minha própria infância, que de alguma forma faz parte de uma mesma tradição e de uma mesma paisagem, a “infância comum” de muitos mineiros. Este lugar comum, esta paisagem comum, reforçam os laços da tradição e da cultura mineira o que torna este romance íntimo e aconchegante. Assim podemos “pegar o caminho de volta” e com o cheiro da terra, depois de “esfregados entre os dedos”, podemos também escrever nossas histórias, nossas memórias; isso porque “as coisas que amamos não envelhecem”.
Os apelos comerciais e o desejo de progresso destroem os antigos casarões, nossos cenários de infância; as antigas vendas ou mercearias vão sendo engolidos pelos supermercados e hipermercados cada vez mais frios e sem histórias. O tempo é cada vez mais corrido, não temos mais tempo de visitar os amigos, de um dedo de proza, de uma futrica, de um bate papo descontraído na venda da esquina – não há mais venda, não há mais esquina, – como não há mais rua onde se pode brincar, não há mais casas com alpendre para ver a vida passar...
Não se trata de mero saudosismo, trata-se de um outro tempo, de uma outra paisagem, de uma outra realidade e, o que nos resta, são apenas memórias que nos traz este passado e, pouco a pouco, “no ir e vir da memória” dá um novo sentido ao presente, compreendendo suas mudanças e ao mesmo tempo, atribuindo-lhe novo significado. É a partir destas memórias que os segredos são compreendidos e interpretados, e se configuram em novas paisagens, que com o tempo também deixarão de existir.
Assim as crianças de amanhã dificilmente entenderá como era a vida das crianças de hoje, se alguém não lhes escrever e falar. As crianças de hoje terão a oportunidade de compreender a infância de seus pais e avós ao lerem os exercícios da memória publicados por Maria Lúcia Mendes em “Além dos trilhos”, no último dia 09 de novembro. A maturidade desta memória está assegurada quando percebemos que somente aquilo que amamos é que não envelhece, é que se eterniza, é que se perpetua e se transforma em tradição, em cultura, em patrimônio cultural.
Além dos trilhos haverá sempre algo a mais a nos dizer... haverá ainda outros trilhos... e trilhos que se cruzam, que se interpõem e se entrelaçam... mas mais que trilhos... vida em sua eterna viagem.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012


“Tudo que é sólido desmancha no ar.”

 

Não falarei aqui de filosofia, nem de sociologia. Não pretendo também produzir algo que sirva de referência para estudiosos ou mesmo teóricos sérios e carrancudos que, forçando a barra, elaboram teorias que expliquem modelos acadêmicos de estudo ou teses científicas. Mas não podemos negar que o título (que não foi talhado por mim, e por isso está entre aspas) deste artigo é bastante sugestivo. Apesar tempo em que ele foi talhado, 1848 quando da publicação do Manifesto Comunista. Isso mesmo este título está inserido dentro de um contexto europeu de luta trabalhista, de greves operárias, de teorização sobre as relações de trabalho no sistema capitalismo industrial. 

Assim, recuperar o sentido desta afirmativa considerando o momento político e ideológico em que fora talhada não é simples. Sei que a extensão deste pequeno artigo não há espaço suficiente para verticalizar a análise desta afirmativa. Tenho consciência disso e, portanto, restringir-me a traçar um painel de esboços imperfeitos e fragmentários é algo natural e uma obrigação que imponho a mim mesmo. Portanto não pretendo produzir uma imagem completa, mas acredito que posso recuperar parte de seu significado e a partir dele refletir, também de modo limitado, a novas trajetórias que se estão delineando nos relacionamentos humanos. Não se trata de uma face parcial de relações segmentária, como é a relação trabalhista. Afinal as relações humanas não se limitam à relações trabalhistas.

Mas voltemos por um minuto a parte do fragmento de Karl Marx e Friedrich Engels quando então se talhou e frase capitular deste artigo. Assim escreveu Marx

todas as relações fixas, enrijecidas, com seu travo de antiguidade e veneráveis preconceitos e opiniões, foram banidas; todas as novas relações se tornam antiquadas antes que cheguem a se ossificar. Tudo que é sólido desmancha no ar, tudo que é sagrado é profano, e os homens finalmente são levados a enfrentar (...) as verdadeiras condições de suas vidas e suas relações com seus companheiros humanos” (Marx apud Berman, 1998, pg.20).

Observe que a leitura deste fragmento, considerando o contexto de luta dos funcionários das indústrias por melhores condições de trabalho e salários, certamente as palavras de Marx poderia ganhar uma conotação de esperança, visto que as relações sólidas de dominação da classe operária poderiam ceder, amolecer “desmanchar no ar”.

            Creio que possamos nos apropriar das palavras de Marx, mesmo considerando o contexto do século XIX, para compreender os relacionamentos humanos nos dias deste inicio de século XXI. Hoje os relacionamentos frágeis, descartáveis, virtuais demais. O sociólogo Zygmunt Bauman denomina este relacionamento frágil e descartável de “líquido” criando assim uma categoria oposta ao “sólido” de Marx. No entanto, esta “liquidez” do relacionamento nos tempos atuais não é permanente, tem sua própria fluidez, mas também pode ser “enrijecer”, ganhar substância, substanciar-se. Tudo é possibilidade, e enquanto for possiblidade haverá esperança de que embora “tudo que é sólido desmancha no ar”, mas também nem tudo que não é sólido não é líquido, e tudo que é líquido pode se transformar em algo mais substancial, mas duradouro, mais extremamente comprometido. Porque ainda acredito na capacidade humana de se transformar.

domingo, 14 de outubro de 2012

O Palhaço


Não quero ser nada mais na vida,
pois sou palhaço.
Meu viver é aprender a rir de mim mesmo.
Não quero mudar o mundo,
quero apenas rir do meu mundo.

E se você sentir vontade de rir do meu mundo
pode ficar à vontade...
afinal, sou palhaço...

sexta-feira, 12 de outubro de 2012


E agora, tudo acabou?


