sexta-feira, 28 de setembro de 2012


E por falar de poesia...

Hoje quero falar de poesia, de poesia e não da poesia, isso porque falar de poesia é apenas explicitá-la, mostrá-la, deixar que ela fale por si mesma. Os poetas acreditam que a poesia não pode ser explicada, ela tem que ser sentida, vivenciada por cada leitor, uma vez que ela foi, primeiramente e de modo único, vivida pelo poeta, foi sentida, gerada e que, através da palavra – por que não há outro recurso melhor – tornou-se possível aos leitores. Por isso é que iniciei este texto dizendo que falaria de poesia e não da poesia. Deixe-me explicar melhor, quando falamos de poesia, deixamos que a poesia fale por si só, quando falamos da poesia nos envolvemos em explicá-la, compreender suas métricas, seus ritmos, significados. Para se falar da poesia é preciso ser crítico literário e, geralmente, matam-se os versos, desencantam seus sentidos e significados, decantam suas métricas, e procuram conformá-la a determinados estilos, apenas para compreender racionalmente o que os poetas quiseram dizer. Falar de poesia é mergulhar nos sentimentos, absorver todos os sentidos, sonhos, desejos e vida gerados pelo poeta que, através da palavra, organizou em versos.

Acredito que esta explicação é suficiente. Provavelmente esta distinção faça pouco sentido pra muita gente, mesmo porque a maioria das pessoas quando leem poemas, e raramente isso acontece, reagem da seguinte maneira: não entendi. Mas as pessoas que aprendem a ler poesias elas simplesmente não conseguem expressar a não ser através de encantamentos. Alguns ficam estáticos, outras umedece os olhos, outros esboçam sorrisos, e muitas sentem-se mais leves. Quando lemos poesia e deixamos a poesia falar por si só, ela provoca em nós, transformação. Possibilita-nos algo novo.

Mas acho que agora chega. Vamos à poesia. Hoje, com autorização verbal do autor, vou estampar aqui alguns versos do poeta itaunense Daniel Alcântara. Vamos lá.

 

Ruas da deserta ilusão

Logo na entrada ressoa o som do protesto,

Que o mendigo berra na fome de tempos vindouros.

Ele corre, chora, pede aos senhores o que lhe importa,

mas só se tem o pão, vazio como a madeira do falso santo,

e a fome requer mais, somos famintos pelo que poucos tem.

Cantamos aos deuses por isso,

quer seja tolo, quer seja ignorante; A fome é a mesma.

Dos livros vem a carne, dos pergaminhos temos o vinho,

a cura da lepra que se sacia da mentes órfãs,

o buraco negro engolindo a esperança dos olhares,

as leis insanas, proibindo a busca do fruto proibido.

Queremos mais, esta escrito nos jornais dominicais,

em letras miúdas, para que o coro não leia,

sem voz, para que os cegos não ouçam,

sem cor, isso coleciona a inércia.

Droga! Pra que relatar o intento dos esquecidos?

Somos mendigos sem fome nas praças prometidas,

heróis de uma guerra sem vitória,

mártires de atentados terroristas sem mortos,

escritores de páginas destinadas a traças famintas.

Oh inferno! Malditas ruas da deserta ilusão.

Daniel Alcântara.

2 comentários:

  1. poesia, sem duvida uma doença da qual não podemos nos livrar, e compartilhar torna a publica, mas esconder faz matar aquilo que pode curar. Obrigado pela publicação. Abraços Daniel

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  2. É isso aí Daniel. Por isso, publico. Nem que seja para ninguém ler. kkkkk
    Vai que alguém tenha a coragem de ler e gostar, não é mesmo!

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