sábado, 12 de outubro de 2013



Sobre Nada III

Procurando luz no fim do túnel

Hoje eu fecho esta trilogia “Sobre Nada”. Os dois primeiros textos, de modo irônico (e segundo alguns leitores, cínico) abordei de forma “negativa” a situação brasileira atual, tanto na política quanto na educação. Alguns leitores enviaram para o meu e-mail algumas observações pertinentes e que merecem todo o meu respeito e uma resposta a estas provocações. Desde já agradeço aos leitores que enviaram suas críticas e suas sugestões. Fico feliz, sinal que estou sendo, pelo menos, lido. Mesmo que minhas ideias não sejam assim, tão importantes para a segurança nacional, e por isso mesmo, não são tão fundamentais para a espionagem americana, ou canadense... kkkkk (como se faz no facebook).
Na realidade, o que escrevo é parte do que estou vivendo e como eu vivencio esse processo. É sobre isso que escrevo. Não tenho a intenção de criticar ninguém, ou mesmo de colocar em cheque aos processos vivenciados. É na realidade uma tentativa de refletir sobre, de assimilar todo este processo pelo qual estamos passando. Ninguém pode negar que a situação do professor nas salas de aulas de hoje é preocupante, tensa e ao mesmo tempo conflituosa. Ser professor hoje é um desafio muito diferente de quando, por exemplo, iniciei minha carreira (23 anos atrás). Não tínhamos alunos com celulares em suas mãos, com seus fones de ouvido, com tanto acesso a informação (mesmo que não saibam o que fazer com elas), com livros didáticos de qualidade, com material disponível de forma tão abundante e tão diverso. Mas ao mesmo tempo, não podemos negar que os alunos não dão o devido valor a todo este material, visto que eles não passaram pela carência (de tudo isso) pelo qual passamos.
Embora temos que considerar que nós tínhamos uma coisa que muitos alunos hoje não têm: uma família estruturada, que acompanhava de perto e com responsabilidade a formação de seu filho. Uma família que, por não poder oferecer os recursos materiais necessários, dava atenção, acompanhava, responsavelmente e exigia dos filhos um atenção especial (as vezes de forma punitiva) para o desenvolvimento educacional, isso por que acreditavam que a educação (enquanto formação) era um bem em si.  
A realidade hoje é outra, a família não assume os filhos que têm, entregam aos cuidados da escola todo o seu processo educativo, inclusive a educação elementar (aquela de bons hábitos, de respeito, de ética) que deveria vir “do berço”. A escola assume assim a tarefa de oferecer lazer, educação elementar, formação acadêmica, formação humana de aceitar as diferenças, acompanhamento psicológico, educação disciplinar, alimentação, e agora com a ideia de escola complementar, ainda oferece o almoço e o banho para algumas crianças que não tem como ir em casa (por não ter ninguém – visto que o pai e a mãe, ou o pai, ou a mãe trabalha fora do dia todo). Então a escola – que é feito de gente (profissionais) nem sempre preparados para esta nova realidade – vem assumindo novos papéis e a família pouco a pouco se  desobriga da educação de seus filhos. E ainda tem que atender aos índices esperados do rendimento escolar (informação e formação acadêmica com conteúdos) de avaliações externas. Índices que nem sempre expressam a realidade vivida pelas unidades escolares, visto que estes números não consideram os desafios vivenciados dia a dia dentro destas unidades.
Assim, quando fazemos desabafos, de modo cômico (ou cínico?) é na realidade uma tentativa de externar uma situação vivida por um professor de uma cidade de médio porte, e que na realidade, pode ajudar a outros colegas que estão vivendo situações parecidas e que não conseguem se expressar e adoecem, se afastam, entram em pânico.
Não podemos negar que há valores e virtudes nestas unidades escolares. Dentre estas virtudes podemos apontar o esforço das escolas em implantar processos que buscam construir uma identidade da instituição que vive em um momento tão conturbado e de constante transformação. Além disso, não podemos negar que, apesar das dificuldades de alguns colegas, há profissionais responsáveis e comprometidos que trabalham muito e merecem todo o nosso respeito e nossos aplausos. É claro que continuo acreditando que seria preciso mais envolvimento em defesa de seus direitos e de sua participação nas políticas públicas voltadas para a educação e para a escola. Não só por salário, mas por melhores condições de trabalho, por uma carreira que garanta uma velhice saudável e digna.
A escola mudou muito nos últimos anos. Recursos existem – e nunca serão suficientes – tanto para os alunos como para os professores (poucos para estes, principalmente em nosso município, que ainda se limita ao quadro pintado na parede com o tradicional giz e uma pequena cota de fotocopias). Que a estrutura das escolas não são adequadas e que a falta de profissionais para um acompanhamento maior acompanhamento familiar, chamando a responsabilidade da família para o processo educacional de seus filhos...
Os desafios são enormes. Temos que vislumbrar, e não perder de vista, que o ideal é que um professor tenha uma carga horária de efetivo trabalho escolar, onde ele possa desenvolver suas atividades de ensinar e realizar suas atividades burocráticas extra-classe dentro da própria unidade escolar e que receba por este serviço (trabalho). E quando chegar em sua casa ele possa ter o direito de viver sua vida pessoal e familiar. Mas para isso é preciso um salário que garanta uma vida digna a este profissional (a todos os profissionais da educação). Esta é a luz no fim do túnel que precisamos almejar e que temos que perseguir. Que a escola seja um local onde o humano seja trabalhado, valorizado e plenamente desenvolvido. Até chegarmos lá, continuarei desabafando em meus textos... afinal não quero morrer com câncer, ou com úlcera, ou com depressão.... melhor não quero morrer.... não assim....
PARABÉNS PROFESSORES PELO SEU DIA!
ORGULHEM-SE, MESMO QUANDO O GOVERNO NOS NEGAM O DIREITO DE PARTICIPAR DO PROCESSO EDUCACIONAL DE NOSSO PAÍS, DE NOSSO ESTADO E DE NOSSA CIDADE.  

