SOBRE NADA II
Você
já ouviu falar em Aparício Torelly? Provavelmente não. Mas pelo sim, pelo não:
Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, este gaucho-uruguaio, pelo menos é o que
consta em seu título de eleitor, mas há outros documentos que o naturaliza Uruguaio,
o que não importa, visto ser ele um cidadão do mundo. Torelly, também conhecido
pelo falso título de Barão de Itararé, foi jornalista, escritor e o pioneiro no
humorismo político brasileiro. Dentre as suas expressões no campo do humorismo
está a frase, que julgo bastante oportuna para os dias atuais da política
brasileira, “O mundo dos vivos é cada vez mais governados pelos mais
vivos”.
Silogismos à parte, Brasília
seria a terras dos “mais vivos”( ou dos mais safados?). E já vou pedindo
desculpas aos cidadãos de Brasília que não frequentam os gabinetes, os palácios
e os órgãos públicos do governo (sobrou alguém?), afinal não quero ofeder
nenhum inocente, e vai que um dia eu, por ironia do destino, venha a ocupar uma
dessas repartições públicas de Brasília! (não que eu pretenda!).
A reforma política, que não sai
do papel porque não interessa o(s) partido(s) que está(ão) no poder, prometida
pela própria presidente da República, Sra. Dilma Roussef, que nós “os vivos”
acreditamos ser a autoridade máxima da nação, após a pressão popular (ou “fogo
de palha”) dos movimentos de rua em julho deste ano. Então os “mais vivos”
aproveitam da situação para empurrar os prazos impedindo “mineiramente” (e fico
triste em utilizar este termo por ser de Minas) as mudanças políticas e
garantindo pelo menos mais um mandato nos cargos de destaque (bem remunerados)
da nação.
E, para aproveitar desta
situação “os mais vivos” montam suas bancas nos palácios, bastidoress,
corredores, para uma verdadeira revoada entre as legendas partidárias (32
partidos, mas vai chegar aos 40, afinal não dá para fazer um(a) “Alibabá e os 40
ladrões“ com 32 partidos!). No Brasil os nossos deputados, senadores, chefes do
executivo (1º e 2º escalão), vereadores e por que não, os altos cargos dos
poder judiciário defendem os interesses dos partidos, embora falam que é da
nação brasileira. O partido é mais importante que o brasileiro, e muuiiiito
mais que o país. O partido é o barco governado por eles. O partido, que é
apenas uma pequena parte de um mesmo grupo, afinal dividido em partes fica mais
fácil comer a pizza, o bolo, o biscoito ou qualquer outra coisa que se quer
comer.
Cada partido no Brasil,
infelizmente, tem uma única ideologia, se é que é ideologia (talvez seja
apenas uma única ideia, “ficar no poder
para manter seus privilégios) e o país dos “vivos” devem continuar fazendo o
seu papel: trabalhando, mendigando e contribuindo com seus parcos(?) impostos
para manter o sistema funcionando.
Enquanto isso, os professores
do Rio de Janeiro, que são apenas “vivos”, são tratados como bandidos (daí a
ação da polícia com sua tropa de choque – e haja choque), somente porque querem
participar do processo de elaboração de seus planos de cargos e salários. Já os
professores do município de Itaúna, que também não participaram e que ainda não
se mobilizam para participar da elaboração de seu plano de Cargos e Salários,
cuja minuta está pronta desde o ano 2003 (portanto 10 anos), e que os “mais
vivos” não tiveram a coragem de enviar para os outros “mais vivos” aprovar,
porque poderia gerar algumas dificuldades financeiras (não pela falta de
dinheiro, mas porque sobraria menos para “os mais vivos” ou perderia uma
pequena fatia do bolo ou da pizza “pública” - deste público específico). E por
falar em plano de cargos e salários, que segundo a LDB, teria como um dos
pilares básicos a “valorização” dos profissionais da educação, e por
valorização a categoria (ou classe?) compreende como melhoria nos salários e na
garantia de seus direitos ao longo da carreira do magistério, mas que os “mais
vivos” querem entender como ampliação do controle sobre a categoria de
trabalhadores, como o aumento da carga horária, o controle do tempo extraclasse,
o controle dos processos e procedimentos, sem, no entanto, garantir a
equiparação salarial conforme a titulação dos profissionais da educação
prevista na Lei do Piso Nacional de Educação (Lei 11.738/2008).
E nesta letargia político-administrativa
do governo municipal (dos “mais vivos) e de inoperância da educação pública
(dos subalternos dos “mais vivos” que se acham “mais vivos”, mas que são apenas
“vivos”) o Plano de Carreira não é discutivo com a categoria (ou classe?). E,
ao mesmo tempo, a categoria que também se acha “viva”, fica esperando pela ação
dos “mais vivos” que não pretendem agir.... Foi por este motivo que passaram-se
dez anos e o Plano de Carreira está em fase de análise (profunda, mas tão
profunda que é inacessível aos “vivos” e aos “mais vivos”). E nesta análise
profunda, devido a longa duração de análise, será preciso reformular o Plano de
carreira, sem falar em Cargos e salário (visto se tratar de um tema complexo e
espinhoso) não será encaminhado para a aprovação dos outros “mais vivos” – os
do “poder legislativo” e muito menos para discussão (porque os “vivos”
acreditam que não resolve discutir, pois não acreditam mais em uma aprovação).
E neste impasse, a Lei do Piso não é cumprida, a escola não muda, a categoria
(ou classe?) continua na mesma e os “mais vivos” continuam governando os
“vivos”. E é por isso que o Barão de Itararé, o nosso brasileiro uruguaio está
sendo ressuscitado e celebrado, não por ser brasileiro ou uruguaio, mas por
constatar que no “mundo dos vivos é cada vez mais (e mais, e mais, e mais)
governados pelo mais vivos”. Afinal é ético não ter ética. Sendo assim ser
ético é anti-ético (com ou sem hífen?).
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