Pronto, o pleito eleitoral está definido. Temos um novo chefe do executivo e uma nova Câmara Legislativa. Tudo ainda é alegria, é festa. Para outros decepção, tristeza. No entanto, ninguém perdeu, apenas não ganhou... Esta etapa do processo político terminou, mas agora é que de fato começa a festa da democracia.
Para muitos o retorno de Osmando Pereira significa o mais do mesmo, ou ainda uma perpetuação de uma situação, de um determinado grupo político, de uma certa continuidade. Mas há também os que acreditam que há um novo momento e que a eleição de Osmando representa um novo tempo, isso por quê os tempos são outros, os desafios outros, e até mesmo os partidos que compõe o poder político é também outro.
Mas independente de que lado você possa estar, uma coisa é certo. Agora está no momento de iniciarmos a estratégia do acompanhamento. De perceber como estes candidatos neoeleitos vão se comportar. Que medidas vão adotar, sua postura ética, seus compromissos de campanha, seus projetos e seu desempenho como homens públicos. Não é hora de pedir favores, de buscar um posicionamento a determinados cargos públicos.
O desafio maior do cidadão, do eleitor, não é o processo eleitoral. Ele é o mais simples e passageiro. O maior desafio é o acompanhamento dos que foram eleitos, isso porque a maioria dos eleitores não sabem como proceder, não conhece os mecanismos de fiscalização, e a grande maioria tenta ao longo do tempo de mandato tirar proveito pessoal no relacionamento dos políticos eleitos. Desvencilhar da tradição do famoso “jeitinho” brasileiro não é fácil. Assim, os pedidos pessoais, numa relação direta com cada vereador eleito, ou com o prefeito ou vice-prefeito representa uma verdadeira e difícil opção a ser vencida e/ou negada. Isso mesmo, é preciso abrir mão desta opção e passarmos a pensar na coletividade, um exercício difícil e enraizado em nossa cultura.
Além disso há ainda outro desafio ainda maior e bastante especifico. Saber esperar por decisão a curto, médio e longo prazo. Isso porque a situação em que se encontra a cidade será um desafio enorme a quem vai assumir sua administração. Infelizmente será preciso um tempo significativo para “arrumar a casa”.  Esta situação nos leva a pensar sobre a validade do artifício da reeleição. Acredito que o país não está preparado para este mecanismo de perpetuação no poder, visto que mandatos consecutivos têm demonstrado desastrosas. Esperamos que o novo prefeito eleito consiga o mais rápido possível colocar as coisas em ordem, e não alvore um  novo mandato, sem antes mesmo de cumprir o primeiro. A renovação é necessária e acreditamos ser o mais democrático.
Também será necessário que a Câmara Legislativa ser reorganize, que os novos vereadores se adaptem o mais rápido possível ao processo próprio do legislativo. Que conheçam bem suas funções e o que a população esperam deles, mas que não confundam isso com inércia e subserviência. E preciso transparência, ideoneidade e, principalmente, posicionamentos firmes e concisos, e que rompam com tentação de se venderem por ninharias próprias do poder.
E, agora que recomeça o trabalho de um novo tempo, de um novo tempo para a democracia, e a participação dos cidadãos é essencial. Não basta votar, é preciso acompanhar os eleitos... então, tudo começou...ou melhor, recomeçou.

terça-feira, 2 de outubro de 2012


Chegou a hora... e agora?!

 

Eleições é sempre um momento de decisões. Centenas de candidatos a vereador pediram nossos votos, alguns fizeram belos discursos na entrega dos chatos “santinhos”. Minha caixa de correspondência nunca esteve tão cheia! Alguns inovaram com imã de geladeira, outros com correspondência comercial, outros com propostas descabidas e outros ... nem convém comentar.
Grande parte dos candidatos ao cargo de vereador, pelo que demonstraram em suas campanhas, nem sabem a função do vereador..., seguiram o exemplo de muitos que não sabem o que é, mas votem em mim, pois quero saber... Ficou evidente também que muitos candidatos aproveitaram o momento para ficar longe do trabalho, sabiam que não tinham a mínima condição de se eleger, mas como ocupam cargo público, durante a campanha não trabalharam, mas tiveram seus vencimentos assegurados pela lei... e vamos ver o que vai dar!  E então, caro eleitor? Que critérios você vai utilizar para escolher em quem votar? Ao seu amigo de bairro, ao seu colega de infância, à fulana que já faz atividade voluntária, ao que lhe deu um kit de beleza e que tomou um cafezinho em sua casa? O que vai nortear sua escolha? Ouviu alguma proposta interessante? Há sinais de projetos para a cidade? Qual seria a postura de seu candidato na fiscalização do executivo? Os interesses pessoais serão preponderantes na escolha de seu candidato, ou os interesses coletivos ou de classe?
E os candidatos para o cargo majoritário (prefeito)? Em Itaúna concorrem três candidatos. Cada um tem uma proposta mais ou menos definida, embora haja pontos semelhantes... e aconteceu tanta coisa durante esta campanha: queima de faixas, colagem de adesivos em outdoor de adversários, desrespeito e falta de educação de candidatos, abraços, tapinha nas costas, cumprimentos e mais cumprimentos...até manipulação de resultados de pesquisas, de opiniões de autoridades eclesiásticas sem a devida autorização, falatório e mais falatório, ânimos alterados dos dois lados... tudo faz parte da disputa... nunca vi tanta gente cizuda com tanto sorrisos nos lábios, nunca vi tanto vigor em pessoa de idade, tudo para conquistar o voto do eleitor... e, afinal, estão aí. Ideias foram divulgadas, outras copiadas, outras ganharam roupagem nova... o jogo foi disputado e sobrou pra todo mundo...e novamente as perguntas devem ser refeitas. Que critérios você vai utilizar para escolher em quem votar? Ao seu amigo de bairro, ao seu colega de infância, em fulano, que já velho na vida política, acredita que a proposta é nova, ou o velho que tem experiência, ou ainda o desconhecido? Será naquele que tomou um cafezinho em sua casa? Que deu aquele abraço e ainda te chamou pelo nome?! O que vai nortear sua escolha? Ouviu alguma proposta interessante? Há sinais de projetos para a cidade? Os interesses pessoais serão preponderantes na escolha de seu candidato, ou os interesses coletivos ou de classe?
No próximo domingo vamos às urnas. Somos obrigados por lei. Não faça dela um lugar de desabafo! Vote consciente e de modo honesto. Não revele seu voto para ninguém, nem tampouco venda o seu voto. Faça o que você achar que deva fazer com seu voto, mas o faça de modo consciente e responsável. Este agora é o momento de fazer escolhas, nem sempre são fáceis, nem sempre as melhores, mas sempre serão escolhas. Um direito seu de escolher e também de não escolher. Um direito seu...
Bom, depois... depois vem o acompanhamento, a cobrança, a fiscalização. Não dá pra ficar pagando o pato a vida inteira. Precisamos iniciar um longo processo de luta pela criação de mecanismo de controle e de fiscalização do nosso executivo e legislativo. Somente deste jeito é que poderemos fazer valer nossas escolhas. Façamos por merecer mais honestidade na administração pública de nossos recursos. E isso só será possível com a participação direta de cidadãos que podem escolher e fazer valer o que escolheu.
Vamos às urnas... e votemos de forma consciente e definitiva.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