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

SOBRE NADA II
 O Barão de Itararé – brasileiro ou uruguaio – o ressurreto
Você já ouviu falar em Aparício Torelly? Provavelmente não. Mas pelo sim, pelo não: Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, este gaucho-uruguaio, pelo menos é o que consta em seu título de eleitor, mas há outros documentos que o naturaliza Uruguaio, o que não importa, visto ser ele um cidadão do mundo. Torelly, também conhecido pelo falso título de Barão de Itararé, foi jornalista, escritor e o pioneiro no humorismo político brasileiro. Dentre as suas expressões no campo do humorismo está a frase, que julgo bastante oportuna para os dias atuais da política brasileira, “O mundo dos vivos é cada vez mais governados pelos mais vivos”.  
Silogismos à parte, Brasília seria a terras dos “mais vivos”( ou dos mais safados?). E já vou pedindo desculpas aos cidadãos de Brasília que não frequentam os gabinetes, os palácios e os órgãos públicos do governo (sobrou alguém?), afinal não quero ofeder nenhum inocente, e vai que um dia eu, por ironia do destino, venha a ocupar uma dessas repartições públicas de Brasília! (não que eu pretenda!).
A reforma política, que não sai do papel porque não interessa o(s) partido(s) que está(ão) no poder, prometida pela própria presidente da República, Sra. Dilma Roussef, que nós “os vivos” acreditamos ser a autoridade máxima da nação, após a pressão popular (ou “fogo de palha”) dos movimentos de rua em julho deste ano. Então os “mais vivos” aproveitam da situação para empurrar os prazos impedindo “mineiramente” (e fico triste em utilizar este termo por ser de Minas) as mudanças políticas e garantindo pelo menos mais um mandato nos cargos de destaque (bem remunerados) da nação.
E, para aproveitar desta situação “os mais vivos” montam suas bancas nos palácios, bastidoress, corredores, para uma verdadeira revoada entre as legendas partidárias (32 partidos, mas vai chegar aos 40, afinal não dá para fazer um(a) “Alibabá e os 40 ladrões“ com 32 partidos!). No Brasil os nossos deputados, senadores, chefes do executivo (1º e 2º escalão), vereadores e por que não, os altos cargos dos poder judiciário defendem os interesses dos partidos, embora falam que é da nação brasileira. O partido é mais importante que o brasileiro, e muuiiiito mais que o país. O partido é o barco governado por eles. O partido, que é apenas uma pequena parte de um mesmo grupo, afinal dividido em partes fica mais fácil comer a pizza, o bolo, o biscoito ou qualquer outra coisa que se quer comer.
Cada partido no Brasil, infelizmente, tem uma única ideologia, se é que é ideologia (talvez seja apenas  uma única ideia, “ficar no poder para manter seus privilégios) e o país dos “vivos” devem continuar fazendo o seu papel: trabalhando, mendigando e contribuindo com seus parcos(?) impostos para manter o sistema funcionando.
Enquanto isso, os professores do Rio de Janeiro, que são apenas “vivos”, são tratados como bandidos (daí a ação da polícia com sua tropa de choque – e haja choque), somente porque querem participar do processo de elaboração de seus planos de cargos e salários. Já os professores do município de Itaúna, que também não participaram e que ainda não se mobilizam para participar da elaboração de seu plano de Cargos e Salários, cuja minuta está pronta desde o ano 2003 (portanto 10 anos), e que os “mais vivos” não tiveram a coragem de enviar para os outros “mais vivos” aprovar, porque poderia gerar algumas dificuldades financeiras (não pela falta de dinheiro, mas porque sobraria menos para “os mais vivos” ou perderia uma pequena fatia do bolo ou da pizza “pública” - deste público específico). E por falar em plano de cargos e salários, que segundo a LDB, teria como um dos pilares básicos a “valorização” dos profissionais da educação, e por valorização a categoria (ou classe?) compreende como melhoria nos salários e na garantia de seus direitos ao longo da carreira do magistério, mas que os “mais vivos” querem entender como ampliação do controle sobre a categoria de trabalhadores, como o aumento da carga horária, o controle do tempo extraclasse, o controle dos processos e procedimentos, sem, no entanto, garantir a equiparação salarial conforme a titulação dos profissionais da educação prevista na Lei do Piso Nacional de Educação (Lei 11.738/2008).
E nesta letargia político-administrativa do governo municipal (dos “mais vivos) e de inoperância da educação pública (dos subalternos dos “mais vivos” que se acham “mais vivos”, mas que são apenas “vivos”) o Plano de Carreira não é discutivo com a categoria (ou classe?). E, ao mesmo tempo, a categoria que também se acha “viva”, fica esperando pela ação dos “mais vivos” que não pretendem agir.... Foi por este motivo que passaram-se dez anos e o Plano de Carreira está em fase de análise (profunda, mas tão profunda que é inacessível aos “vivos” e aos “mais vivos”). E nesta análise profunda, devido a longa duração de análise, será preciso reformular o Plano de carreira, sem falar em Cargos e salário (visto se tratar de um tema complexo e espinhoso) não será encaminhado para a aprovação dos outros “mais vivos” – os do “poder legislativo” e muito menos para discussão (porque os “vivos” acreditam que não resolve discutir, pois não acreditam mais em uma aprovação). E neste impasse, a Lei do Piso não é cumprida, a escola não muda, a categoria (ou classe?) continua na mesma e os “mais vivos” continuam governando os “vivos”. E é por isso que o Barão de Itararé, o nosso brasileiro uruguaio está sendo ressuscitado e celebrado, não por ser brasileiro ou uruguaio, mas por constatar que no “mundo dos vivos é cada vez mais (e mais, e mais, e mais) governados pelo mais vivos”. Afinal é ético não ter ética. Sendo assim ser ético é anti-ético (com ou sem hífen?).
 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013


