Geraldo Fonte Boa
O ser
humano é maravilhoso. Somos criativos e a vida em si e por si não nos bastam.
Temos a necessidade de dizer sobre o mundo, sobre o outro e sobre o que
pensamos e sentimos. Então encontramos um jeito de promover a junção entre o nosso
pensamento e os diversos sons que percebemos na natureza. E ao fazermos esta
junção, criamos um jeito de fazer vibrar parte de nosso corpo, situado em um
espaço e tempo, e daí nasce a voz e pelo domínio desta vibração, que chamamos voz,
passamos a criar signos e símbolos a serviço da comunicação do nosso pensamento:
A arte.
A arte foi
dividida em seis (6) formas básicas: A dança como arte do movimento, o teatro
como arte da interpretação, a escultura como arte da forma, a pintura como arte
da cor, a música como arte do som, e a literatura como a arte da palavra, e
mais recentemente, como uma tentativa bem sucedida dessas artes primárias, surgiu
uma sétima arte, o cinema ou a arte do audiovisual.
Por estas modalidades de arte a comunicação
de nossas ideias, do nosso pensamento e do que sentimos ganharam corpo, forma.
Na arte literária a forma foi se diversificando e se transformando em gêneros:
os gêneros literários: O épico, o lírico, o drama. Estes três gêneros clássicos
eram geralmente apresentados em um estilo próprio: o poema. O poema era a forma preferida para apresentar seus textos, isso porque os versos, as estrofes e a rima, dava a intensidade necessária ao narrar suas histórias. E aqui já percebemos a
diferença fundamental entre o poema – a forma – e a poesia – a história que se
conta. Ou seja, o poema é a forma
escrita, é o corpo, a aparência, composta por versos, estrofes e rimas. Esta
forma foi se modificando ao longo do tempo, e hoje, é possível encontrar poemas
que não utilizam de estrofes, nem de rima, mas somente de versos, e que não
deixam de ser poema. Mas a poesia é a maneira como contamos a história em nossos
textos. A poesia é o espírito, a ideia, a reflexão, é o sentimento que queremos
expressar, as vezes de maneira clara e direta, às vezes de forma misteriosa e
camuflada, como se uma “neblina” dificultasse a visão do leitor. Um dizer-não-dizer. Esta forma velada, misteriosa, utilizando-se
de metáforas, provocando reflexão, sem definir tudo ou determinar limites ao
leitor é o que faz a poesia de um poema.
O poema é
a forma natural de uma poesia. E quando o poeta se especializa em dizer as
coisas mais simples de maneira leve e camuflada, que provoque no leitor o encantamento
pelo que foi dito, aí temos o “belo”. Veja não é só “beleza” é o “belo”, pois
cada vez que você lê aquele poema, você consegue ver algo novo, novo
encantamento, isso é o “belo”. A Poesia enquanto reflexão sentimental que o
poeta quer expressar, ou provocar, e ao fazer isso de forma velada, misteriosa,
inusitada, que chega a surpreender ou encantar o leitor temos um texto poético.
É aí que podemos dizer da qualidade de um determinado Poética de um poema.
Então,
caberia aqui uma pergunta: pode haver poemas sem poesia? Difícil, mas pode. Mas
também pode haver poesia em um texto que não se estrutura como poema, em uma
prosa por exemplo. Isso porque a poesia não se limita e nem se prende a forma. Veja
um pequeno texto da escritora Clarice Linspector:
“A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bom era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível. O mundo se tornara de novo um mal-estar.”
(Trecho do conto “Amor”, do livro “Laços de Família”).
Veja o
texto não é um poema, porque não está escrito na forma de um poema, pois não
tem estrofes, nem versos, nem rima, mas quanta poesia presente neste texto!
Somos ou
não somos maravilhosos?!!!
Muito interessante!...Aprendi hoje porque o cinema é conhecido como a sétima Arte...Parabéns...
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