sexta-feira, 9 de agosto de 2013


MANIFESTAÇÕES, MÁSCARAS, MASCARADOS, BLACK BLOC, ETC E TAL.

O Gigante acordou, mas voltou a dormir?! Os protestos continuam, embora mais timidamente. Não podemos esquecer que alguns jovens continuam protestando, mas agora com um simbolismo um pouco mais focado e, ao mesmo tempo, um pouco mais incisivo, principalmente na questão da violência, na destruição de patrimônio público e privado (chamado por eles de símbolos do capitalismo). E então, acredito que este é um fato importante e que de certo modo cabe-nos algum tipo de reflexão sobre a entidade que comanda os jovens que, de rosto coberto, protestam contra… Contra o que, mesmo?

O fato é que um bando de mascarados cria uma imagem bastante simbólica. Forte, certamente sim, e que atrai o olhar de quem passa ao lado, não resta dúvida, mas que não atrai muita gente, não cria multidão de seguidores, e, por isso mesmo não expressa a “vontade popular”. Neste sentido, não representa aquele coro “vem pra rua, vem, você também” que funcionava como um catalisador e ia agregando milhares à multidão.

Desta forma este pequeno grupo, classificados por alguns de “baderneiros”, por outro de “vândalos”, se constitui como um grupo monolítico, hermético, quase impermeável. E os gritos, as ameaças, a coação, as estocadas, a covardia de quem tapa o rosto para ganhar coragem de enfrentar o que não consegue enfrentar de cara limpa é o que é mais evidente. Lembram-me um pouco, é claro com as devidas ressalvas e diferenças, a Ku Klux Klan vestida de preto. Uma KKK pós-modernista, onde o alvo principal, não é o negro ou o racismo exacerbado, mas o capitalismo. Mas do mesmo jeito não aceitam o diálogo, mas o “Destruir” é a chave de sua própria ação: Destruir os governos, as instituições, o capitalismo, a liberdade de imprensa, enfim o diálogo. E o que propõe? O que construir no lugar? Destruir por destruir?!

Esses homens – jovem na sua maioria – mascarados denominam-se, dentre outros grupos, de Black Bloc. E o que seria o Black Bloc? Olhando sobre este grupo na rede mundial de computadores, eles se definem não como um movimento, mas apenas como uma “estratégia”, e, como estratégia, não possuem um objetivo, quer apenas ser processo. Um meio sem um fim, sem um propósito. No entanto, há outras leituras possíveis sobre o Black Bloc. O filósofo e professor da Unicamp Marcos Nobre diz que "O black bloc' questiona a fronteira do que é legítimo, da violência como arma política e não como crime", destacando, no entanto, que há ainda um “parâmetros de performance", ligados à força da imagem durante as depredações.

Fazendo uma pesquisa no site “Observatório da Imprensa” encontrei uma artigo denominado “A origem dos homens de preto” de Sérgio da Motta Albuquerque. Este artigo relata a história deste grupo denominado de Black Bloc. Isso talvez possa ajudar você a tomar conhecimento do desenvolvimento das ações deste grupo. Ao ler este artigo percebe-se que os mascarados do Black Bloc é anterior ao surgimento da mídia eletrônica. Sendo assim não podemos colocá-los como filhos da mídia eletrônica, isso não quer dizer que não devemos deixar de reconhecer que a mídia eletrônica, de modo particular as “redes sociais” se constitui como um novo “front” para as batalhas de agora. E, por usar as rede sócias encontra no meio de uma juventude, que não quer pensar muito em propostas concretas, mas que apenas buscam um espaço para a manifestação, para “ir à luta”, mesmo que não seja por nada, por um motivo qualquer, e assim atende o clamor dos Black Bloc Brasil e saem por aí para “quebrar os símbolos do capitalismo” sem, no entanto, levar em consideração que utilizam de um dos símbolos mais recentes do capitalismo para se organizar – a internet.

Então investidos e vestidos dos símbolos do movimento Black Bloc -  roupas pretas, máscaras ou capuz a cobrir os rostos,- parecem inspirar-se nos grupos antiglobalizantes (embora utilizam-se da Rede global de comunicação denominada internet) presentes na Europa desde os anos 1980. Contradição, ou apenas mais uma característica de um grupo de jovens que não se preocupam em tomar posicionamentos críticos sobre sua própria ação?

Para encerrar relembro os ensinamentos dos filósofos iluminista do século XVIII, mais especificamente, os de Voltaire que disse que “posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”. Assim, defendo o direito de todos manifestarem suas ideias e suas insatisfações, mas eu, de modo particular, estou fora das manifestações do tipo Black Bloc. Faço isso de forma consciente, visto que não acredito em um movimento que quer ser apenas um meio, um processo e que não tem nada de concreto para oferecer, ou se os tem não estão claros. Não quero “amarrar a vaca para outro mamar.” Desejo aos estão nesta luta sorte na construção de seu projeto político, seja ele qual for, mas que tenha um projeto, uma proposta. Que suas escolhas sejam conscientes, assim como acredito que a minha o é. Espero que não deixem transformar suas mentes e seus cérebros em meras extensões ou HDs externos, ou espaços nas “nuvens” virtuais de ideias, também virtuais, de quem você não conhece e que também não conhece você, embora saibam que podem influenciar e contar com a sua energia a fim de colocar seus propósitos como a “ordem do dia”. Pense nisto antes de “ir pra rua”.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013


POR UMA ÉTICA HUMANISTA.


