Geraldo
Fonte Boa
Capela
Nossa Senhora do Rosário, construída em 1750 dedicada a Senhora Sant'Ana.
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Sabemos, porém, que a escolha de uma
data, e no caso da data emancipação político administrativo, é uma mera escolha
para se comemorar o desenvolvimento urbano, uma mera convenção. Assim, por ser
uma data aleatória, a comemoração do aniversário de uma cidade pode partir de
outros marcos: a chegada dos primeiros habitantes de origem europeia, o
confronto entre grupos étnicos e o predomínio de um sobre os demais, a presença
de um determinado grupo na região, etc... tudo isso depende do que os moradores
e as autoridades locais consideram como significativa na história do
lugar. Mas como se observa, a
comemoração do aniversário da cidade será sempre um bom momento para contar e
recontar a história dos antepassados. E o exercício do “contar e recontar” revelam
dois grandes eixos de reflexão interessantes: o que temos para contar e o que
ainda não sabemos contar.
Assim, o que temos para contar é
aquilo, que de alguma forma, foi escrito por alguém e que foi considerado como
uma história coletiva. Temos, então, no caso de Itaúna, o que nos contou, e,
portanto, escreveu, o historiador João Dornas Filho. Sua história está
registrada em duas obras que são consideradas referências para a história de
Itaúna: a primeira “Itaúna: contribuições para a história do município” escrita
em 1936 e “Efemérides Itaunenses” de 1951. Como vê, estas obras foram escritas há
aproximadamente 50 anos depois da emancipação politico administrativo de
Itaúna. Depois disso vários outros artigos sobre a história do município foram
publicados, mas tomando como referencia a obras de João Dornas Filho.
Relendo tudo o que já fora dito, até
então, sobre a história de Itaúna, provavelmente não temos como nos esquivar da
história das famílias Gonçalves de Souza, Nogueira, Lima, Marinho, Camargos, Pereira,
Corradi, Queiroz, Guimarães etc. Sem dúvida estas famílias foram importantes
para o desenvolvimento econômico, social, político e cultural do município.
Sobre estas famílias é
Matriz
de Sant'Ana, construída em 1835 quando houve a troca dos oragos com capela
do Rosário. Este templo foi demolido em 1934 para a construção do atual
templo de Sant'Ana.
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O mesmo vale para os eventos
culturais e sociais ao longo dos anos de desenvolvimento de nossa cidade.
Muitos eventos culturais marcaram a vida da cidade, mas também não deixaram
registros para a posteridade; muitas festas religiosas não foram registradas,
ou seus registros se perderam, e assim foram construindo pontos escuros e
ocultos à história do município. Assim,
temos a oportunidade de recontar a história e cada vez que fazemos este
esforço, novos elementos podem ser revisitados e revelados...
Foi o que aconteceu, por exemplo,
sobre o primeiro povoador de então Arraial de Santana de São João Acima.
Inicialmente João Dornas Filho apontou Gonçalves da Guia como um dos primeiros
povoadores da região. Guaracy de Castro Nogueira em pesquisa revisional
comprovou que o primeiro povoador era Gabriel da Silva Pereira, Tomás Teixeira
e Manuel Pinto de Madureira. No entanto, este trabalho revisional confirma a
ereção da atual Capela de Nossa Senhora do Rosário como marco da formação do
arraial de Santana.. Esta capela, cuja provisão é de 1750, foi dedicada a
Senhora de Santana até o ano de 1835, quando se efetuou a troca dos oragos da capela.
Neste ponto há também pontos obscuros. Segundo João Dornas Filho, e reforçado
por todos os historiadores posteriores a ele, que havia uma capela de nossa senhora
do Rosário onde hoje se ergue o majestoso templo de Nossa Senhora de Santana.
No entanto, na há nenhum documento ou registro fotográfico sobre esta capela.
Nada que confirme sua existência a não ser a tradição. Nenhuma provisão para a
sua construção, nem mesmo a autorização episcopal para se efetuar a troca dos
oragos... e pelo visto este fato não vem sendo investigado.
