segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

CARÊNCIA




Tenho o hábito de cultivar amigos.
Não por vício, mas por necessidade.

E eles?
Eles continuam livres...

Eu também.
Mas sempre
em boas companhias!!!



domingo, 29 de dezembro de 2019

Sábado

Acordei cedo. Não planejei meu dia e não tinha nada programado por ninguém. Estava livre. Fiz minha higienização corriqueira. Fui em seguida para a cozinha preparar o desejum. Nesse meio tempo minha esposa despertou. E enquanto se arrumava, eu continuava no preparo corriqueiro da manhã, sem nada planejar...

Ela, então, pareceu-me com um tênis vermelho e uma meia velha em suas mãos, já vestida com roupa apropriada para uma caminhada. Olhou para mim e disse:

- Vou fazer uma caminhada, quer ir junto?

Não respondi. Continuei a faina na cozinha. Ao terminar, já com o aroma gostoso do café no ar, sentamos à mesa e fizemos o desjejum silenciosamente. Não que não tínhamos nada para dizer um ao outro... mas as palavras não ganharam forma. Terminado o meu desejum antes dela, levantei-me e voltei ao meu quarto. Calcei o tênis velho, uma meia um pouco mai velha e fui até à cozinha.

Minha esposa continuava em seu desjejum. E então perguntei-lhe:

- Por onde vamos? e ela

- Isso não importa muito, mas vamos juntos!...

Então, saímos!

Nossa filha ficou dormindo em seu quarto... 

Caminhamos por aproximadamente uma hora. Andamos talvez de 10 a 15 km. Foi muito bom!.

Ao retornar, depois de um período de descanso. Um banho. Eu e minha esposa ficamos ali abraçados por um longo tempo. Nossa filha ainda dormia.

Fui pra sala, deitei-me no sofá e liguei a TV. E ali permaneci o resto do dia. Não tinha ânimo para mais nada. 

Confesso que em alguns momentos o sono apareceu e sem me culpar cochilei. Não era dormir de verdade, mas uma cochilo preguiçoso, descompromissado, onde imagens da TV se intercalavam com o divagar da memória durante a sonolência.

E aí foi o dia todo. Vivido assim, inutilmente. Não me culpei de nada. Afinal não havia nada planejado e deixei-me levar...

Não havia apetite. Desejo. Sonho. Obrigação. Havia eu, meu corpo, e nada mais. Sentia pequenos incômodos pela posição no sofá. Desconfortos suportáveis.

Depois de muito tempo, minha filha se aproximou e...

- Pai. Hoje é sábado. O último sábado do ano. Vamos sair? Fazer algo? Comer alguma coisa? Sei lá. Ver um filme? 
Eu, ainda sonolento, respondi de modo a deixar claro que continuaria como estava...

- Tem sorvete na geladeira. Faça o que você quiser. Quer assistir algo? Eu te acompanho...

Minha filha preparou algo para ela na cozinha e retornou à sala. Selecionou um filme em um canal por assinatura e assistimos. Ficou perto de mim o tempo todo. De tempos em tempos tirava os olhos da TV e olhava para ela... Via-lhe de perfil. Está linda! Mas nada dizia, tinha medo de perder o encanto. E assim continuamos...

Terminou o filme. Deu-me um beijo e disse:

- Boa noite! Foi muito bom ter sua companhia.

Olhei para ela e apenas esbocei um sorriso em paz!




sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

subversão


Os grandes homens 
tornaram-se grandes
sobre os ombros 
daqueles
considerados
pequenos.

O dia em 
que esses
tomarem 
consciência
de sua força
os grandes
cairão.

E os pequenos
continuarão
de pé.

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Pequenos e Intensos

    No ano de 2015, produzi uma coleção de Poetrix. Mas o que são  Poetrix? São pequenos poemas, que deverão ter no máximo 32 sílabas poéticas, contendo um título. Em outras palavras são como se fosse haicai, à brasileira. 

    E para se produzir Poetrix é preciso ter técnica, inspiração e ser muito objetivo. Ir direto ao ponto sem perder o poético. O que as vezes torna difícil... complexo e ... perigoso.

