quarta-feira, 25 de novembro de 2015

"Vossa Excelência" é um terrorista.



Fonte: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/rompimento-liberou-62-milhoes-de-m2-de-rejeitos-diz-samarco
O tema deste texto pode parecer um pouco catastrófico. Falar de terrorismo em época de terrorismo é chover no molhado, só faz estrago! Mas estamos realmente vivendo momentos únicos de nossa história. Depois do 11 de setembro de 2001 (quando as torres gêmeas foram atacadas – esqueceram das torres gêmeas de Brasília) o termo “terrorismo” ganhou novos contornos e significados. Provavelmente este termo poderá ganhar novas dimensões se aplicado ao que ocorreu no chamado “desastre natural” de Mariana. Se é que podemos chamar o ocorrido em Mariana de “desastre natural”... soa estranho, e de natural aquilo não tem nada, visto que o que aconteceu não foi natural, foi o rompimento de uma barragem não natural.
Sendo assim, toda e qualquer barragem, caso rompa, jamais poderia ser considerado “desastre natural”, visto que estas barragens não são naturais, e se não naturais, foram construídas por alguém, ou alguma empresa, que ao construí-las já está subtendida responsabilidade pelas mesmas. Estou utilizando o termo “desastre natural”, pois é o termo utilizado no Decreto nº 8.572, de 13 de novembro de 2015, da Presidência da República, que modifica a redação do decreto nº 5.113/2004, que regulamenta o uso do FGTS, facilitando que a população atingida pelo “mar de lama” possa resgatar o seu FGTS para uso emergencial.
Ora, ora, outra ingerência, outro “mar de lama”. Aparentemente esta mudança no decreto 5.113/2004 beneficia os habitantes de Bento Rodrigues (Mariana), visto que estes poderão sacar o seu Fundo de Garantia para ajudar neste momento difícil. Aparentemente, porque o governo com a publicação deste decreto, considera, como justificativa, o desastre de Mariana, como “Desastre Natural” algo que não o é. Trata-se de um “Desastre artificial”, onde os construtores de tais barragens, ao fazê-las assumiu o risco de algo acontecer com elas. Assim sendo, não se pode tratar o ocorrido como desastre “Natural”. Além disso, esta autorização para utilização dos recursos do FGTS pelo trabalhador, que aparentemente beneficia o trabalhador, penaliza-o a médio e longo prazo, pois estes recursos não deveriam sair da conta das vítimas do desastre, mas sim das contas da empresa responsável pelo desastre.
Deveria, o Governo, ter mecanismos de rapidamente retirar recursos emergenciais das contas dos empresários, para indenização imediata dos trabalhadores. Como o Governo, está de “rabo preso” com os empresários da Samarco (Vale e BHP), pois estas financiaram as campanhas dos políticos que atualmente ocupa o Governo, este fica constrangido de poder assim agir. Ora, ora, os moradores que foram vítimas das lamas da Samarco, são também vítimas de uma nova avalanche de lama de uma política ruim e inconsequente do Governo. O dinheiro do FGTS não é dinheiro do Governo, nem é dinheiro do empresário, é dinheiro da Vítima, e ao “facilitar” o acesso a estes recursos, o governo está transferindo para as vítimas a obrigação de pagar as contas de um desastre de que eles foram vítimas. Além de criar uma “brecha” jurídica para ser usadas pelos advogados das empresas que poderão utilizar-se dos termos “desastre natural” afirmado pelo próprio Governo, para inocentar os empresários negligentes da Samarco.
Não se trata aqui de condenar publicamente a empresa Samarco, ela já se condenou ao afirmar que não sabe ainda as causas do rompimento da barragem do Fundão, e ainda ao anunciar que as barragens de Santarém e de Germano correm sério risco de se romperem. A própria tragédia do rompimento já condena publicamente a incompetência e a irresponsabilidade da Samarco.
É claro que a tragédia de Mariana já é em si um terror. Mas terror pior é o silogismo político, onde o Governo, no aparente movimento de querer mostrar serviço, simplesmente liberam os recursos das vítimas para pagar as contas geradas pelos empresários. Não se compromete, enquanto Governo, enquanto autoridade constituída, perante aos empresários responsáveis por tal tragédia. Um silogismo político, que protege o grande e utiliza dos pequenos para se omitir.
E viva a ignorância de muitos que acreditam que terrorismo é apenas os atentados ocorridos na França ou nas grandes potências mundiais. Terrorismo são tantos e ocorrem costumeiramente em nosso país, que os brasileiros já estão tão acostumados, pois os atos de terror praticados pelo Governo Brasileiro já são tantos e diários – falta de recursos para o SUS, escolas de péssima qualidade, alta índice de impostos e péssima prestação de serviços, alto índice de violência e baixíssima segurança pública – que os brasileiros não conseguem perceber que estamos sendo governados  por um bando de terroristas de “colarinho branco” e “vestidos de gala” e que fazem questão de serem tratados de “Vossa Excelência”.
Desculpem-me, mas “Vossa Excelência” é um terrorista!