 

INGRATIDÃO

 Phonteboa
 
Quanto tempo perdemos nos lamentando na vida:
Se faz sol, reclamamos que faz calor;
Se não faz sol, está muito frio.
Se chove, reclamamos da dificuldade de sair de casa
Se não chove, está muito seco.
Se estamos bem, procuramos algo para ter do que reclamar;
Se não temos saúde, não suportamos nossa cama.
E o tempo é o mesmo pra todos...

Não queremos morrer jovens,
mas não suportamos ficar velhos...
E enquanto reclamamos não vivemos
e se vivemos reclamando
a reclamação se transforma em hábito
e habita em nossas palavras.
e habita nossa vida
e nos transforma em ingratidão.

Mas insisto e quero viver cada dia
com sorrisos nos lábios
sinceros.
Saboreando cada tempo em seu tempo
Cada sentimento em sua condição própria
E sinto que o ar que respiro,
inspiro a vida presente no momento
no instante,
faço-me presente de mim mesmo.
para a vida dos outros.

E, mesmo que reclamem,
sou sorrisos e abraços.

domingo, 30 de setembro de 2012

Poema Insano


Phonteboa
Insanamente busco palavras para expressar o  que sinto
e sinto que jamais elas me servirão...
e não as escrevo
Leio poemas e nenhum me diz tudo o que preciso
e quero dizer.
Mas são belos, perfeitos, profundos...
Enquanto permaneço nesta busca insana
compartilho o momento
em percorrer seus olhos
e neles me perco
Nada nesse momento interessa
nem minha insanidade, nem as palavras que busco
mas o que sinto é supremo
incomunicável, mas, enfim
vivível.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012


E por falar de poesia...

Hoje quero falar de poesia, de poesia e não da poesia, isso porque falar de poesia é apenas explicitá-la, mostrá-la, deixar que ela fale por si mesma. Os poetas acreditam que a poesia não pode ser explicada, ela tem que ser sentida, vivenciada por cada leitor, uma vez que ela foi, primeiramente e de modo único, vivida pelo poeta, foi sentida, gerada e que, através da palavra – por que não há outro recurso melhor – tornou-se possível aos leitores. Por isso é que iniciei este texto dizendo que falaria de poesia e não da poesia. Deixe-me explicar melhor, quando falamos de poesia, deixamos que a poesia fale por si só, quando falamos da poesia nos envolvemos em explicá-la, compreender suas métricas, seus ritmos, significados. Para se falar da poesia é preciso ser crítico literário e, geralmente, matam-se os versos, desencantam seus sentidos e significados, decantam suas métricas, e procuram conformá-la a determinados estilos, apenas para compreender racionalmente o que os poetas quiseram dizer. Falar de poesia é mergulhar nos sentimentos, absorver todos os sentidos, sonhos, desejos e vida gerados pelo poeta que, através da palavra, organizou em versos.

Acredito que esta explicação é suficiente. Provavelmente esta distinção faça pouco sentido pra muita gente, mesmo porque a maioria das pessoas quando leem poemas, e raramente isso acontece, reagem da seguinte maneira: não entendi. Mas as pessoas que aprendem a ler poesias elas simplesmente não conseguem expressar a não ser através de encantamentos. Alguns ficam estáticos, outras umedece os olhos, outros esboçam sorrisos, e muitas sentem-se mais leves. Quando lemos poesia e deixamos a poesia falar por si só, ela provoca em nós, transformação. Possibilita-nos algo novo.

Mas acho que agora chega. Vamos à poesia. Hoje, com autorização verbal do autor, vou estampar aqui alguns versos do poeta itaunense Daniel Alcântara. Vamos lá.

 

Ruas da deserta ilusão

Logo na entrada ressoa o som do protesto,

Que o mendigo berra na fome de tempos vindouros.

Ele corre, chora, pede aos senhores o que lhe importa,

mas só se tem o pão, vazio como a madeira do falso santo,

e a fome requer mais, somos famintos pelo que poucos tem.

Cantamos aos deuses por isso,

quer seja tolo, quer seja ignorante; A fome é a mesma.

Dos livros vem a carne, dos pergaminhos temos o vinho,

a cura da lepra que se sacia da mentes órfãs,

o buraco negro engolindo a esperança dos olhares,

as leis insanas, proibindo a busca do fruto proibido.

Queremos mais, esta escrito nos jornais dominicais,

em letras miúdas, para que o coro não leia,

sem voz, para que os cegos não ouçam,

sem cor, isso coleciona a inércia.

Droga! Pra que relatar o intento dos esquecidos?