Quanto ao ato político administrativo
de emancipação o que podemos contar é o que João Dornas Filho registrou em
“Efemérides Itaunenses” assim escreve:
“A
história da criação do município de Itaúna remonta ao ano de 1891, quando o Sr.
Dr. Augusto Gonçalves, então deputado estadual, declarou a Senócrit Nogueira:
-
A Constituição do Estado determina que só se podem criar municípios de dez em
dez anos. Foram criados agora Vila Nova, São Manuel e mais dois outros. Vamos
trabalhar para que em 1901 possamos elevar o nosso distrito a sede do
município.
Realmente,
nesse ano de 1901 era retomada a ideia por ambos, e Senócrit Nogueira, então
Presidente do conselho Distrital, apresentava a 24 de junho ao Congresso Mineiro,
por intermédio do deputado José Gonçalves de Sousa, o pedido de criação do
município... […]”
Senócrit Nogueira anexa junto ao seu
pedido um histórico detalhado sobre o distrito, apontando suas potencialidades
econômicas, culturais e humanas, enquanto que então chefe político do distrito
Dr. Augusto Gonçalves encaminhava ao Presidente da Província Silviano Brandão
uma representação em que apresentava os principais recursos do distrito e de
suas plenas condições para ser elevada à condição de sede do novo município.
Esta mesma representação foi também encaminhada à Câmara dos Deputados
Provinciais em 14 de junho de 1901. Esta
representação juntamente com o pedido de criação do município foi encaminhada
para uma comissão mista incumbida de analisar a reorganização judiciária do Estado no dia 25
de julho.
E assim continua João Dornas Filho “…Enquanto essa Comissão estuda a representação,
em Santana a Comissão de Criação da vila, composta pelos Srs. Dr. Augusto
Gonçalves, Senócrit Nogueira e Josias Nogueira Machado, convocava uma reunião
de pessoas gradas, destinada a escolher o nome que se desse ao novo município.
Prédio
da Antiga Estação Ferroviária, construído em 1917, e que atualmente abriga
o Museu Antropológico e Etnológico Francisco Manuel Franco
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E,
por força da Lei nº 319, de 16 de setembro de 1901, foi criado o município de
Itaúna.
Estava,
assim, vencida a batalha na qual se empenharam denodadamente os Drs. Augusto
Gonçalves, Senócrit Nogueira e Josias Nogueira Machado.”
Esta é a história, que ainda hoje é
a história oficial do município de Itaúna. Ao recontá-la há se destacar que em
momento algum João Dornas Filho apresenta documentos que comprove esta reunião
e a síntese destas discussões. Não há estes documentos? Talvez não. Segundo as
notas de rodapé, João Dornas Filho escreveu a partir dos relatos orais de
Senócrit Nogueira e, provavelmente, não tenha havido a elaboração de atas de
reunião, ou mesmo cópias dos documentos enviados aos órgãos oficiais do Estado.
E a trajetória do município ao longo
destes 111 anos? Muito já foi escrito, mas muito há por escrever e cabe a cada
cidadão contar um pouco de sua história e de como é percebidos os momentos
fortes da vida coletiva. A história de uma cidade não é a somatória das
histórias individuais, mas o relato dos fatos coletivos que nortearam e
promoveram o desenvolvimento de seus habitantes. Suas manifestações significativas,
seus posicionamentos e a reafirmação de seus valores. Novos agentes surgem a
todo tempo, e cada novo tempo um momento novo e uma história nova para ser registrada
e contada.
Fontes:
DORNAS FILHO,
João. Itaúna: Contribuição para a história de Itaúna. Belo Horizonte: Edições
João Calazans, 1936.
DORNAS FILHO,
João. Efemérides Itaunenses. Belo Horizonte: Edições João Calazans, 1951.
FAGUNDES, Osório
Martins. Fragmentos de um passado. Belo Horizonte: Minas Gráfica Editora, 1977.
NOGUEIRA, Guaracy
de Castro. Itaúna em detalhes - Enciclopédia ilustrada de Pesquisa. Itaúna: Jornal
Folha do Povo, 2003.
SOUZA, Miguel
Augusto Gonçalves de. História de Itaúna. Belo Horizonte: 2008. Vol. 1 e 2.
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