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA IGNORÂNCIA




Esta semana recebi, cinco vezes, através das redes sociais, um texto do caderno “Opinião” do jornal El País, produzido pela escritora, repórter e documentarista Eliane Brum. O texto, cujo título é “Parabéns, atingimos a burrice máxima”, apresenta duras críticas às autoridades (promotores de justiça, vereadores e deputados) que repudiaram publicamente a escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir, utilizando para isso os próprios cargos que ocupam. Todos estes ataques deferido contra, a já falecida, Simone de Beauvoir foi motivado por um verbete retirado de seu livro, O Segundo Sexo, e que apareceu na edição do último ENEM.
O verbete, “Uma mulher não nasce mulher, torna-se mulher”, acendeu a ira de determinado grupo de brasileiros que se encontram em “pé de guerra” contra a chamada “ideologia de gênero”. Numa situação como esta qualquer coisa que é dita e que insinua uma aparente posição contrária, tanto de um lado como do outro, é suficiente para, segundo a autora da coluna “Opinião” de El Pais “os burros levantarem as orelhas e relincharem sua ignorância”. Como se não bastasse a crise econômica, a crise moral e política pelo qual estamos atravessando, temos ainda que conviver e nos envergonhar com tamanha falta de cultura e despreparo de nossas autoridades.
Todos nós sabemos que uma frase ou verbete, seja de um texto científico, de uma crônica, de uma poesia, ou até mesmo da Bíblia, quando colocada em separado, fora de seu contexto, é extremamente perigoso e controverso. Todos nós sabemos que isso ocorre constantemente e é prática corriqueira em cultos religiosos, em palestras motivacionais e tantas outras oportunidades... Já estamos acostumados em ouvir aulas e palestras, discursos e sermões que tão somente tematizam frases soltas. Tão mais perigoso é subtrair verbetes de uma obra filosófica, cujo tema está na base de um determinado pensamento sistêmico ou de uma teoria filosófica. No caso específico da obra “O Segundo Sexo” cuja reflexão filosófica é a valorização da mulher, do feminino, diante de uma sociedade machista da década de 1950, subtrair desta obra e deste contexto e dizê-la em um contexto onde os direitos dos homossexuais, lésbicas e transexuais estão na pauta do dia, não é só descontextualizar o verbete, mas é incitar e provocar reações adversas, ainda mais em um sociedade onde o acesso à leitura e a uma educação de qualidade é, nas palavras de Eliane Brum, uma “flatulência”, torna-se potencialmente explosiva.
Assim, a reação das autoridades despreparadas – que não possuem projetos políticos sérios, vazias de conteúdo, de conhecimento, que não tem o hábito de leitura e reflexão –, tendem a se revelarem com muita facilidade.  Provavelmente pouquíssimos desses “doutores” ou “Vossas Excelências” (como gostam de se autodeterminarem – todas “autoridades” constituídas) jamais tenha lido por inteiro a obra onde se encontra tal verbete. Disso o que se pode esperar é uma avalanche de opiniões sem fundamentos e de pré-julgamentos que, além de condenar injustamente qualquer escritor/autor sem o direito de se defender, demonstra uma total ignorância referente a determinados assuntos. E o resultado é a criação de uma situação caótica e deplorável, carregada de xenofobismo e preconceitos, que no caso da produção literária, científica e filosófica distorce, por completo, o sentido e contribui para o ostracismo teórico, eliminando o debate, o desenvolvimento intelectual e cultural.
Em outras palavras, diante desta ignorância oficial a gente fica sem palavras. Por isso reescrevo aqui uma das questões levantados por Elaine Brum em seu texto e que é de fundamental importância:
“Como dimensionar a gravidade de um vereador eleito, pago com dinheiro público para legislar e, portanto, para decidir destinos coletivos, dizer que a escolha da frase de Simone de Beauvoir para uma prova do ENEM é algo “demoníaco”, como afirmou Campos Filho (DEM)? E como enfrentá-la com a seriedade necessária?”
Não saber como enfrentar esta situação já é, em si, uma posição ruim, mas não possuir um sistema educacional que permita uma mudança de mentalidade a médio prazo é ainda pior. E então, a real constatação da autora ao afirmar que “Os burros estão por toda parte e muitos deles estudaram nas melhores escolas e, o pior, muitos ensinam nas melhores escolas” torna a situação sistêmica e preocupante: é a institucionalização da ignorância. Parece-me que estamos sem saída. Estamos imersos em uma realidade em que o que é errado é valor; que ser esperto é sinônimo de habilidade moral e intelectual e que o “jeitinho” é virtude. Diante deste “mar de lama” (não aquela que saiu de uma barragem de irresponsáveis, mas aquelas que saem de nossas câmara, assembleias, congresso, palácios e tribunais) é que conduz o nosso futuro cada vez mais sombrio.
Rever todos os debates filosóficos, textos e mais textos estudados por longos anos... e, então, reorganizar ideias, na medida do razoável, para nos reposicionar diante destas intolerâncias e ignorâncias; é um exercício que me convém e a única coisa que parece-me possível e o mais certo a se fazer. Tal prática exige tempo, e, enquanto isso, nossas “autoridades” despreparadas e carentes de ideias e projetos, continuarão a abrir suas latrinas, provocando constrangimentos e nos envergonhando enquanto nação.
O que nos resta é o pensamento; pensar é a única forma de enfrentar a burrice instituída e instalada em nosso país.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