SOBRE NADA

 

Tenho relutado muito para escrever. Tem muito assunto que mereceria uma reflexão, mas que não encontra em mim ressonância suficiente para expressar, em palavras, - talvez, quem sabe, em gestos, - o que penso ou pelo menos uma opinião equilibrada, sincera ou pelo menos que ganhe um pouco mais de sobriedade. Então a pergunta que faço é: por que não estou conseguindo expor em palavras sobre esses temas? Por que estou tão desmotivado em escrever? Por que deste bloqueio. Geralmente não tenho estes problemas... sei que os meus textos não são os melhores, nem os mais verticais ou críticos, mas também não são os piores... faço sempre uma avaliação crítica sobre o que escrevo e sei ponderar, a tal ponto que garanta a continuidade de minha produção literária, se é que posso assim classificar.

Já passei por momentos parecidos como o que estou vivendo agora, mas nunca duraram tanto, nunca foram tão áridos... é terrível. Mas hoje resolvi forçar um pouco e ver o que acontece. Iniciei então a falar sobre o problema como uma forma de “esquentar os motores” e criar as “pré-condições” de um texto. É mais difícil do que se imagina.

Então estou pensando em levantar algumas hipóteses sobre o que está acontecendo comigo. A primeira hipótese pode se referir ao momento em que estou vivendo. Um certo desapontamento com o meu exercício profissional. Afinal, depois de 20 anos como professor a impressão que tenho é que estou ficando velho e desaprendendo a lidar com os jovens de hoje. Há um descompasso entre o que penso ser importante ensinar e o que os alunos querem aprender (e na maioria das vezes parece que eles não querem aprender). Os meus alunos estão o tempo todo com o celular (sempre as escondidas) nas mãos, trocando mensagens durante as aulas, fone de ouvido (escondem o quanto podem), ou cuidando de algum “bichinho” virtual.

E, enfim, quando chega na hora de uma avaliação os resultados não podem ser piores, e ainda sou obrigado a elaborar uma nova avaliação visando recuperar os resultados, afinal não são admissíveis índices negativos na unidade escolar, mas alunos, sim. E, antes, depois de aplicar a prova, uma vez corrigidas entregava aos alunos e enviava à secretaria escolar para a elaboração dos boletins escolares. Agora não, depois de corrigidas tenho ainda que elaborar uma planilha que demonstre quais das questões os alunos tiveram melhor aproveitamento (se é que seja possível) e quais das questões de pior aproveitamento (quase todas). E ainda tenho que escrever um relatório onde devo expressar possíveis hipóteses para o “fracasso” dos alunos (embora todos já sabem, mas ninguém quer assumir).

Depois encaminho para a secretaria toda a papelada, com propostas de ações visando recuperar o rendimento escolar de meus alunos... e vamos em frente... eu sou o único culpado para o baixo rendimento escolar de meus alunos... eles continuarão com seus celulares ligados e funcionando a todo vapor (sempre as escondidas, é claro). Eu continuarei falando para as paredes, elaborando avaliações, exercícios, administrando a falta de vontade e a falta de perspectiva dos alunos... e se chamo a atenção de um aluno sou agredido, nem sempre com palavras e ideias (porque se assim o fizesse eu poderia pelo menos argumentar e quem sabe geraria um debate – e aí estaria no paraíso), mas com olhares, sacarmos, gestos, expressões monossílabas... e tenho que aguentar calado, afinal, como dizem as pedagogas escolares (com alguns meses de experiência) “você é o adulto na relação” e então pergunto: que relação? Penso que não existe nenhuma “relação” nisso que vem acontecendo... e saio da unidade escolar com a sensação que estou cada vez mais desconectado com o mundo ao meu redor... mais ignorante, ou quem sabe com menos capacidade intelectual... embrutecido.

Percebo que esta pode ser uma hipótese absurda e ainda tento enxergar uma luz no fim do túnel. Acredito que esta situação não afeta em nada a minha capacidade e vontade de escrever... o problema deve ser outro. Talvez seja a falta de vergonha na cara de muitos políticos ou a falta de educação que os senhores ministros do Supremo Tribunal Federal fizeram com a nação brasileira ao aceitarem os “embargos infringentes” que até ontem ninguém sabia o que significava... mas hoje sabemos que é um jeitinho para ajudar políticos a se salvarem da condenação ou da cadeia. Pois no meu caso, não há “embargos infringentes” que possa salvar a geração que estão nas escolas públicas, sem a mínima perspectiva ou tão distraídas com seus celulares de última geração, mas que não sabem ler, nem escrever. E então, esta é apenas mais uma hipótese absurda e descabida para a minha paralisia intelectual e literária.