 

Acredito que todos acompanharam – uns mais, outros menos - os pronunciamentos do Papa Francisco durante o seu trabalho pastoral junto a Jornada Mundial da Juventude, ocorrida no Rio de Janeiro. Os seus discursos falam por si só e não carece de nenhum apêndice explicativo. A forma simples de sua comunicação, sua postura de estar sempre disponível, sua simplicidade, sua necessidade de estabelecer contato direto com o povo tornou-se, durante todo o período de sua visita, uma marca registrada. Mas a simplicidade de suas palavras não é, no entanto, ausência de profundidade. Algumas características dos pronunciamentos do Papa Francisco são a brevidade (pronunciamento curtos), a didática (geralmente dividida em três pontos chaves) e a verticalidade. Por isso estes pronunciamentos exigirão, de quem deseja conhecer seu pensamento, um debruçar atento.

Não farei nenhuma análise dos pronunciamentos do Papa Francisco aqui. Hoje meu objetivo é outro. O que quero aqui é pautar dois pontos que julgo importantes: a exclusividade da Globo News em conseguir a entrevista com o Papa Francisco e algumas falas do próprio Papa Francisco nesta exclusiva.

Quanto a questão da exclusiva concedida ao jornalista Gerson Camarotti, da Globo News coloca-nos numa situação de, no mínimo, desconfiança. Isso pelo histórico de parcialidade e de posicionamentos ideológicos da Rede Globo, e dentro desta rede se coloca a Globo News. Esta exclusividade é por si só questionável e nos faz pensar, ou suspeitar, de quais mecanismos teriam sido utilizados pela Globo News para conseguir tal exclusiva. Esta exclusiva teria sido um esforço pessoal do jornalista Gerson Camarotti? Houve “lobby” (influência ou outros mecanismos) para se obter tal exclusiva? Por que a Globo News? Que setores da Igreja teria interesses neste alinhamento com a Globo News? Estas questões eu não consigo responder. E acredito que as respostas não são simples e nem únicas, e que talvez sejam até inconvenientes. Mas isso não tira o mérito do que fora apresentado nesta exclusiva.

Vamos agora ao segundo ponto deste texto: alguns detalhes do que diz o Papa Francisco neste exclusiva. Sobre a questão da segurança ele diz ser indiciplinado, mas afirma que “não tenho medo. Sou inconsciente, não tenho medo. Sei que ninguém morre de véspera. Quando for minha vez, o que Deus permitir, assim será.”. E continua explicando o porque fez tirar do papamóvel os vidros laterais “se você vai estar com alguém a quem ama, amigos, e quer se comunicar você não vai fazer essa visita dentro de uma caixa de vidro?” e ainda “se venho visitar gente, e quero tratá-las como gente. Tocando-as.  Quanto aos problemas que cercam a Cúria Romana, ele afirma que “há muitos santos” e há outros que “agem mal” e que “Faz mais barulho uma árvore que cai do que um bosque que cresce”. Diz que há um clamor por reformas na Cúria Romana e que para tanto já foi nomeado uma comissão composta de oito cardeais, que deve ouvir e colher sugestões através de Conferências Episcopais e que estas sugestões estão serão analisadas em uma primeira reunião prevista para os dias 1, 2 e 3 de outubro de onde sairá uma pauta para as reformas, que “são sérias” e “precisam ser amadurecidas” e conclui que a “Igreja sempre precisa ser reformada”, afinal a “Igreja é dinâmica” e o que servia para o século passado não serve para o tempo de agora.

Quando arguido sobre a sua simplicidade o papa separa os dois aspectos apresentados pelo repórter. Quanto ao uso de veículos simples o Papa confirmou a necessidade de se ter um veículo para a realização dos trabalhos da Igreja, mas isso não significa que tenha que ser um carro luxuoso. Quanto a sua escolha em morar na Casa Santa Marta e não no Apartamento Papal, diz o Papa que “não foi tanto por uma questão de simplicidade... mas tem a ver com o meu modo de ser. Eu não posso viver só. Não posso viver fechado. Preciso de contato com as pessoas”. Além disso, afirma que agora a Igreja exige uma “vida mais simples, mais pobre”.

