terça-feira, 24 de junho de 2014

“Pensamentos inúteis” e o Sistema – (Parte I)
Geraldo Phonteboa
Com o advento da tecnologia da informação (softwares e hardwares ou no popular programas e computadores) e suas aplicações práticas em todas as nossas instituições a vida tornou-se mais prática, dinâmica, e, até certo ponto, mais fácil de ser controlada e manipulada. Os procedimentos são elaborados em sistemas de informação e visam evitar determinadas manobras ou diversidades de opções. Ao mesmo tempo que tornam as atividades mais eficazes, também controlam e cerceiam determinadas liberdades humanas. Embora possamos utilizar desses sistemas para organizar movimentos em defesa das liberdades humanas.
Não há como negar que a eficiência nos procedimentos vem garantindo a qualidade nos sistemas produtivos, e tem contribuído para o desenvolvimento de novos procedimentos e melhorias técnicas e produtivas, que de algum modo, repercute positivamente nos lucros das instituições. Devemos considerar que “lucros” aqui devem ser entendidos em sentido amplo, não somente financeiro, mas também em economia de tempo, retrabalho, assertividade, garantias de qualidade e eficácia.
No entanto, todas estas vantagens derivadas do desenvolvimento desses sistemas de informações tem um “custo” – que também devem ser compreendido em sentido amplo, isso é, custo não se refere somente aos custos financeiros, mas também referem-se a mudanças de comportamentos, atitudes, novos aprendizados, adequações de procedimentos visando atender as demandas geradas pela implantação de inúmeros sistemas.
Considerando todos os “custos” e os “lucros” (em sentido amplo) podemos com certeza afirmar que os “lucros” são compensadores e, em muitos aspectos, justificam os “custos”, embora sejam difíceis de serem calculados e para tanto se medem a partir da percepção sensorial cotidiana. Consideremos também, que todos os seguimentos (produtivos, culturais, educacionais, profissionais e religiosos) podem ser atendidos pela elaboração e instalação de sistemas, e não somente nas instituições produtivas (empresas), mas também nas instituições financeiras, comerciais, de saúde, associações e educacionais. Isso significa que os sistemas de informação podem ser aplicados com eficiência e eficácia em todos os seguimentos da vida humana.
O que ocorre, no entanto, é que o princípio da racionalização para a elaboração dos sistemas não se limita unicamente à montagem de softwares (programas de computadores). Este princípio está associado a outras mudanças e racionalidades que, de alguma forma, normatizam a vida das pessoas dentro das instituições (sejam elas produtivas, econômicas, educacionais, religiosas, de saúde, etc). E esta normatização podem atingir graus de controle tão exagerados que tornam os relacionamentos das pessoas dentro das instituições extremamente desumanos. As pessoas passam a viver em função de cumprir os prazos e as tarefas determinadas pelo sistema, sem considerar as particularidades e as necessidades geradas pelos relacionamentos humanos, ou em detrimento dos relacionamentos. E o que deveria ser prazeroso, ou um lugar de realização humana pela atividade humana passa a ser um lugar de se cumprir normas ditadas por um sistema impessoal, distante, desumanizado. E então, os indivíduos passam a viver para um sistema, que não se sabe qual, nem onde está e que provavelmente tem um nome genérico de … “sistema”, que deve ser alimentado, e há indivíduo que, de tão acostumado com o “sistema” acredita que esta é uma realidade “normal” e “natural” e que, portanto, “louco” e “inconformado” é que “resiste” a obedecer este “sistema”. Então o “sistema” paira sobre os indivíduos e estes se tornam meros servidores do sistema, completamente envolvidos no processo de seguir as regras e prazos determinados pelo “sistema” e subsistemas que passam a constituir uma rede que geram uma nova realidade chamada de “virtual”, que dia a dia, ocupa a vida das pessoas – é a Matrix que se instala... e então aparece as expressões para manter os questionadores ou resistentes dentro desta “nova realidade” da “Matrix”:  “mas é o sistema...” ou “o sistema não permite...” ou “isso não é previsto pelo sistema...então, não deve ser permitido”, ou melhor “isso não é aceito pelo sistema...” e assim vão conformando todos ao “sistema” e vão excluindo os demais (aqueles que tentam resistir e lutar para não ser engolidos pelo sistema) é o “limo sistêmico” ou o “purgatório da Matrix” em um paraíso virtual...

Então cabe-nos aqui algumas perguntas (talvez a única coisa que os sistema ainda não conseguiram fazer sozinho): Caro leitor e eleitor, quem elabora tais sistemas? São os profissionais em sistemas de informações ou os que definem metas (políticos, empresários, diretores, assessores, gerentes, pedagogos, e tantos outros funcionários) para as instituições? E como tem sido sua vida dentro desses sistemas? Tem conseguido – sem adoecer – atender as condições impostas por esses sistemas? Esses sistemas que cercam sua existência têm permitido uma certa margem de manobra, de espontaneidade, de criatividade, que você possa ainda se sentir “pessoa”? Esses “sistemas” (que você não fala com ele e nem ele com você) tem possibilitado melhoria na qualidade de vida (humanização) dentro de sua instituição (produtivas, familiar, cultural, religiosa, saúde, educacional, financeiras, etc...)? É possível viver melhor apesar dos sistemas... (ou “viver melhor” é apenas mais uma face de algum outro sistema!...)? Ainda é possível ser um indivíduo de “desejo” que busca no ambiente de trabalho um lugar de se realizar profissionalmente, além de produzir e realizar atividades “lucrativas”? Ou as instituições não são lugar de realização profissional, visto que agora é o lugar da “matrix revolution”?! Ou tudo isso seria apenas uma fantasia da cabeça deste “filósofo” frustrado e deprimido (portanto, doente) em seu relacionamento com alguns desses “sistemas”?! Talvez, tudo isso, seja apenas uma possível brincadeira de “pensar coisas inúteis…” dentro da Matrix.

Um comentário:

  1. Bela reflexão, Phonte!
    :-)

    Essa condição do escravagismo mental proporcionado pela Matrix cai muito bem com a pueril sensação de comodidade que nos esconde atrás de nossos inventos, envergonhados de assumirmos a hipocrisia resultante do esvaziamento das liberdades individuais e da própria emancipação como espinha dorsal de nossas vidas e não um "favor" minguado com o tempo.

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