Somos mendigos sem fome nas praças prometidas,

heróis de uma guerra sem vitória,

mártires de atentados terroristas sem mortos,

escritores de páginas destinadas a traças famintas.

Oh inferno! Malditas ruas da deserta ilusão.

Daniel Alcântara.

JOÃO DORNAS FILHO: UMA TRAJETÓRIA A SE COMEMORAR – Parte II


 

            Como afirmei no primeiro artigo desta série, a obra de João Dornas Filho ainda é alvo de interesse de pesquisadores e estudiosos, quer historiadores, quer estudantes de literatura. Encontrei na rede mundial de computadores um artigo entitulado “Periódicos literários e Cânone: Leite Criôlo e a Memória Monumental do Modernismo” do estudante de Mestrado da FALE/UFMG, Miguel de Ávila Duarte. Este artigo é muito interessante, primeiramente por que busca situar João Dornas Filho, e especificamente o panfleto “Leite Criôlo” dirigido por ele, dentro do movimento modernista brasileiro e especificamente, mineiro.

 Inicialmente Miguel de Ávila Duarte faz uma explanação teórico-metodológica sobre Cânone e Monumento, que não vem ao caso apresentar aqui. Em seguida Miguel Duarte define claramente o objetivo de seus estudos, assim diz ele

 Pretendemos investigar brevemente a formação do abismo, em termos de monumentalização e legitimidade cultural, que separa hoje duas publicações modernistas de Belo Horizonte e seus respectivos animadores: A Revista (1925-1926), cuja presença emblemática é a de Carlos Drummond de Andrade, e Leite Criôlo (1929), cuja figura central seria João Dornas Filho.

Com o desenvolvimento desta investigação de Miguel Duarte são apresentados alguns resultados interessantes. Primeiro nos oferece uma explicação do por quê que João Dornas Filho não é conhecido como membro do movimento modernista, como tantos outros, enquanto que Carlos Drummond tornou-se astro, não só do modernismo mineiro, como da literatura nacional.  Em segundo lugar, Miguel Duarte, nos apresenta algumas características gerais sobre o periódico “Leite Criôlo”. Neste aspecto julguei importante destacar que

“Sem dúvida o racismo e o racialismo presentes no tratamento da herança africana no Brasil são fundamentais no suplemento e de certa forma o distinguem, mas é preciso lembrar que leite criôlo foi, em muitos sentidos, um periódico modernista como os demais. Não é possível estabelecer uma oposição entre ele e o resto do modernismo mineiro. Pode-se pensar mesmo que o que para nós hoje é chocante constituía o discurso comum naqueles tempos, leite criôlo se destacando simplesmente por falar, influenciado pela Revista de Antropofagia, em tom aberto e escrachado. Não há por que pensar que quando A Revista fala, de acordo com o bom tom que prevalece nela, em “humanizar o Brasil” não possa estar dizendo o mesmo que leite criôlo, com seu linguajar direto, chama de “higienizar o Brasil”.

Ora, pois, assim posto, considero de fundamental importância estudos como este de Miguel Duarte, não só por buscar resgatar a contribuição oferecida por João Dornas Filho dentro do modernismo mineiro, mas principalmente por revelar outras faces deste movimento. Isso nos permite concluir que não existe um único movimento modernista, que ele não foi uníssono, mas constituído de muitas vozes, de muitas faces. Assim devemos falar em “modernismos” e dentre os diversos “modernismos”, João Dornas Filho é um autor a ser estudado e analisado. É isso que o torna especial e não se tornou ou não um fenômeno da literatura nacional, como ocorreu com Carlos Drummond de Andrade. Tanto Carlos Drummond de Andrade, como João Dornas Filho tem um papel próprio no estudo do movimento modernista, e não há como compreender profundamente o significado deste movimento se não considerar estas diversas contribuições.

Creio que neste sentido, o estudo de Miguel de Ávila Duarte contribui, de forma significativa, na elucidação e no estudo de autores modernistas menos conhecidos e que não fazem parte do Cânone da literatura nacional, e, dentre eles, o nosso João Dornas Filho.

No próximo artigo publicaremos alguns fragmentos das obras de João Dornas Filho, até lá sugiro a leitura do artigo de Miguel de Ávila Duarte disponível em http://www.ileel.ufu.br/anaisdosilel/pt/arquivos/gt_lt13_artigo_8.pdf. Uma boa leitura para todos e até o próximo...

 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012


ENTRE “CACHOEIRAS” E “CASCATAS”

Provavelmente você já deve estar acreditando que o caso do “Cachoeira” não vai dar em nada, ou seja, vai terminar em pizza. E cá entre nós, com tanta pizza na vida pública brasileira, não sei porque o programa “Fome Zero” do ex-presidente Lula, não atingiu seus objetivos. O brasileiro continua faminto. Faminto de moralidade, faminto de justiça, faminto de honestidade na vida pública, faminto de projetos que melhore a qualidade em educação e saúde.
Agora faminto mesmo está o “Leão” e a política fiscal do governo. Haja impostos... e ainda tem políticos solicitando esclarecimentos sobre a administração da praça de pedágio da MG-050!!!. Um verdadeiro assalto à mão desarmada, afinal já pagamos caro o nosso IPVA, que dentre suas finalidades está a conservação de nossas estradas. Obrigação do Estado que não faz, e que passa para uma empresa privada, que cobra pedágio (caro) e também não faz.
Enquanto isso os deputados e senadores fazem o maior teatro da CPMI - Comissão Parlamentar Mista de Investigação, convocam e gastam-se um tempo precioso (por que todo este tempo é remunerado por nossos impostos, afinal estamos pagando os deputados para esta encenação) para interrogar “Cachoeira” e as “cascatinhas”, mesmo sabendo que eles utilizariam o seu direito constitucional de permanecerem calados. Afinal estamos em uma democracia e todos tem o direito de não produzir nenhuma prova contra si.
E pelo andar da carruagem, a sensação que temos é que esta “cachoeira” não vai dar em nada, pois tem muito peixe graúdo fazendo sua “piracema” e em tempos de desova não se pode pescar. É preciso encenar, fazer de contas que estão investigando, para dar uma satisfação aos eleitores, mesma que esta investigação não produzirá efeito significativo nos rumos políticos do país. Não teremos políticos menos corruptos, não teremos moralidade em nossa vida política, mesmo que o senhor “Cachoeira” seja condenado, muitos políticos envolvidos continuarão em seus cargos e não poderão ser julgados pela justiça comum, devido o que está na raiz de todo o sistema de impunidade política em nosso país: a imunidade parlamentar.
A imunidade parlamentar são prerrogativas que asseguram aos membros do parlamento (deputados e senadores) ampla liberdade, autonomia e independência no exercício de suas funções, protegendo-os contra abusos e violações por parte do poder executivo e do judiciário. O problema é que esta prerrogativa vem se tornando um manto de proteção de políticos desonestos ou envolvidos em ações ilícitas. Esta liberdade e autonomia blindaram os políticos de qualquer investigação, sendo o único caminho seus próprios pares, ou seja, os próprios deputados e senadores – o oficial “clube do bolinha”, e assim ficamos refém dessas quadrilhas de colarinho branco.
É claro, que não podemos colocar todos os deputados e senadores no mesmo balaio. Mas então, pergunto: por que os deputados e senadores honestos (provavelmente há alguns) não propõem mudanças que limitem a prerrogativa da imunidade parlamentar? Vamos acabar com esta “cacheira” entes que os peixes subam em piracema? Ou continuaremos sendo obrigados a ver e ouvir as cascatas das CPI’s ou CPMI’s, e pagando caro por isso...