Mas ainda temos a questão da espionagem da Dilma e da Petrobrás. É isso! Por que não havia pensado nisso antes. Estou com bloqueio por que estamos sendo alvo de espionagem norteamericana e talvez estes meus textos, tão úteis à nação, podem estar sendo copiados e editados entre os americanos (do norte, é claro) sem eu o saber... e por isso estou me sentido acuado... Mas não seria isso paranoia de minha parte? Não deveria solicitar a Dilma Roussef que enviei o embaixador para os Estados Unidos, não para pedir explicações (que eu sei que essas não serão dadas.), mas para pedir perdão por esta minha paranoia e pelo bloqueio pelo qual estou passando. Afinal a falta de textos novos que envio para este jornal (e mando por e-mail) não estão chegando também nas centrais de espionagem americana, e por isso devo pedir desculpas, afinal meus textos devem ser de extrema importância para a segurança nacional.

Afinal os meus textos trabalham a resignação de um professor de um país de 3º mundo que brinca de educação, mas que sabe elaborar índices de aproveitamento maravilhosos, com relatórios impressionantes e com propostas de trabalhos escolares capazes de transformar alunos em estudantes do primeiro mundo.

Acho que vou parar por aqui... não quero surpreender a todos com as minhas habilidades intelectuais e literárias.... Desculpe, antes de encerrar eu não posso deixar de parabenizar a cidade de Itaúna pelos seus 112 anos de emancipação político-administrativa. Parabéns, Itaúna! Agora temos um governo que merecemos!!! Isso é que é “Cidade Educativa”! Sua gente te sente crescer!.

 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013


Soneto ao Cristo do alto da serra


Geraldo Fonte Boa

 
De braços abertos erguidos no alto do monte

Abençoe o povo que tem em Ti um horizonte.

És símbolo universal do amor maior, da paz

Ícone da fé que a cada dia se refaz.

 

Nossos olhos se erguem para ver-Te nas alturas

Oh, grandiosa imagem do nosso Redentor!

És força e esperança em nossa bravura!

Cravado em Teu peito está a prova de nosso amor!

 

Celebramos Tua presença sobre a cidade

Oh! Redentor de braços abertos na serra,

Conduza todo o povo de nossa terra!

 

Renove a fé primeira que fez levantar

Tua magnífica imagem neste horizonte.

Sede, pois, de todos nossos sonhos, fonte!

sexta-feira, 9 de agosto de 2013


MANIFESTAÇÕES, MÁSCARAS, MASCARADOS, BLACK BLOC, ETC E TAL.

O Gigante acordou, mas voltou a dormir?! Os protestos continuam, embora mais timidamente. Não podemos esquecer que alguns jovens continuam protestando, mas agora com um simbolismo um pouco mais focado e, ao mesmo tempo, um pouco mais incisivo, principalmente na questão da violência, na destruição de patrimônio público e privado (chamado por eles de símbolos do capitalismo). E então, acredito que este é um fato importante e que de certo modo cabe-nos algum tipo de reflexão sobre a entidade que comanda os jovens que, de rosto coberto, protestam contra… Contra o que, mesmo?

O fato é que um bando de mascarados cria uma imagem bastante simbólica. Forte, certamente sim, e que atrai o olhar de quem passa ao lado, não resta dúvida, mas que não atrai muita gente, não cria multidão de seguidores, e, por isso mesmo não expressa a “vontade popular”. Neste sentido, não representa aquele coro “vem pra rua, vem, você também” que funcionava como um catalisador e ia agregando milhares à multidão.

Desta forma este pequeno grupo, classificados por alguns de “baderneiros”, por outro de “vândalos”, se constitui como um grupo monolítico, hermético, quase impermeável. E os gritos, as ameaças, a coação, as estocadas, a covardia de quem tapa o rosto para ganhar coragem de enfrentar o que não consegue enfrentar de cara limpa é o que é mais evidente. Lembram-me um pouco, é claro com as devidas ressalvas e diferenças, a Ku Klux Klan vestida de preto. Uma KKK pós-modernista, onde o alvo principal, não é o negro ou o racismo exacerbado, mas o capitalismo. Mas do mesmo jeito não aceitam o diálogo, mas o “Destruir” é a chave de sua própria ação: Destruir os governos, as instituições, o capitalismo, a liberdade de imprensa, enfim o diálogo. E o que propõe? O que construir no lugar? Destruir por destruir?!

Esses homens – jovem na sua maioria – mascarados denominam-se, dentre outros grupos, de Black Bloc. E o que seria o Black Bloc? Olhando sobre este grupo na rede mundial de computadores, eles se definem não como um movimento, mas apenas como uma “estratégia”, e, como estratégia, não possuem um objetivo, quer apenas ser processo. Um meio sem um fim, sem um propósito. No entanto, há outras leituras possíveis sobre o Black Bloc. O filósofo e professor da Unicamp Marcos Nobre diz que "O black bloc' questiona a fronteira do que é legítimo, da violência como arma política e não como crime", destacando, no entanto, que há ainda um “parâmetros de performance", ligados à força da imagem durante as depredações.

