sexta-feira, 17 de maio de 2013


Ócio criativo: tempo livre e a negação do ócio (negócio).

fonte: http://gramofonelunar.wordpress.com/2011/12/15/alma-acorrentada/

E como não posso esquecer a filosofia, nem em meu tempo livre. E por falar em “tempo livre” uma coisa que ficou comum é o ditado popular “enquanto descanso, carrego pedra”. Mas o pior de tudo isso é que as pedras nem são minhas, nem para o meu uso... Pois, então, no mês de fevereiro deste ano a Revista “Ciência & Vida – Filosofia”, Edição 79, publicou uma análise filosófica sobre o processo de apropriação do tempo livre do trabalhador. Segundo a análise filosófica este processo de apropriação do tempo livre se dá de forma camuflada através de uma série de mecanismos que, pouco a pouco, vai se tornando atividade normal para o trabalhador, de tal forma que ele não tem consciência do próprio processo de apropriação deste tempo livre.

Como não temos como promover uma reflexão filosófica sem falar em Karl Marx – fundador do marxismo, embora ele não seria marxista, como dizem alguns filósofos. Para Marx o trabalhador torna-se uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias ele cria, isso considerando o tempo de trabalho normatizado e formal. Mas como as mercadorias produzidas por vários trabalhadores não físicos, concretos, mas são ideias, criatividade, emoção e inovação, o sistema capitalista (composto por toda a rede de relações produtivas existente dentro do próprio sistema) vai buscando meios pra tornar esta produção mais eficiente e dinâmica.

Os mecanismos utilizados pelo sistema capitalista de apropriar do tempo livre do trabalhador parte, conforme salienta Adorno e Horkheimer, em que “a diversão é o prolongamento do trabalho no capitalismo tardio. Ela é procurada por quem quer escapar ao processo de trabalho mecanizado, para se pôs de novo em condições de enfrenta-lo”. Assim o nosso tempo de “diversão”, isto é, o nosso tempo livre, passa a não ser mais entendido como tempo de liberdade ou de reapropriação da existência (conforme o filósofo Serge Latouche – 1940), mas é visto como uma “escapada para fora do sistema para retomá-lo novamente. Paulatinamente este “tempo livre” do trabalhador vai sendo preenchido por apelos comerciais, por atividades que promove o envolvimento do trabalhador que passa a sentir necessidade de ocupá-lo com atividades que visa o seu próprio envolvimento no processo do trabalho – disfarçado de aperfeiçoamento, cursos de reciclagem profissional. Mas, mesmo que isso não ocorra, ou que seja considerado “normal”, há ainda atividades mais simples ainda onde podemos perceber esta forma de apropriação do tempo livre. Trata-se daquela preciosa fugidinha de fim de semana para o sítio ou outra atividade de lazer qualquer ganha sentido crucial de descanso ou intervalo entre trabalhos para restabelecer as energias necessárias à aplicação por mais atividade produtiva, legitimando-se assim o lazer como uma finalidade que promove o fortalecimento das relações laborais ao invés de proporcionar a superação crítica destas. Assim a pretensa liberdade do indivíduo é em verdade conduzida pela vontade dos outros (o capitalista). Sem contar a forma mais direta em que o funcionário, além de trabalhar nas horas normais (e pelas quais recebe salário), ainda leva serviço pra casa (só pra citar uma categoria, não a única, mas a mais evidente: os professores) sem receber nem ser reconhecido por tal atividade.

Mas pra fugir deste papo macabro, vou fugir (nem que seja mentalmente) para Atenas do tempo de “Péricles em que havia quase mais feriado que dias úteis”, conforme a o sociólogo italiano Domenico de Masi em sua obra O futuro do trabalho. Nela, de Masi explica detalhadamente todas as celebrações, cultos e concursos líricos e musicais daquela civilização grega antiga. Mas completa: “Tratava-se de uma reflexão alegre e coral, de cujo húmus se originou uma das maiores civilizações dos últimos tempos. Tratava-se do ócio elevado à condição de arte”. No seu estudo sobre o Ócio Criativo, de Masi diz que a sociedade pós-industrial precisa buscar três elementos para alcançar tal condição: comércio, estudo e raciocínio lógico. Assim, segundo ele, para a atividade criativa, estudo, trabalho e tempo livre precisam se confundir. “...o homem, tendo transferido às máquinas o trabalho cansativo, enfadonho, nocivo e banal, poderá se dar ao luxo de atividades criativas em que estudo, trabalho e tempo livre finalmente conviverão”.