    Tem que "dizer o que se quer" com poucas palavras e ainda possibilitar o "mistério" interpretativo do leitor.  "Dizer o que se quer" não significa dizer tudo, nem mesmo "dizer de maneira clara e objetiva". Veja, objetiva deve ser a forma do poema e não a poesia
   
    A poesia tem que ir além do poema. A poesia transcende... faz "voar fora da asa" (Manoel de Barros).  Nisso consiste a intensidade dos pequenos poemas. 

    Paulo Leminski e Yeda Prates Bernis foram meus mestres sem saberem... 

   Leminski com seu "Incenso fosse música", publicado em "Distraídos venceremos", assim disse

Isso de querer 
ser exatamente aquilo 
que a gente é 
ainda vai 
nos levar além
e dele aprendi a não temer de ser aquilo que teimo ser.

   Yeda Prates, por sua vez, com sua "Alquimia" ao dizer desta forma
Enterrei meu canarinho
junto à roseira.
Agora, a primeira rosa
vai amanhecer cantando.

permitiu o encantamento da poesia além do poema.

   Não sei se consigo dizer coisas da mesma forma, embora é nisso que consiste a magia, encontrar a minha forma de dizer, onde a forma não limite a poesia.  

   Mas tudo mesmo, começou em uma sala de aula, na educação primária, quando a professora, olhando para mim disse: escreva o que vê com os olhos fechados e diga de forma indizível, isto é poesia. Desde então, venho buscando encontrar esta magia: como fazer a poesia transcender o poema; como usar palavras para dizer o indizível.

 Semente
Um dia serei plantado nesta terra
E farei germinar um pé de ipê 
Não importa a cor...





A "Valsa de Pássaros" de Gabriel Rocha.
Phonteboa

Foto do site do músico: gabrielrocha.mus.br
   Este fim de ano tive a grata surpresa de conhecer um pouco do trabalho de Gabriel Rocha - que aliás não conheço pessoalmente. Recebi de minha amiga e colega de Academia, Malluh Praxedes - por pura sorte, diga-se de passagem, afinal foi por meio de um sorteio, o disco deste jovem músico. 

   Produzido e arranjado por Robertinho Brant traz canções para você escutar na penumbra de seu quarto, ou esticado em uma rede, ou ainda na companhia da pessoa amada. 

   Constituído de canções muito bem "arranjadas" e com uma poesia linda, nos faz ir além da "Valsa dos pássaros", isto é, faz-nos voar em suas asas, sob  "(n)O Céu de Paris", onde se possa colocar "O amor em cena". Amor pouco correspondido, ou talvez não compreendido, que deixa "o peito voar feito balão" de "La Nave va", sob os "Agouros" de uma cartomante de Cuba. 

   Quando, enfim, retorno a mim, vivo intensamente uma canção de ninar para o "Acalanto pra Cora", relembro o "Era uma vez no Horizonte", refaço uma "Vinheta" e promovo uma "Contradança" na companhia da "Flor do Samba", esta morena "embaixatriz da poeira" que "faz de meu peito seu tamborim". E assim encantado fico com os sons arranjados, desta nova geração de músicos que se encontram em outras "esquinas" desta terras de Minas.

   Este mineiro de Belo Horizonte faz por merecer, afinal qualidade musical é pra poucos. Aprendo a cada dia apreciar a qualidade que vem por estes sons das "esquinas" de Minas.

   Quer conhecer um pouco mais sobre este músico e ainda poder dançar com as "Valsas dos Pássaros" sugiro acessar https://www.gabrielrocha.mus.br/musicas. Prepare, você vai se surpreender, mas permita-se encantar.


   Obrigado pelo presente Malluh!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

O que faz um texto ser poesia

Phonteboa

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Fotografia: Adilson Nogueira - Rio São João em Itaúna, MG.

Um texto é sempre um texto. Uma disposição de palavras carregadas de sentido uma ao lado da outra que vai expressando o pensamento do escritor. Sua intencionalidade, às vezes de forma intensa ou não. A forma como você dispõem estas palavras, como as "alinhavam" vai configurando como este texto será classificado e analisado pelos leitores. Este formato define o estilo literário do texto e, então, torna-se classificado como crônica, como conto, como narrativa, artigo de opinião e, até mesmo, um poema. 

Em última análise tudo é texto, só e tão somente só. Mas convenhamos, há textos que o escritor consegue dispor as palavras de tal jeito que os "sons" que eles emitem parecem ter vida própria. A disposição do sons das palavras, alinhada com outros sons de outras palavras vão compondo a melodia do texto. Estes "sons", às vezes, em sua maior parte é tão maravilhoso que muda o sentido das próprias palavras utilizadas em sua composição, e então, chegamos a esquecer que estamos lendo um texto. 