Fazendo uma pesquisa no site “Observatório da Imprensa” encontrei uma artigo denominado “A origem dos homens de preto” de Sérgio da Motta Albuquerque. Este artigo relata a história deste grupo denominado de Black Bloc. Isso talvez possa ajudar você a tomar conhecimento do desenvolvimento das ações deste grupo. Ao ler este artigo percebe-se que os mascarados do Black Bloc é anterior ao surgimento da mídia eletrônica. Sendo assim não podemos colocá-los como filhos da mídia eletrônica, isso não quer dizer que não devemos deixar de reconhecer que a mídia eletrônica, de modo particular as “redes sociais” se constitui como um novo “front” para as batalhas de agora. E, por usar as rede sócias encontra no meio de uma juventude, que não quer pensar muito em propostas concretas, mas que apenas buscam um espaço para a manifestação, para “ir à luta”, mesmo que não seja por nada, por um motivo qualquer, e assim atende o clamor dos Black Bloc Brasil e saem por aí para “quebrar os símbolos do capitalismo” sem, no entanto, levar em consideração que utilizam de um dos símbolos mais recentes do capitalismo para se organizar – a internet.

Então investidos e vestidos dos símbolos do movimento Black Bloc -  roupas pretas, máscaras ou capuz a cobrir os rostos,- parecem inspirar-se nos grupos antiglobalizantes (embora utilizam-se da Rede global de comunicação denominada internet) presentes na Europa desde os anos 1980. Contradição, ou apenas mais uma característica de um grupo de jovens que não se preocupam em tomar posicionamentos críticos sobre sua própria ação?

Para encerrar relembro os ensinamentos dos filósofos iluminista do século XVIII, mais especificamente, os de Voltaire que disse que “posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”. Assim, defendo o direito de todos manifestarem suas ideias e suas insatisfações, mas eu, de modo particular, estou fora das manifestações do tipo Black Bloc. Faço isso de forma consciente, visto que não acredito em um movimento que quer ser apenas um meio, um processo e que não tem nada de concreto para oferecer, ou se os tem não estão claros. Não quero “amarrar a vaca para outro mamar.” Desejo aos estão nesta luta sorte na construção de seu projeto político, seja ele qual for, mas que tenha um projeto, uma proposta. Que suas escolhas sejam conscientes, assim como acredito que a minha o é. Espero que não deixem transformar suas mentes e seus cérebros em meras extensões ou HDs externos, ou espaços nas “nuvens” virtuais de ideias, também virtuais, de quem você não conhece e que também não conhece você, embora saibam que podem influenciar e contar com a sua energia a fim de colocar seus propósitos como a “ordem do dia”. Pense nisto antes de “ir pra rua”.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013


POR UMA ÉTICA HUMANISTA.


 

Acredito que todos acompanharam – uns mais, outros menos - os pronunciamentos do Papa Francisco durante o seu trabalho pastoral junto a Jornada Mundial da Juventude, ocorrida no Rio de Janeiro. Os seus discursos falam por si só e não carece de nenhum apêndice explicativo. A forma simples de sua comunicação, sua postura de estar sempre disponível, sua simplicidade, sua necessidade de estabelecer contato direto com o povo tornou-se, durante todo o período de sua visita, uma marca registrada. Mas a simplicidade de suas palavras não é, no entanto, ausência de profundidade. Algumas características dos pronunciamentos do Papa Francisco são a brevidade (pronunciamento curtos), a didática (geralmente dividida em três pontos chaves) e a verticalidade. Por isso estes pronunciamentos exigirão, de quem deseja conhecer seu pensamento, um debruçar atento.

Não farei nenhuma análise dos pronunciamentos do Papa Francisco aqui. Hoje meu objetivo é outro. O que quero aqui é pautar dois pontos que julgo importantes: a exclusividade da Globo News em conseguir a entrevista com o Papa Francisco e algumas falas do próprio Papa Francisco nesta exclusiva.

Quanto a questão da exclusiva concedida ao jornalista Gerson Camarotti, da Globo News coloca-nos numa situação de, no mínimo, desconfiança. Isso pelo histórico de parcialidade e de posicionamentos ideológicos da Rede Globo, e dentro desta rede se coloca a Globo News. Esta exclusividade é por si só questionável e nos faz pensar, ou suspeitar, de quais mecanismos teriam sido utilizados pela Globo News para conseguir tal exclusiva. Esta exclusiva teria sido um esforço pessoal do jornalista Gerson Camarotti? Houve “lobby” (influência ou outros mecanismos) para se obter tal exclusiva? Por que a Globo News? Que setores da Igreja teria interesses neste alinhamento com a Globo News? Estas questões eu não consigo responder. E acredito que as respostas não são simples e nem únicas, e que talvez sejam até inconvenientes. Mas isso não tira o mérito do que fora apresentado nesta exclusiva.