O que ocorre hoje, no entanto, é que os trabalhadores, em raros momentos de descanso, o desfrutam carregado de culpa, quando, até por essa culpa, não levam trabalho para a casa nos finais de semana e períodos que não estão na empresa ou no escritório. As férias e períodos de feriado para os trabalhadores da sociedade pós-moderna, segundo de Masi, representam uma “improdutividade ocupacional” ao qual os trabalhadores são forçados. E para terminar, gostaria de convidar alguns colegas de profissão (professores) para uma cervejinha em minha casa no próximo sábado, mas como não vai ser possível, pois os sábados já se transformaram em dia de trabalho (reuniões pedagógicas, cursos, treinamentos, conselhos de classe...) fica para o sábado que eu estiver livre – quem sabe quando aposentar-me, isto é, se eu chegar lá!

Fonte: Revista “Ciência & Vida – Filosofia”, Edição 79.

sexta-feira, 10 de maio de 2013


 “De Opara a São Francisco”

 

Conhecer um pouco da história do nosso “Velho Chico”, ou o rio da integração nacional, o Rio “São Francisco” é recuperar, trazer à memória as tradições de um povo, de milhões e milhões de pessoas, que, de alguma forma, viveu a vida do rio. Começando os “indos” da etnia Macro-Tupi que ocuparam suas margens, pescaram em suas águas, viveram suas crenças e inventaram suas lendas. “Opara” como era chamada na língua desses nativos de nossa terra. “Opara” significa neste tronco linguístico “rio-mar” devido, certamente, o volume e dimensão de suas águas.

Descoberto pelos navegantes, em nome da coroa portuguesa, Américo Vespúcio e André Gonçaves, no dia 04 de outubro de 1501. E sendo o dia 04 de outubro. dia dedicado a São Francisco de Assis, e, por isso esses navegadores nomearam, sem saber que ele já possuia um nome. Assim passou a existir o rio São Francisco para os europeus, mas ele continuou a ser “Opara” -  o rio-mar – tanto para os nativos como também para os mestiços, filhos dos nativos e dos portugueses. E, talvez, por isso o nosso “Rio São Francisco” continua sendo conhecido por alguns de “Opara”.

Assim “após percorrer 2.700 quilômetros (terceiro maior rio do Brasil), serpenteando pelo cerrado, cruza cinco estados brasileiros (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe) até desaguar no oceano Atlântico, entre os estados de Sergipe e Alagoas, na Praia do Peba (estado de Alagoas)” e “sua bacia hidrográfica tem 640.000 km² de área.” Mas muito mais que um rio, o “Opara” (São Francisco) é a “força de todas as correntes étnicas do Brasil, porque uniu as raças desde as camadas humanas mais antigas às estruturas étnicas e políticas mais recentes do País.” Mas é também responsável pela aproximação do sertão ao litoral e “integra homens e culturas”(1).

No entanto, o rio “Opara” continua sendo o centro de interesses do homem atual e de grande importância no imaginário das pessoas que habitam a região. Acredito que o será também das futuras gerações. E a forma como este rio nos influencia é ainda incomensurável. Prova disso é o belíssimo espetáculo apresentado pela escola de cultura do SESI de Itaúna. Os meninos e meninas das escolas de dança (balé e dança contemporânea) e a galera do curso de teatro da Escola de Cultura do Sesi resolveram se unir e presentear a população de Itaúna com a história do Rio São Francisco.

A primeira apresentação ocorreu no final do ano passado (2012) no teatro Sílvio de Matos (Espaço Cultural). Foi um sucesso e contou com grande participação do público. Mas, mais do que isso, envolveu todos os alunos da escola de cultura, seus familiares, amigos e muita gente da gerência e da Escola Sesi de Itáuna.

E agora, nesta semana a Escola de Cultura voltou a apresentar o espetáculo “De Opara a São Francisco”. Foi mais uma oportunidade, não só de mostrar o belíssimo e valioso trabalho das professoras da Escola de Cultura do Sesi, mas serviu de reforço na memória daqueles garotas e garotos a história do nosso “Opara”. O melhor de tudo, no entanto, é que a apresentação deste maravilhoso espetáculo ocorreu no teatro Sesi-Vânia Campos, situado às margens do Rio São João, subafluente de “Opara”. Assim as águas de nosso “São João” (e qual seria o nome deste pequeno rio na língua dos nativos de nossa terra?) possa levar ao “São Francisco” esta singela e belíssima homenagem. E que os “espíritos das águas” saibam que as histórias do “Opara” continuam inspirando outros jovens professores e estudantes a contarem, cantarem e dançarem às margens de suas águas (afinal as águas de nosso São João, serão logo mais abaixo as águas do rio Pará e que comporão as águas do “Opara”). Parabéns à Escola de Cultura do SESI, parabéns a toda a equipe da Escola Sesi de Itaúna pela belíssima apresentação! Parabéns meninos e meninas (extensivo aos familiares) pelo brilhante empenho na realização deste espetáculo! Vocês brilharam!

 

Fonte consultada:

(1) MACHADO, Regina Coeli Vieira. Rio São Francisco. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisa escolar/. Acesso em: 08/05/2013. Ex: 6 ago. 2009.