sábado, 23 de fevereiro de 2013


 
Entre tantas possíveis e necessárias renúncias, uma renúncia.

O Brasil e o mundo, e não só os católicos, foram surpreendidos com a renúncia do Papa Bento XVI. Afinal não é para menos, o último papa a renunciar ocorreu em 1415. Tratava-se de Gregório XII que o fez mediante negociação no Concílio de Constança. Naquela época ocorria um grande cisma no ocidente, isto é, uma verdadeira crise religiosa, conhecida na história como Reforma Protestante. O Papa Gregório XII tinha 90 anos e sua renúncia foi a saída encontrada pela Igreja Católica para evitar que a crise religiosa se agravasse ainda mais.

Embora a Igreja Católica tenha enfrentado uma série de polêmicas internas e até mesmo questões doutrinárias desafiadoras nos tempos atuais, a realidade é muito diferente da vivida nos idos de 1415. Assim a renúncia do Papa Bento XVI merece uma apurada, criteriosa e prudente análise e mais ainda mais uma reflexão lenta e sábia que só o tempo será capaz de revelar com a verticalidade e a profundidade necessária.

A renúncia é sempre um ato pensado e uma decisão profundamente significativa. Se por um lado representa um gesto de responsabilidade e de despreendimento, pode ser entendido também como um ato profundamente pessoal. Por melhor assessorado que seja uma pessoa, o ato de renúncia tem implicações pessoais e é profundamente impactante na vida de quem o faz. Não se trata de um gesto com implicações somente pessoais, mas é sobre a pessoa quem a pratica é que tem maior impacto. Após a renúncia, em vários momentos, voltará à mente de quem renunciou a dúvida se tenha feito à coisa certa. Mas, com o passar do tempo esta dúvida cessará. O gesto continuará registrado na história e as análises e comentários sobre ele poderão não representar sua essência, as reflexões e as circunstâncias que levaram a tal decisão. Renunciar, no entanto, impõe sobre o renunciante uma enorme responsabilidade, visto que se torna um gesto que implica a criação de possibilidades imprevisíveis, tanto negativas (no sentido que os projetos não mais realização, pois o renunciante abre mão de um possível projeto que seria realizado por ele) como positivas (de outros projetos que se realização com a posse de outro). É dessas possibilidades que derivam a responsabilidade do ato de renúncia.

A renúncia aqui abordada foi assim anunciada ou justificada: “Após ter examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino". O que se percebe é o confesso processo para a tomada de decisão, uma decisão consciente, espontânea e reflexiva. Um ato de coragem e que de alguma forma impõe a todos a reflexão e o ministério do cargo o renunciante. Assim poderia continuar tecendo este mísero comentário sobre a renúncia de um grande líder religioso (grande pela importância e pelo lugar da Igreja no mundo atual).

Mas gostaria de conduzir o leitor deste pequeno texto para os casos renunciáveis, isto é, para os brasileiros que necessitaria tomar a decisão de renúncia que faria tanto bem à nação, mas que não tem a coragem de fazê-lo. Penso assim em personagem de nosso mundo político, cuja renúncia poderia representar uma nova possibilidade para o nosso país. E não falo apenas de políticos do alto escalão, como José Genuino, do PT, que mesmo depois de condenado pelo Supremo Tribunal Federal teve a coragem de tomar posse como Deputado Federal, ou ainda o Senador Renan Calheiros com seu retorno à presidência do Senado, ou ainda do Senhor José Sarney que não “deixa o osso” por nada. Não falo somente desses, que certamente você pode concordar comigo, já deveriam ter renunciado a muito tempo.  Falo dos familiares (próximos, congênitos, não congênitos, amorosos ou não, afetivos, namoráveis, etc) de políticos, do executivo e do legislativo) que foram nomeados para cargos de confiança (com ou sem qualificação para tal). Estes deveriam, através de um gesto de coragem, renunciar seus cargos, mesmo a contragosto de seus políticos padrinhos. Esta renúncia, como eles sabem, seria mais que um ato de coragem, seria um ato de HONESTIDADE: abrir mão de um cargo, salários e status, seria um modo de dizer NÃO ao NEPOTISMO. Renunciar, nesses casos seria dá um tapa na face de tudo que está errado na vida política brasileira e seria uma bela saída, e mais, uma saída honrosa, tão digna como a do Papa Bento XVI, uma vez que nossos políticos não estão dispostos a renunciarem-se desta prática abusiva e  imoral de apadrinhamento político.

Que o exemplo de Bento XVI, ao renunciar, possa inspirar estas pessoas que ocupam cargos bem menores, mas que diante do que representa (NEPOTISMO) seria tão valoroso e digno para um país que merece dignidade e respeito dos que ocupam os cargos de gestão pública.

2 comentários:

  1. Pois é. Sobre a renúncia do Papa- o que está além das palavras deles, só o tempo nos dirá.

    Quanto aos políticos:resta-nos entrar na corrente: força Renan!
    Uma boa reflexão.
    TT

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  2. Obrigado TT pelo seu comentário. Eu já coloquei meu grito no "fora Renan", "fora Sarney", "fora Collor", "fora José Dirceu", "fora José Genuino" e tantos outros... mas há tantos outros parentes de políticos ocupando cargos simplesmente por ser de "confiança" desses políticos que nós elegemos, mas que NÃO SÃO DE NOSSA CONFIANÇA". Acredito que está na hora de ACABAR COM OS CARGOS DE CONFIANÇA.

    EU NÃO CONFIO NAS PESSOAS DE CONFIANÇA DESSES POLÍTICOS.

    Um abraço!

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