terça-feira, 25 de setembro de 2012


Para não falar da morte, nem dos mortos...

 

Talvez este texto seja publicado na Sexta-feira da paixão, ou talvez próximo a este dia... Mas isso não importa. Em minha família é tradição: Sexta-feira da Paixão é dia de silêncio – não se assobia, não se canta, não liga televisão, nem rádio, não escuta nenhum instrumento sonoro... tudo é silêncio... silêncio... silêncio... – E, por quê? Ainda posso ouvir a resposta de meu pai – “É o nosso jejum, em respeito à morte do filho de Deus”. Nunca entendi muito bem isso, quando menino. Hoje, não. Sinto falta desse silêncio!!! Mais do que isso, percebo a dificuldade de fazer esse silêncio... Então tenho feito esse sacrifício há alguns anos, ou seja, busco, na Sexta-feira da paixão, praticar o silêncio total... não só deixo de escutar os barulhos dos aparelhos eletrônicos, como procuro não fazer barulho que possam expressar alegria, cadências, ritmos... além de buscar não fazer barulho, procuro também fazer silêncio interior, meditativo, reflexivo...
E como é difícil!!!
Como Sexta-feira da paixão faço meu silêncio, quero hoje refletir sobre a morte e os mortos. Sei que não é dia de finados, mas é dia reverenciar a morte redentora do filho de Deus (para todo aquele que crê). E para falar sobre a morte e sobre os mortos, quero trazer para esta reflexão a morte de dois brasileiros, que apesar de suas fragilidades como seres humanos, ajudaram, de alguma forma, muitos brasileiros e enfrentar momentos difíceis em nossa história recente: dois mortos. Quero também clamar, neste dia, pela morte de algumas coisas em nosso país!
Os dois mortos são: Chico Anysio e Millôr Fernandes. Estes humoristas nos ajudaram, com sua arte, a atravessar o período negro do Regime Militar. Fizeram-nos rir, aguçaram nossa inteligência e fez-nos pensar em algumas possibilidades de elaborar uma crítica de nós mesmos. Millôr Fernandes, com sua intelectualidade e singeleza de traços expressou inconformismos, rebeldia, humor, gracejos... Chico, com seus personagens, povoou o Chico City (retrato do Brasil). Ao mesmo tempo, que falamos da morte destes dois grandes humoristas, que ocuparam horas e horas de homenagens nos canais de televisão brasileiras, esquecemos, por outro lado, das tragédias que continuam eliminando pessoas anônimas, e que pouco interessa à mídia televisiva. Estes mortos anônimos são vítimas da inoperância da justiça brasileira e de leis fracas que não protege o cidadão. Mortes que poderiam ser evitadas se não houvesse um sistema judiciário que privilegia a impunidade e o “jeitinho”. Assim, à minha maneira, os mortos Chico Anysio e Millôr Fernandes representam estes silenciados pela cultura de morte implantada em nosso país. E, por isso, sou obrigado a falar da morte...
Clamo pela morte da injustiça e da corrupção de nossos políticos. Não desejo a morte de nossos políticos, mas a morte do sadismo, da sacanagem, da ganância que gera a corrupção em grande parte de nossos políticos (Demóstenes Torres está demonstrando, atualmente, como isso funciona). Injustiça e corrupção são, a meu ver, as faces da morte em nosso país. A injustiça (entenda-se aqui a própria lentidão do sistema judiciário, a fragilidade das leis com todos seus recursos e brechas, a falta de vontade e compromissos de alguns promotores e juízes, etc), são expressões reais da morte em nosso país. Se antes, durante o período da ditadura militar não podíamos falar, o silêncio era obrigatório – não por respeito, mas por medo, – hoje podemos falar... mas muitos (nossas autoridades, principalmente) preferem silenciar-se perante a situação sistêmica da morte instalada na vida política e judiciária brasileira. E, diante deste tipo de silêncio (omissão), transformam todos os dias do ano em sextas-feiras da paixão, de um silêncio tão profundo (não reflexivo, vazio)... império da morte... morte sistêmica...
E neste meu silêncio(reflexivo, orante) clamo pela morte da injustiça e da corrupção... e CREIO que, um dia, haverá RESSURREIÇÃO para o nosso país!!!.

