JOÃO
DORNAS FILHO: UMA TRAJETÓRIA A SE COMEMORAR – Parte II
Como
afirmei no primeiro artigo desta série, a obra de João Dornas Filho ainda é
alvo de interesse de pesquisadores e estudiosos, quer historiadores, quer
estudantes de literatura. Encontrei na rede mundial de computadores um artigo
entitulado “Periódicos literários e Cânone: Leite Criôlo e a Memória Monumental
do Modernismo” do estudante de Mestrado da FALE/UFMG, Miguel de Ávila Duarte.
Este artigo é muito interessante, primeiramente por que busca situar João
Dornas Filho, e especificamente o panfleto “Leite Criôlo” dirigido por ele,
dentro do movimento modernista brasileiro e especificamente, mineiro.
Inicialmente
Miguel de Ávila Duarte faz uma explanação teórico-metodológica sobre Cânone e
Monumento, que não vem ao caso apresentar aqui. Em seguida Miguel Duarte define
claramente o objetivo de seus estudos, assim diz ele
Pretendemos investigar brevemente a formação
do abismo, em termos de monumentalização e legitimidade cultural, que separa
hoje duas publicações modernistas de Belo Horizonte e seus respectivos
animadores: A Revista (1925-1926),
cuja presença emblemática é a de Carlos Drummond de Andrade, e Leite Criôlo (1929), cuja figura
central seria João Dornas Filho.
Com o
desenvolvimento desta investigação de Miguel Duarte são apresentados alguns
resultados interessantes. Primeiro nos oferece uma explicação do por quê que João
Dornas Filho não é conhecido como membro do movimento modernista, como tantos
outros, enquanto que Carlos Drummond tornou-se astro, não só do modernismo
mineiro, como da literatura nacional. Em
segundo lugar, Miguel Duarte, nos apresenta algumas características gerais
sobre o periódico “Leite Criôlo”. Neste aspecto julguei importante destacar que
“Sem dúvida o racismo e o racialismo presentes no tratamento da herança
africana no Brasil são fundamentais no suplemento e de certa forma o
distinguem, mas é preciso lembrar que leite
criôlo foi, em muitos sentidos, um periódico modernista como os demais.
Não é possível estabelecer uma oposição entre ele e o resto do modernismo
mineiro. Pode-se pensar mesmo que o que para nós hoje é chocante constituía o
discurso comum naqueles tempos, leite
criôlo se destacando simplesmente por falar, influenciado pela Revista de Antropofagia, em tom
aberto e escrachado. Não há por que pensar que quando A Revista fala, de acordo com o bom tom que prevalece nela, em
“humanizar o Brasil” não possa estar dizendo o mesmo que leite criôlo, com seu linguajar
direto, chama de “higienizar o Brasil”.
Ora, pois, assim posto, considero de fundamental
importância estudos como este de Miguel Duarte, não só por buscar resgatar a contribuição
oferecida por João Dornas Filho dentro do modernismo mineiro, mas
principalmente por revelar outras faces deste movimento. Isso nos permite
concluir que não existe um único movimento modernista, que ele não foi
uníssono, mas constituído de muitas vozes, de muitas faces. Assim devemos falar
em “modernismos” e dentre os diversos “modernismos”, João Dornas Filho é um autor
a ser estudado e analisado. É isso que o torna especial e não se tornou ou não um
fenômeno da literatura nacional, como ocorreu com Carlos Drummond de Andrade. Tanto
Carlos Drummond de Andrade, como João Dornas Filho tem um papel próprio no
estudo do movimento modernista, e não há como compreender profundamente o
significado deste movimento se não considerar estas diversas contribuições.
Creio que neste
sentido, o estudo de Miguel de Ávila Duarte contribui, de forma significativa,
na elucidação e no estudo de autores modernistas menos conhecidos e que não
fazem parte do Cânone da literatura nacional, e, dentre eles, o nosso João
Dornas Filho.
No próximo artigo
publicaremos alguns fragmentos das obras de João Dornas Filho, até lá sugiro a
leitura do artigo de Miguel de Ávila Duarte disponível em http://www.ileel.ufu.br/anaisdosilel/pt/arquivos/gt_lt13_artigo_8.pdf.
Uma boa leitura para todos e até o próximo...
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