A poesia, de modo mais específico - por suas características próprias que é o de revelar e ocultar, dizer e não dizer, indicar e indiciar, promover e revolver à curva da obscuridade - é geralmente o texto que mais deixa de ser texto. Porém não é a sua disposição em versos e estrofes, em ritmo e rima que faz o poema ser poesia. Explico.

Uma poesia ultrapassa a forma de poema. A poesia é poesia pela forma como o autor encadeou os sons de modo a dar às palavras novos significados, de forma a dizer coisas de maneira única ou até então não pensada. O poeta, consegue, na forma, no ritmo e na rima - mesmos as mais dissonantes possíveis - atingir o impossível, sair do lugar comum e propor algo completamente inusitado. E para fazer isto o poeta se especializa em utilizar a metáfora. 

Eis aí o segredo: a metáfora. O que faz o poema ser poesia é o domínio da metáfora por parte do poeta - ou seria o contrário: o domínio do poeta pela metáfora... Poesia não é para qualquer um! Poesia são para os de alma livre que se deixa embeber pelas metáforas, ora simples, ora complexas e mágicas. Sim as metáforas dão alma aos poemas e os transformam em poesia. As metáforas podem ir além e ultrapassar a forma do poema e transformar uma narrativa, um conto, uma crônica em poesia. 

Comece a observar como os poetas utilizam-se das metáforas e verás quanta poesia está presente nos textos que escrevemos. Mas não se assuste! Você encontrará inúmeros textos dispostos em formato de poemas que não são poesias... são apenas textos. 

O poesia é o inusitado do poema. Se preferir utilizemos conceito de poesia do grande poeta Manoel de Barros...

"Poesia é voar fora da asa".





Produzo literatura?

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Foto do grande poeta da imagem: Adilson Nogueira... Suas fotografias provocam em mim as mesmas emoções dos grandes poetas e dos textos dos grandes escritores.


Têm coisas que são assim...

Outro dia um conhecido mandou-me uma mensagem dizendo assim:

"Oi, tenho um blog dedicado à literatura. Ele tem boa aceitação. Caso queira poderá publicar seus textos nele. Isto é, se o que você produz for literatura."

Desde este dia fiquei em dúvida se o que eu produzo é ou não literatura.

Mas o que é "produzir literatura"?

Eu até hoje ainda não sei... e talvez passarei a vida toda sem saber...

No entanto, escrevo meus versos... alguns desses versos, quando depois de um tempo os leio fico pensando se foi eu mesmo quem os escreveram. Teria eu a capacidade de talhar estes versos desse jeito?!!! Fico surpreendido. Encantado.

Nesses momento penso que fiz literatura.

Mas também tem aqueles versos que fiz, talhei, joguei ao vento, coloquei impressos em páginas, recebi prêmios por tê-los escritos. E aí, depois de algum tempo releio-os e nada. Nada acontece! Não há encantamento, não traz emoção... fico pensando que não é literatura....

Mas será que só há literatura quando emoções, em mim,  são provocadas?

Que diabo é isso que eles chamam de literatura?!!!!

É melhor deixar mão disso, desses padrões. Vou escrevendo o que sinto, como vejo o mundo, como gostaria que o mundo fosse, expressando meus desejos, dizendo das coisas da forma que as percebo... se for literatura: ótimo. Se não: ótimo.

Ah, mas gosto muito de ler Manoel de Barros, Guimarães Rosa, Mia Couto, Aden Leonardo, Jonas Vieira, José Roberto Pereira, Terezinha Pereira, Carmélia Cândida e agora estou saboreando, pela terceira vez, Malluh Praxedes, eu que vive um tempo encantado com Conceição Evaristo e Ana Luíza Freitas...

Não sei se o que eles fazem é literatura... acho que são autores que nunca se preocuparam com isso... eu não sei se tenho que me preocupar com isso... já ficaria satisfeito se fosse lido por eles também...

Acho que Manoel de Barros e Guimarães Rosa não irão ler meus versos... os outros, talvez!

Mas também... se não lerem... espero que se encantem com outros versos, de outros poetas... é o que importa, não é?