IMUNIDADE OU IMPUNIDADE PARLAMENTAR


Publiquei recentemente, em minha coluna no Jornal Diário, um artigo denominado “Entre Cachoeiras e cascatas”. Foi o artigo que mais gerou repercussão, desde que iniciei minhas publicações neste jornal. Esta repercussão sugere duas grandes questões: primeiro a população está cansada de ver políticos envolvidos em crimes e não serem condenados; e, segundo, opinar sobre determinados assuntos envoltos em valores morais e éticos, são, por si só, provocativos.

Independente disso, a proposta desta coluna é “pensar” ou provocar reflexão, sobre qualquer assunto que mereça tal provocação. Assim no artigo passado apontei para a raiz daquilo que acredito ser o problema da moralidade política em nosso país: a imunidade parlamentar.

Recordando, a imunidade parlamentar é a prerrogativa que tem por objetivo proteger a atividade do parlamentar (Deputados, Senadores e também vereadores) no exercício de suas funções. O grande problema é que esta prerrogativa vem sendo utilizada pelos parlamentares e como ela aparece, para nós cidadãos comuns: como uma “blindagem” jurídica aos parlamentares, e por isso passa a representar invariavelmente “impunidade”. Esta situação vem ser transformando imunidade e impunidade em palavras sinônimas o que não é. Mas o pior não é esta associação entre estes dois termos, e sim, os resultados práticos desta situação na vida política, pois gera descrédito com a atividade parlamentar e afasta o cidadão da participação política.

Todos perdem com esta situação, menos os políticos “picaretas” os “bandidos engravatados” que são os únicos que são beneficiados. O parlamento perde porque é desacreditado, o pais perde por que os recursos dos impostos são gastos em investigações inúteis (CPI’s e CPMI’s, fácil de ser observado), recursos que deveriam estar a serviço de elaboração de projetos que beneficie o país e a população brasileira.

Não se trata apenas de acabar com a imunidade parlamentar, a questão é um pouco mais complexa. A Imunidade parlamentar é uma necessidade jurídica para o exercício parlamentar garantindo o equilíbrio entre os poderes executivo e judiciário. O problema é como garantir o equilíbrio jurídico entre os poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) sem permitir que parlamentares utilizem deste aparato jurídico em benefício próprio, acobertando ações ilícitas e criminosas.

Para isso é que é urgente uma reforma política, definindo inclusive critérios na aplicabilidade da “imunidade parlamentar”, evitando a impunidade de parlamentares envolvidos em atos ilícitos. E como está definido a imunidade parlamentar no caput do art. 53 da Constituição, em que o parlamentar tem direito a esta prerrogativa desde o momento de sua diplomação como parlamentar, sem fazer nenhuma ressalva para crimes praticados antes e durante sua vida pessoal, quando ele não está no exercício parlamentar, torna-o excluído da ação da justiça comum.

Sendo assim é preciso uma mudança radical, não só dos artigo 53, da Constituição, mas também de outros artigos, definindo claramente o que é atividade parlamentar e o que não é atividade parlamentar. Não há dúvidas que ações de deputados fora do escopo definido pela Constituição de “atividade parlamentar”, deveria gerar automaticamente um processo e uma investigação pela justiça comum, como todo o cidadão comum. A ausência de uma definição clara sobre o que é e o que não é atividade parlamentar, restringe qualquer tipo de investigação sobre os atos dos parlamentares. Situação que dificulta qualquer tipo de punição ou de ação que visa moralizar o parlamento, uma vez que o único caminho possível é o processo de “decoro parlamentar”, o oficial “clube o bolinha”, onde os próprios deputados, segundo seus interesses e conchavos, vão determinar quem feriu ou quem não feriu o famigerado “decoro parlamentar”.

 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

JOÃO DORNAS FILHO - PARTE I


A partir de hoje publicarei nesta coluna uma seqüência de artigos com transcrição de parte de textos do escritor mais famoso e importante de Itaúna do século XX. Importante pela qualidade e diversidade de sua obra, bem como pelo alcance de suas publicações, mas que, infelizmente, ainda é muito pouco conhecido pela maioria dos itaunenses.  Esta sequência de artigos é na realidade o modo que encontrei de, modestamente, celebrar os 110 anos de seu nascimento (07/08) e, também, os 50 anos de sua morte (16/12).

O autor, a quem me refiro, é o itaunense João Dornas Filho, o “Zau”. Pra começar creio ser preciso fazer uma pequena apresentação deste autor. Isso por quê, provavelmente, ao falar de João Dornas Filho muita gente associará ao nome da escola estadual situada no bairro Santo Antônio, mas que certamente não sabe de quem se trata e nem porque aquela escola tem este nome. Então, quem foi João Dornas Filho?


João Dornas Filho – fonte: www.viafanzine.com.br

João Dornas Filho é filho de João Dornas dos Santos e Maria Eugênia Vianna Dornas. Seu pai era fazendeiro e republicano com participação significativa no movimento republicano em Santana de São João Acima (hoje Itaúna) no final do século XIX. João Dornas nasceu em 07/08/1902. Cursou a escola primária aqui mesmo em Itaúna, no grupo escolar “Dr. Augusto Gonçalves”, formação básica eficiente para os vôos do futuro escritor e historiador autodidata. Possuidor de um espírito curioso e investigador, sempre esteve atento ao que acontecia ao ser redor. Até os anos de 1920 já escrevia ensaios para os jornais locais como o informe cultural “Zum Zum”.

Na década de 1920, João Dornas Filho mudou para Belo Horizonte. Na capital conheceu um seleto grupo de amigos intelectuais e juntos se envolveram no movimento literário denominado de “movimento modernista”. Já na década de 1930, começa a publicar suas obras e até o ano de 1951 já tinha publicado 12 livros: “Silva Jardim” (Cia. Editora Nacional – Brasiliana, São Paulo, 1936); “Os Andradas na História do Brasil” (Gráfica Queiroz Breiner – Belo Horizonte, 1937); “A Escravidão no Brasil” (Civilização Brasileira S/A, - Rio de Janeiro, 1939); “Bagana Apagada” – contos (Editora Guairá, Curitiba, 1940); “A Influência Social do Negro Brasileiro” (Caderno Azul nº 13 – Editora Guairá, Curitiba, 1943); “Eça e Camilo” (Caderno Azul nº 21, Editora Guairá, 1945); “Júlio Ribeiro” (Cadernos da Província nº 2 – Livraria Cultura Brasileira Ltda – Belo Horizonte, 1945); “Antônio Torres” (Caderno Azul nº 31 – Editora Guairá – Curitiba, 1948); “Os Ciganos em Minas Gerais” (Movimento Editorial Panorama – Edições João Calazans – Belo Horizonte, 1949) e “Efemérides Itaunenses” (Coleção Vila Rica – Edições João Calazans – Belo Horizonte, 1.951).