Vamos agora ao segundo ponto deste texto: alguns detalhes do que diz o Papa Francisco neste exclusiva. Sobre a questão da segurança ele diz ser indiciplinado, mas afirma que “não tenho medo. Sou inconsciente, não tenho medo. Sei que ninguém morre de véspera. Quando for minha vez, o que Deus permitir, assim será.”. E continua explicando o porque fez tirar do papamóvel os vidros laterais “se você vai estar com alguém a quem ama, amigos, e quer se comunicar você não vai fazer essa visita dentro de uma caixa de vidro?” e ainda “se venho visitar gente, e quero tratá-las como gente. Tocando-as.  Quanto aos problemas que cercam a Cúria Romana, ele afirma que “há muitos santos” e há outros que “agem mal” e que “Faz mais barulho uma árvore que cai do que um bosque que cresce”. Diz que há um clamor por reformas na Cúria Romana e que para tanto já foi nomeado uma comissão composta de oito cardeais, que deve ouvir e colher sugestões através de Conferências Episcopais e que estas sugestões estão serão analisadas em uma primeira reunião prevista para os dias 1, 2 e 3 de outubro de onde sairá uma pauta para as reformas, que “são sérias” e “precisam ser amadurecidas” e conclui que a “Igreja sempre precisa ser reformada”, afinal a “Igreja é dinâmica” e o que servia para o século passado não serve para o tempo de agora.

Quando arguido sobre a sua simplicidade o papa separa os dois aspectos apresentados pelo repórter. Quanto ao uso de veículos simples o Papa confirmou a necessidade de se ter um veículo para a realização dos trabalhos da Igreja, mas isso não significa que tenha que ser um carro luxuoso. Quanto a sua escolha em morar na Casa Santa Marta e não no Apartamento Papal, diz o Papa que “não foi tanto por uma questão de simplicidade... mas tem a ver com o meu modo de ser. Eu não posso viver só. Não posso viver fechado. Preciso de contato com as pessoas”. Além disso, afirma que agora a Igreja exige uma “vida mais simples, mais pobre”.

Outro ponto apresentado ao papa foi a questão da perca de fiéis católicos para outras denominações religiosas. O Papa Francisco disse que não conhece as causas, nem os números, e que embora não “saberia explicar” as causas deste fenômeno, tem como hipótese o distanciamento existente entre a Igreja (a hierarquia) e os fiéis. E assim diz “Para mim é fundamental a proximidade da Igreja. Porque a Igreja é mãe, e nem você nem eu conhecemos uma mãe por correspondência. A mãe dá carinho, toca, beija, ama. Quando a Igreja, ocupada com mil coisas, se descuida dessa proximidade, e só se comunica com documentos é como uma mãe que se comunica com o seu filho por carta. (…) Esta falta de proximidade, de sacerdotes. (…) ou seja a falta de proximidade” e conclui: “A mãe faz assim com o filho: cuida, beija, acaricia e o alimenta. Não por correspondência. Proximidade. Eu quero uma Igreja próxima.”

Quanto aos protestos dos jovens no Brasil, o Papa Francisco diz “não conheço os motivos dos protestos dos jovens.” e não seria prudente pronunciar sobre este assunto, mas havia um ponto que merece destaque “um jovem que não protesta não me agrada. Porque o jovem tem a ilusão da utopia, e a utopia não é sempre negativa. A utopia é um respirar e olhar adiante. O jovem é mais espontâneo, não tem tanta experiência de vida, é verdade. Mas a experiência nos freia. Ele tem mais energia para defender suas ideais. O jovem é essencialmente um inconformista. Isso é muito lindo! Isso é algo comum a todos os jovens. Então eu diria, de uma forma geral, que é preciso ouvir os jovens, dar-lhes meios de se expressar e cuidar para que não sejam manipulados.(…) Há pessoas que buscam a exploração de jovens. Manipulando essa ilusão, esse inconformismo que existe. E depois arruínam a vida desses jovens.”.E destaca que sempre diz aos embaixadores que vão a Roma que “O mundo atual, em que vivemos tinha caído na feroz idolatria do dinheiro. E que já uma política mundial muito impregnada pelo protagonismo do dinheiro. Quem manda hoje é o dinheiro. Isso significa uma política mundial economicista, sem qualquer controle ético, um economicismo autossuficiente e que vai arrumando os grupos sociais de acordo com essa conveniência.(…)Quando reina no mundo a feroz idolatria do dinheiro, se concentra muito no centro. E as pontas da sociedade, os extremos são mal atendidos, não são cuidados e são descartados. Até agora vimos claro, como se descartam os idosos. Há toda uma filosofia para descartar os idosos. Não servem. Não produzem. Os jovens também não produzem muito. É uma carga que precisa ser formada. O que estamos vendo agora e a outra ponta, a dos jovens, está em vias de ser descartada. O alto percentual de desemprego entre os jovens na Europa é alarmante.(…) Então para sustentar este modelo político mundial estamos descartando os extremos. (…) Descartando ambos, o mundo desabava.”  E conclui que “Falta uma ética humanista em todo o mundo.(…) Hoje, há crianças que não tem o que comer no mundo. Crianças que morrem de fome, de desnutrição,(…) Há doentes que não têm acesso a tratamento. Há homens e mulheres que são mendigos de rua e morrem de frio no inverno. Há crianças que não tem educação. Nada disso é notícia. Mas quando as bolsas de algumas capitais caem 3 ou 4 pontos, isso é tratado como uma grande catástrofe mundial. Esse é o drama desse humanismo desumano que estamos vivendo.”