Outro ponto apresentado ao papa foi a questão da perca de fiéis católicos para outras denominações religiosas. O Papa Francisco disse que não conhece as causas, nem os números, e que embora não “saberia explicar” as causas deste fenômeno, tem como hipótese o distanciamento existente entre a Igreja (a hierarquia) e os fiéis. E assim diz “Para mim é fundamental a proximidade da Igreja. Porque a Igreja é mãe, e nem você nem eu conhecemos uma mãe por correspondência. A mãe dá carinho, toca, beija, ama. Quando a Igreja, ocupada com mil coisas, se descuida dessa proximidade, e só se comunica com documentos é como uma mãe que se comunica com o seu filho por carta. (…) Esta falta de proximidade, de sacerdotes. (…) ou seja a falta de proximidade” e conclui: “A mãe faz assim com o filho: cuida, beija, acaricia e o alimenta. Não por correspondência. Proximidade. Eu quero uma Igreja próxima.”

Quanto aos protestos dos jovens no Brasil, o Papa Francisco diz “não conheço os motivos dos protestos dos jovens.” e não seria prudente pronunciar sobre este assunto, mas havia um ponto que merece destaque “um jovem que não protesta não me agrada. Porque o jovem tem a ilusão da utopia, e a utopia não é sempre negativa. A utopia é um respirar e olhar adiante. O jovem é mais espontâneo, não tem tanta experiência de vida, é verdade. Mas a experiência nos freia. Ele tem mais energia para defender suas ideais. O jovem é essencialmente um inconformista. Isso é muito lindo! Isso é algo comum a todos os jovens. Então eu diria, de uma forma geral, que é preciso ouvir os jovens, dar-lhes meios de se expressar e cuidar para que não sejam manipulados.(…) Há pessoas que buscam a exploração de jovens. Manipulando essa ilusão, esse inconformismo que existe. E depois arruínam a vida desses jovens.”.E destaca que sempre diz aos embaixadores que vão a Roma que “O mundo atual, em que vivemos tinha caído na feroz idolatria do dinheiro. E que já uma política mundial muito impregnada pelo protagonismo do dinheiro. Quem manda hoje é o dinheiro. Isso significa uma política mundial economicista, sem qualquer controle ético, um economicismo autossuficiente e que vai arrumando os grupos sociais de acordo com essa conveniência.(…)Quando reina no mundo a feroz idolatria do dinheiro, se concentra muito no centro. E as pontas da sociedade, os extremos são mal atendidos, não são cuidados e são descartados. Até agora vimos claro, como se descartam os idosos. Há toda uma filosofia para descartar os idosos. Não servem. Não produzem. Os jovens também não produzem muito. É uma carga que precisa ser formada. O que estamos vendo agora e a outra ponta, a dos jovens, está em vias de ser descartada. O alto percentual de desemprego entre os jovens na Europa é alarmante.(…) Então para sustentar este modelo político mundial estamos descartando os extremos. (…) Descartando ambos, o mundo desabava.”  E conclui que “Falta uma ética humanista em todo o mundo.(…) Hoje, há crianças que não tem o que comer no mundo. Crianças que morrem de fome, de desnutrição,(…) Há doentes que não têm acesso a tratamento. Há homens e mulheres que são mendigos de rua e morrem de frio no inverno. Há crianças que não tem educação. Nada disso é notícia. Mas quando as bolsas de algumas capitais caem 3 ou 4 pontos, isso é tratado como uma grande catástrofe mundial. Esse é o drama desse humanismo desumano que estamos vivendo.”

E por fim, quanto ao tema do ecumenismo, do diálogo com outras religiões e crenças a resposta do Papa Francisco foi de abertura. “Creio que é preciso estimular uma cultura do encontro, em todo o mundo.(…) Cada religião tem suas crenças. Mas, dentro dos valores de sua própria fé, trabalhar pelo próximo. E nos encontrarmos todos para trabalhar pelos outros. (…) Temos que chegar a um acordo (…) Hoje a urgência é de tal ordem que não podemos brigar entre nós, à custa do sofrimento alheio. Primeiro trabalhar pelo próximo, depois conversar entre nós, com muita grandeza, levando em conta a fé de cada um, buscando nos entendermos. Mas, sobretudo hoje em dia urge a proximidade. Sair de si mesmo para solucionar os tremendos problemas mundiais que existem. Creio que as religiões, as diversas religiões, não podem dormir tranquilas enquanto exista uma única criança que morra de fome, ou sem educação. Um só jovem ou idoso sem atendimento médico. (…) Não vai adiantar nada falar de teologias se não tivermos a proximidade de sair para ajudar e acolher o próximo, sobretudo neste mundo em que se cai tanto da torre (referindo-se à torre de Babel e aos abandonados deste mundo) e ninguém diz nada”.

Assim as palavras do Papa Francisco nos apontam alguns caminhos importantes neste momento de profundas de mudanças e reinvidicações, não só no Brasil, nas no mundo. Talvez a “ética humanista”, apontada pelo Papa, possa ser um farol a nos indicar um caminho, independente de sua crença religiosa. Tomara que esta mensagem se transforme em realidade, não só no seio da Igreja Católica, mas que seja uma luta de todos.