Durante a publicação destas obras, João Dornas Filho, ainda publicou inúmeros trabalhos coletivos em revistas e jornais, sendo que, pela riqueza e pela regularidade de publicação destaca-se a revista encarte do jornal Estado de Minas, o periódico “Leite Criôlo”. A importância deste periódico é tanta que hoje vem sendo objeto de pesquisa de mestrado e doutorado.

No ano de 1945, João Dornas Filho foi eleito para a Academia Mineira de Letras, ocupando a cadeira de nº 12, cujo patrono é José de Alvarenga Peixoto. Segundo Miguel Augusto, durante sua atuação na Academia Mineira de Letras foi um defensor da participação das mulheres nos quadros da Academia.

João Dornas foi casado com Efigênia Ondina Xavier Dornas, ela de Belo Horizonte. O casal não teve filhos. Faleceu aos 11 de dezembro de 1962 com 60 anos de idade. O legado da obra de João Dornas passa a pertencer a suas irmãs. Este rico acervo se encontra hoje sob os cuidados do Instituto Maria de Castro e inclui manuscritos do historiador, bem como alguns originais de livros e artigos. Este acervo foi doado por suas irmãs ao Instituto.

Nos próximos artigos publicarei fragmentos de suas obras, por acreditar que a melhor forma de homenagear um escritor é tornar suas obras conhecidas, lidas por novos leitores. É desta forma que os autores se eternizam.

Reinvento


Não tenho tempo, já disse
mas rasgo os pedaços de tempo que tenho
e lhe oferto momentos de mim
em abraços que lhes são necessários...

Não tenho nada para oferecer
a não ser a mim mesmo.
Agora sou, neste pedaço de tempo,
totalmente seu.

A única coisa que quero agora
que você sinta, no calor deste abraço,
o que somente eu posso lhe ofertar,
ninguém mais.

Neste abraço sincero
reinvento o tempo
reinvento o conceito de necessidade
reinvento o próprio ato de inventar.


Phonteboa

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Itaúna: 111 anos... o que temos para contar e o que ainda não sabemos contar...


 

Geraldo Fonte Boa

Capela Nossa Senhora do Rosário, construída em 1750 dedicada a Senhora Sant'Ana.
A história de uma cidade, geralmente é contada a partir de sua emancipação política. O objetivo desta comemoração parte do pressuposto que a liberdade e autonomia administrativa é um acontecimento que deve ser considerado como elemento essencial para se rever o história do município. Este fato reside em um conjunto de valores em que os aspectos políticos e ideológicos são predominantes, visto que a ruptura política entre uma cidade sede e um de seus distritos, marcam de forma definitiva a administração e a organização da vida das pessoas que nesses espaços urbanos residem.


Sabemos, porém, que a escolha de uma data, e no caso da data emancipação político administrativo, é uma mera escolha para se comemorar o desenvolvimento urbano, uma mera convenção. Assim, por ser uma data aleatória, a comemoração do aniversário de uma cidade pode partir de outros marcos: a chegada dos primeiros habitantes de origem europeia, o confronto entre grupos étnicos e o predomínio de um sobre os demais, a presença de um determinado grupo na região, etc... tudo isso depende do que os moradores e as autoridades locais consideram como significativa na história do lugar.  Mas como se observa, a comemoração do aniversário da cidade será sempre um bom momento para contar e recontar a história dos antepassados. E o exercício do “contar e recontar” revelam dois grandes eixos de reflexão interessantes: o que temos para contar e o que ainda não sabemos contar.

Assim, o que temos para contar é aquilo, que de alguma forma, foi escrito por alguém e que foi considerado como uma história coletiva. Temos, então, no caso de Itaúna, o que nos contou, e, portanto, escreveu, o historiador João Dornas Filho. Sua história está registrada em duas obras que são consideradas referências para a história de Itaúna: a primeira “Itaúna: contribuições para a história do município” escrita em 1936 e “Efemérides Itaunenses” de 1951. Como vê, estas obras foram escritas há aproximadamente 50 anos depois da emancipação politico administrativo de Itaúna. Depois disso vários outros artigos sobre a história do município foram publicados, mas tomando como referencia a obras de João Dornas Filho.

Relendo tudo o que já fora dito, até então, sobre a história de Itaúna, provavelmente não temos como nos esquivar da história das famílias Gonçalves de Souza, Nogueira, Lima, Marinho, Camargos, Pereira, Corradi, Queiroz, Guimarães etc. Sem dúvida estas famílias foram importantes para o desenvolvimento econômico, social, político e cultural do município. Sobre estas famílias é
Matriz de Sant'Ana, construída em 1835 quando houve a troca dos oragos com capela do Rosário. Este templo foi demolido em 1934 para a construção do atual templo de Sant'Ana.
possível contar uma história e que de certa forma se misturam com a história do município. Mas as histórias destas famílias não abarcam a realidade da história do município, isso porque muitas outras famílias engendraram a história municipal e sobre tais famílias sabe-se muito pouco ou quase nada. É o que não conseguimos ainda contar.


O mesmo vale para os eventos culturais e sociais ao longo dos anos de desenvolvimento de nossa cidade. Muitos eventos culturais marcaram a vida da cidade, mas também não deixaram registros para a posteridade; muitas festas religiosas não foram registradas, ou seus registros se perderam, e assim foram construindo pontos escuros e ocultos à história do município.  Assim, temos a oportunidade de recontar a história e cada vez que fazemos este esforço, novos elementos podem ser revisitados e revelados...