E por fim, quanto ao tema do ecumenismo, do diálogo com outras religiões e crenças a resposta do Papa Francisco foi de abertura. “Creio que é preciso estimular uma cultura do encontro, em todo o mundo.(…) Cada religião tem suas crenças. Mas, dentro dos valores de sua própria fé, trabalhar pelo próximo. E nos encontrarmos todos para trabalhar pelos outros. (…) Temos que chegar a um acordo (…) Hoje a urgência é de tal ordem que não podemos brigar entre nós, à custa do sofrimento alheio. Primeiro trabalhar pelo próximo, depois conversar entre nós, com muita grandeza, levando em conta a fé de cada um, buscando nos entendermos. Mas, sobretudo hoje em dia urge a proximidade. Sair de si mesmo para solucionar os tremendos problemas mundiais que existem. Creio que as religiões, as diversas religiões, não podem dormir tranquilas enquanto exista uma única criança que morra de fome, ou sem educação. Um só jovem ou idoso sem atendimento médico. (…) Não vai adiantar nada falar de teologias se não tivermos a proximidade de sair para ajudar e acolher o próximo, sobretudo neste mundo em que se cai tanto da torre (referindo-se à torre de Babel e aos abandonados deste mundo) e ninguém diz nada”.

Assim as palavras do Papa Francisco nos apontam alguns caminhos importantes neste momento de profundas de mudanças e reinvidicações, não só no Brasil, nas no mundo. Talvez a “ética humanista”, apontada pelo Papa, possa ser um farol a nos indicar um caminho, independente de sua crença religiosa. Tomara que esta mensagem se transforme em realidade, não só no seio da Igreja Católica, mas que seja uma luta de todos.

 

sexta-feira, 17 de maio de 2013


Ócio criativo: tempo livre e a negação do ócio (negócio).

fonte: http://gramofonelunar.wordpress.com/2011/12/15/alma-acorrentada/

E como não posso esquecer a filosofia, nem em meu tempo livre. E por falar em “tempo livre” uma coisa que ficou comum é o ditado popular “enquanto descanso, carrego pedra”. Mas o pior de tudo isso é que as pedras nem são minhas, nem para o meu uso... Pois, então, no mês de fevereiro deste ano a Revista “Ciência & Vida – Filosofia”, Edição 79, publicou uma análise filosófica sobre o processo de apropriação do tempo livre do trabalhador. Segundo a análise filosófica este processo de apropriação do tempo livre se dá de forma camuflada através de uma série de mecanismos que, pouco a pouco, vai se tornando atividade normal para o trabalhador, de tal forma que ele não tem consciência do próprio processo de apropriação deste tempo livre.

Como não temos como promover uma reflexão filosófica sem falar em Karl Marx – fundador do marxismo, embora ele não seria marxista, como dizem alguns filósofos. Para Marx o trabalhador torna-se uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias ele cria, isso considerando o tempo de trabalho normatizado e formal. Mas como as mercadorias produzidas por vários trabalhadores não físicos, concretos, mas são ideias, criatividade, emoção e inovação, o sistema capitalista (composto por toda a rede de relações produtivas existente dentro do próprio sistema) vai buscando meios pra tornar esta produção mais eficiente e dinâmica.

Os mecanismos utilizados pelo sistema capitalista de apropriar do tempo livre do trabalhador parte, conforme salienta Adorno e Horkheimer, em que “a diversão é o prolongamento do trabalho no capitalismo tardio. Ela é procurada por quem quer escapar ao processo de trabalho mecanizado, para se pôs de novo em condições de enfrenta-lo”. Assim o nosso tempo de “diversão”, isto é, o nosso tempo livre, passa a não ser mais entendido como tempo de liberdade ou de reapropriação da existência (conforme o filósofo Serge Latouche – 1940), mas é visto como uma “escapada para fora do sistema para retomá-lo novamente. Paulatinamente este “tempo livre” do trabalhador vai sendo preenchido por apelos comerciais, por atividades que promove o envolvimento do trabalhador que passa a sentir necessidade de ocupá-lo com atividades que visa o seu próprio envolvimento no processo do trabalho – disfarçado de aperfeiçoamento, cursos de reciclagem profissional. Mas, mesmo que isso não ocorra, ou que seja considerado “normal”, há ainda atividades mais simples ainda onde podemos perceber esta forma de apropriação do tempo livre. Trata-se daquela preciosa fugidinha de fim de semana para o sítio ou outra atividade de lazer qualquer ganha sentido crucial de descanso ou intervalo entre trabalhos para restabelecer as energias necessárias à aplicação por mais atividade produtiva, legitimando-se assim o lazer como uma finalidade que promove o fortalecimento das relações laborais ao invés de proporcionar a superação crítica destas. Assim a pretensa liberdade do indivíduo é em verdade conduzida pela vontade dos outros (o capitalista). Sem contar a forma mais direta em que o funcionário, além de trabalhar nas horas normais (e pelas quais recebe salário), ainda leva serviço pra casa (só pra citar uma categoria, não a única, mas a mais evidente: os professores) sem receber nem ser reconhecido por tal atividade.

Mas pra fugir deste papo macabro, vou fugir (nem que seja mentalmente) para Atenas do tempo de “Péricles em que havia quase mais feriado que dias úteis”, conforme a o sociólogo italiano Domenico de Masi em sua obra O futuro do trabalho. Nela, de Masi explica detalhadamente todas as celebrações, cultos e concursos líricos e musicais daquela civilização grega antiga. Mas completa: “Tratava-se de uma reflexão alegre e coral, de cujo húmus se originou uma das maiores civilizações dos últimos tempos. Tratava-se do ócio elevado à condição de arte”. No seu estudo sobre o Ócio Criativo, de Masi diz que a sociedade pós-industrial precisa buscar três elementos para alcançar tal condição: comércio, estudo e raciocínio lógico. Assim, segundo ele, para a atividade criativa, estudo, trabalho e tempo livre precisam se confundir. “...o homem, tendo transferido às máquinas o trabalho cansativo, enfadonho, nocivo e banal, poderá se dar ao luxo de atividades criativas em que estudo, trabalho e tempo livre finalmente conviverão”.