"DENTE DE LEÃO"


Tudo que nos propomos fazer, não raras vezes, temos que enfrentar situações em que exige de nós firmeza, enfrentamento sério e ainda argumentos que fundamentam nossas propostas. Isso é ainda mais comum se o que propomos fazer tem caráter público ou se ocupa de um determinado seguimento público-social.
Sempre estaremos expostos à críticas, algumas com seriedade e fundamento e outras descabidas e mesquinhas. Isso porque parece que existem pessoas que vivem somente para “questionar” ou opinar sobre os que os outros fazem. Quando as críticas têm fundamento, ou são procedentes, nos ajudam a amadurecer ideias e nos fazem crescer. Mas quando estas críticas carecem de fundamento e se fecham em si mesmas, como se esses críticos fossem donos de uma pretensa verdade aí, então, cai no vazio, fecham para o diálogo e, geralmente, vira chateação e torna-se expressão de quanto nossa sociedade está refratária ao sucesso e ao crescimento das pessoas.
Quando estas críticas são publicadas em jornais de circulação local, ou mesmo em redes sociais, e a pessoa não se identifica, a situação torna-se desprezível e não colabora para o crescimento próprio nem da sociedade. Qualquer publicação, seja em qualquer veículo de comunicação, jamais deveria ser anônima, e jornalista nenhum deveria, por questões éticas, permitir que se publique em seu jornal, ou coluna de seu jornal, opiniões sobre o trabalho dos outros sem se autodeclarar ou se identificar. Isso é covardia e merece o nosso repúdio e desprezo.
Para ilustrar o que estou a dizer, vou descrever o que aconteceu comigo esta semana. Divulguei a imagem da capa de meu novo livro nas redes sociais. O título deste novo trabalho é “pétalas” e como ilustração para a capa escolhi a fotografia de um “dente de leão”. Recebi inúmeros comentários, vários outros “curtiram”. Desde já agradeço a todos por estas manifestações de apoio. Dentre os comentários um foi muito bom, e gostaria de comentar aqui. A crítica deste “amigo virtual” foi muito interessante, pois ele afirma que “A capa está um pouco errônea. Creio que a foto é de sementes, não de pétalas...”. Eu, que ainda não havia pensado nisso argumentei de modo simples e fui logo respondendo: “Esta é a ideia... duplicidade” e então fui contra argumentado com uma saída diplomática “Liberdade artística...hehehe” e então, completei “Um pouco disso, afinal o “dente de leão” é flor e semente ao mesmo tempo... e Poesia é um pouco flor e um pouco semente...”. O diálogo, infelizmente terminou por aí.
No entanto, eu não fiquei nessa conversa. Iniciei uma leitura sobre o “dente de leão” e descobri coisas interessantes. O “dente de leão” tem várias espécies e é considerada, por muitos, como erva daninha. Isso porque, suas sementes são facilmente levadas pelo vento e brotam com muita facilidade. Em alguns tipos de “dente de leão” as flores servem para, na carona do vento, transportar as sementes. Então as pétalas da flor são as semeadoras da planta. Além disso, o “dente de leão” é muito utilizado para chá, e é considerado medicinal por combater os problemas intestinais, a prisão de ventre, doenças hepáticas, hemorroidas e até para emagrecer. É tão significativo o seu uso que o “dente de leão” é também conhecido como “Amor-dos-homens”. Em algumas culturas o “dente de leão” é utilizado como símbolo de liberdade, otimismo, esperança e luz espiritual.
A flor do “dente de leão” é fina e amarela, e entre as pétalas nascem os filetes brancos preso nas sementes. Estes filetes brancos são pétalas de um estágio de maturidade da planta. Assim que as sementes estão maduras, estes filetes transportam as sementes pelo vento e semeiam pelo campo.
Vejam então, que a escolha do “dente de leão” para a capa de meu livro de poesia tem agora muito mais significado e muito mais sentido. A escolha foi acertada e a crítica deste meu “amigo virtual” foi intensamente benéfica para o meu próprio desenvolvimento. Obrigado! 
Toda crítica será bem-vinda, desde que acompanhada da possibilidade de diálogo, do crescimento, da troca de informação e da postura de abertura para o outro. Quanto ao meu livro estará disponível para o natal, minhas pequenas poesias querem ser “pétalas” de “dente de leão" e, espero,  semearão novos sonhos e novos poemas. Aguardem!