Foi o que aconteceu, por exemplo, sobre o primeiro povoador de então Arraial de Santana de São João Acima. Inicialmente João Dornas Filho apontou Gonçalves da Guia como um dos primeiros povoadores da região. Guaracy de Castro Nogueira em pesquisa revisional comprovou que o primeiro povoador era Gabriel da Silva Pereira, Tomás Teixeira e Manuel Pinto de Madureira. No entanto, este trabalho revisional confirma a ereção da atual Capela de Nossa Senhora do Rosário como marco da formação do arraial de Santana.. Esta capela, cuja provisão é de 1750, foi dedicada a Senhora de Santana até o ano de 1835, quando se efetuou a troca dos oragos da capela. Neste ponto há também pontos obscuros. Segundo João Dornas Filho, e reforçado por todos os historiadores posteriores a ele, que havia uma capela de nossa senhora do Rosário onde hoje se ergue o majestoso templo de Nossa Senhora de Santana. No entanto, na há nenhum documento ou registro fotográfico sobre esta capela. Nada que confirme sua existência a não ser a tradição. Nenhuma provisão para a sua construção, nem mesmo a autorização episcopal para se efetuar a troca dos oragos... e pelo visto este fato não vem sendo investigado.

Quanto ao ato político administrativo de emancipação o que podemos contar é o que João Dornas Filho registrou em “Efemérides Itaunenses” assim escreve:

“A história da criação do município de Itaúna remonta ao ano de 1891, quando o Sr. Dr. Augusto Gonçalves, então deputado estadual, declarou a Senócrit Nogueira:

- A Constituição do Estado determina que só se podem criar municípios de dez em dez anos. Foram criados agora Vila Nova, São Manuel e mais dois outros. Vamos trabalhar para que em 1901 possamos elevar o nosso distrito a sede do município.

Realmente, nesse ano de 1901 era retomada a ideia por ambos, e Senócrit Nogueira, então Presidente do conselho Distrital, apresentava a 24 de junho ao Congresso Mineiro, por intermédio do deputado José Gonçalves de Sousa, o pedido de criação do município... […]”

Senócrit Nogueira anexa junto ao seu pedido um histórico detalhado sobre o distrito, apontando suas potencialidades econômicas, culturais e humanas, enquanto que então chefe político do distrito Dr. Augusto Gonçalves encaminhava ao Presidente da Província Silviano Brandão uma representação em que apresentava os principais recursos do distrito e de suas plenas condições para ser elevada à condição de sede do novo município. Esta mesma representação foi também encaminhada à Câmara dos Deputados Provinciais em 14 de junho de 1901.  Esta representação juntamente com o pedido de criação do município foi encaminhada para uma comissão mista incumbida de analisar  a reorganização judiciária do Estado no dia 25 de julho.

E assim continua João Dornas Filho “…Enquanto essa Comissão estuda a representação, em Santana a Comissão de Criação da vila, composta pelos Srs. Dr. Augusto Gonçalves, Senócrit Nogueira e Josias Nogueira Machado, convocava uma reunião de pessoas gradas, destinada a escolher o nome que se desse ao novo município.

Prédio da Antiga Estação Ferroviária, construído em 1917, e que atualmente abriga o Museu Antropológico e Etnológico Francisco Manuel Franco
Depois de acaloradas discussões, o padre Antônio Maximiano de Campos propôs que a Vila se chamasse Burgana (burgo, povoado de Ana), em homenagem à padroeira do arraial. Não foi aceita a indicação, e o major Senócrit Nogueira propôs o nome de Brasilina, que seria o adotado se a Comissão Mista, composta, entre outros, do deputado José Gonçalves e do senador Pe. João Pio, não tivesse escolhido Itaúna (pedra negra), em virtude de terem essa particularidade as rochas do lugar.


E, por força da Lei nº 319, de 16 de setembro de 1901, foi criado o município de Itaúna.

Estava, assim, vencida a batalha na qual se empenharam denodadamente os Drs. Augusto Gonçalves, Senócrit Nogueira e Josias Nogueira Machado.”

Esta é a história, que ainda hoje é a história oficial do município de Itaúna. Ao recontá-la há se destacar que em momento algum João Dornas Filho apresenta documentos que comprove esta reunião e a síntese destas discussões. Não há estes documentos? Talvez não. Segundo as notas de rodapé, João Dornas Filho escreveu a partir dos relatos orais de Senócrit Nogueira e, provavelmente, não tenha havido a elaboração de atas de reunião, ou mesmo cópias dos documentos enviados aos órgãos oficiais do Estado.

E a trajetória do município ao longo destes 111 anos? Muito já foi escrito, mas muito há por escrever e cabe a cada cidadão contar um pouco de sua história e de como é percebidos os momentos fortes da vida coletiva. A história de uma cidade não é a somatória das histórias individuais, mas o relato dos fatos coletivos que nortearam e promoveram o desenvolvimento de seus habitantes. Suas manifestações significativas, seus posicionamentos e a reafirmação de seus valores. Novos agentes surgem a todo tempo, e cada novo tempo um momento novo e uma história nova para ser registrada e contada.

 

Fontes:

DORNAS FILHO, João. Itaúna: Contribuição para a história de Itaúna. Belo Horizonte: Edições João Calazans, 1936.

DORNAS FILHO, João. Efemérides Itaunenses. Belo Horizonte: Edições João Calazans, 1951.

FAGUNDES, Osório Martins. Fragmentos de um passado. Belo Horizonte: Minas Gráfica Editora, 1977.

NOGUEIRA, Guaracy de Castro. Itaúna em detalhes -  Enciclopédia ilustrada de Pesquisa. Itaúna: Jornal Folha do Povo, 2003.

SOUZA, Miguel Augusto Gonçalves de. História de Itaúna. Belo Horizonte: 2008. Vol. 1 e 2.