O que ocorre hoje, no entanto, é que os trabalhadores, em raros momentos de descanso, o desfrutam carregado de culpa, quando, até por essa culpa, não levam trabalho para a casa nos finais de semana e períodos que não estão na empresa ou no escritório. As férias e períodos de feriado para os trabalhadores da sociedade pós-moderna, segundo de Masi, representam uma “improdutividade ocupacional” ao qual os trabalhadores são forçados. E para terminar, gostaria de convidar alguns colegas de profissão (professores) para uma cervejinha em minha casa no próximo sábado, mas como não vai ser possível, pois os sábados já se transformaram em dia de trabalho (reuniões pedagógicas, cursos, treinamentos, conselhos de classe...) fica para o sábado que eu estiver livre – quem sabe quando aposentar-me, isto é, se eu chegar lá!

Fonte: Revista “Ciência & Vida – Filosofia”, Edição 79.

sexta-feira, 10 de maio de 2013


 “De Opara a São Francisco”

 

Conhecer um pouco da história do nosso “Velho Chico”, ou o rio da integração nacional, o Rio “São Francisco” é recuperar, trazer à memória as tradições de um povo, de milhões e milhões de pessoas, que, de alguma forma, viveu a vida do rio. Começando os “indos” da etnia Macro-Tupi que ocuparam suas margens, pescaram em suas águas, viveram suas crenças e inventaram suas lendas. “Opara” como era chamada na língua desses nativos de nossa terra. “Opara” significa neste tronco linguístico “rio-mar” devido, certamente, o volume e dimensão de suas águas.

Descoberto pelos navegantes, em nome da coroa portuguesa, Américo Vespúcio e André Gonçaves, no dia 04 de outubro de 1501. E sendo o dia 04 de outubro. dia dedicado a São Francisco de Assis, e, por isso esses navegadores nomearam, sem saber que ele já possuia um nome. Assim passou a existir o rio São Francisco para os europeus, mas ele continuou a ser “Opara” -  o rio-mar – tanto para os nativos como também para os mestiços, filhos dos nativos e dos portugueses. E, talvez, por isso o nosso “Rio São Francisco” continua sendo conhecido por alguns de “Opara”.

Assim “após percorrer 2.700 quilômetros (terceiro maior rio do Brasil), serpenteando pelo cerrado, cruza cinco estados brasileiros (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe) até desaguar no oceano Atlântico, entre os estados de Sergipe e Alagoas, na Praia do Peba (estado de Alagoas)” e “sua bacia hidrográfica tem 640.000 km² de área.” Mas muito mais que um rio, o “Opara” (São Francisco) é a “força de todas as correntes étnicas do Brasil, porque uniu as raças desde as camadas humanas mais antigas às estruturas étnicas e políticas mais recentes do País.” Mas é também responsável pela aproximação do sertão ao litoral e “integra homens e culturas”(1).

No entanto, o rio “Opara” continua sendo o centro de interesses do homem atual e de grande importância no imaginário das pessoas que habitam a região. Acredito que o será também das futuras gerações. E a forma como este rio nos influencia é ainda incomensurável. Prova disso é o belíssimo espetáculo apresentado pela escola de cultura do SESI de Itaúna. Os meninos e meninas das escolas de dança (balé e dança contemporânea) e a galera do curso de teatro da Escola de Cultura do Sesi resolveram se unir e presentear a população de Itaúna com a história do Rio São Francisco.

A primeira apresentação ocorreu no final do ano passado (2012) no teatro Sílvio de Matos (Espaço Cultural). Foi um sucesso e contou com grande participação do público. Mas, mais do que isso, envolveu todos os alunos da escola de cultura, seus familiares, amigos e muita gente da gerência e da Escola Sesi de Itáuna.

E agora, nesta semana a Escola de Cultura voltou a apresentar o espetáculo “De Opara a São Francisco”. Foi mais uma oportunidade, não só de mostrar o belíssimo e valioso trabalho das professoras da Escola de Cultura do Sesi, mas serviu de reforço na memória daqueles garotas e garotos a história do nosso “Opara”. O melhor de tudo, no entanto, é que a apresentação deste maravilhoso espetáculo ocorreu no teatro Sesi-Vânia Campos, situado às margens do Rio São João, subafluente de “Opara”. Assim as águas de nosso “São João” (e qual seria o nome deste pequeno rio na língua dos nativos de nossa terra?) possa levar ao “São Francisco” esta singela e belíssima homenagem. E que os “espíritos das águas” saibam que as histórias do “Opara” continuam inspirando outros jovens professores e estudantes a contarem, cantarem e dançarem às margens de suas águas (afinal as águas de nosso São João, serão logo mais abaixo as águas do rio Pará e que comporão as águas do “Opara”). Parabéns à Escola de Cultura do SESI, parabéns a toda a equipe da Escola Sesi de Itaúna pela belíssima apresentação! Parabéns meninos e meninas (extensivo aos familiares) pelo brilhante empenho na realização deste espetáculo! Vocês brilharam!

 

Fonte consultada:

(1) MACHADO, Regina Coeli Vieira. Rio São Francisco. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisa escolar/. Acesso em: 08/05/2013. Ex: 6 ago. 2009.