SOBRE NADA
Tenho
relutado muito para escrever. Tem muito assunto que mereceria uma reflexão, mas
que não encontra em mim ressonância suficiente para expressar, em palavras, -
talvez, quem sabe, em gestos, - o que penso ou pelo menos uma opinião equilibrada,
sincera ou pelo menos que ganhe um pouco mais de sobriedade. Então a pergunta
que faço é: por que não estou conseguindo expor em palavras sobre esses temas?
Por que estou tão desmotivado em escrever? Por que deste bloqueio. Geralmente
não tenho estes problemas... sei que os meus textos não são os melhores, nem os
mais verticais ou críticos, mas também não são os piores... faço sempre uma
avaliação crítica sobre o que escrevo e sei ponderar, a tal ponto que garanta a
continuidade de minha produção literária, se é que posso assim classificar.
Já
passei por momentos parecidos como o que estou vivendo agora, mas nunca duraram
tanto, nunca foram tão áridos... é terrível. Mas hoje resolvi forçar um pouco e
ver o que acontece. Iniciei então a falar sobre o problema como uma forma de
“esquentar os motores” e criar as “pré-condições” de um texto. É mais difícil
do que se imagina.
Então
estou pensando em levantar algumas hipóteses sobre o que está acontecendo
comigo. A primeira hipótese pode se referir ao momento em que estou vivendo. Um
certo desapontamento com o meu exercício profissional. Afinal, depois de 20
anos como professor a impressão que tenho é que estou ficando velho e
desaprendendo a lidar com os jovens de hoje. Há um descompasso entre o que penso
ser importante ensinar e o que os alunos querem aprender (e na maioria das
vezes parece que eles não querem aprender). Os meus alunos estão o tempo todo
com o celular (sempre as escondidas) nas mãos, trocando mensagens durante as
aulas, fone de ouvido (escondem o quanto podem), ou cuidando de algum
“bichinho” virtual.
E,
enfim, quando chega na hora de uma avaliação os resultados não podem ser
piores, e ainda sou obrigado a elaborar uma nova avaliação visando recuperar os
resultados, afinal não são admissíveis índices negativos na unidade escolar,
mas alunos, sim. E, antes, depois de aplicar a prova, uma vez corrigidas
entregava aos alunos e enviava à secretaria escolar para a elaboração dos
boletins escolares. Agora não, depois de corrigidas tenho ainda que elaborar
uma planilha que demonstre quais das questões os alunos tiveram melhor
aproveitamento (se é que seja possível) e quais das questões de pior
aproveitamento (quase todas). E ainda tenho que escrever um relatório onde devo
expressar possíveis hipóteses para o “fracasso” dos alunos (embora todos já
sabem, mas ninguém quer assumir).
Depois
encaminho para a secretaria toda a papelada, com propostas de ações visando
recuperar o rendimento escolar de meus alunos... e vamos em frente... eu sou o
único culpado para o baixo rendimento escolar de meus alunos... eles
continuarão com seus celulares ligados e funcionando a todo vapor (sempre as
escondidas, é claro). Eu continuarei falando para as paredes, elaborando
avaliações, exercícios, administrando a falta de vontade e a falta de
perspectiva dos alunos... e se chamo a atenção de um aluno sou agredido, nem
sempre com palavras e ideias (porque se assim o fizesse eu poderia pelo menos
argumentar e quem sabe geraria um debate – e aí estaria no paraíso), mas com
olhares, sacarmos, gestos, expressões monossílabas... e tenho que aguentar
calado, afinal, como dizem as pedagogas escolares (com alguns meses de
experiência) “você é o adulto na relação” e então pergunto: que relação? Penso
que não existe nenhuma “relação” nisso que vem acontecendo... e saio da unidade
escolar com a sensação que estou cada vez mais desconectado com o mundo ao meu
redor... mais ignorante, ou quem sabe com menos capacidade intelectual...
embrutecido.
Percebo
que esta pode ser uma hipótese absurda e ainda tento enxergar uma luz no fim do
túnel. Acredito que esta situação não afeta em nada a minha capacidade e
vontade de escrever... o problema deve ser outro. Talvez seja a falta de
vergonha na cara de muitos políticos ou a falta de educação que os senhores
ministros do Supremo Tribunal Federal fizeram com a nação brasileira ao
aceitarem os “embargos infringentes” que até ontem ninguém sabia o que
significava... mas hoje sabemos que é um jeitinho para ajudar políticos a se
salvarem da condenação ou da cadeia. Pois no meu caso, não há “embargos
infringentes” que possa salvar a geração que estão nas escolas públicas, sem a
mínima perspectiva ou tão distraídas com seus celulares de última geração, mas
que não sabem ler, nem escrever. E então, esta é apenas mais uma hipótese
absurda e descabida para a minha paralisia intelectual e literária.
Mas
ainda temos a questão da espionagem da Dilma e da Petrobrás. É isso! Por que
não havia pensado nisso antes. Estou com bloqueio por que estamos sendo alvo de
espionagem norteamericana e talvez estes meus textos, tão úteis à nação, podem
estar sendo copiados e editados entre os americanos (do norte, é claro) sem eu
o saber... e por isso estou me sentido acuado... Mas não seria isso paranoia de
minha parte? Não deveria solicitar a Dilma Roussef que enviei o embaixador para
os Estados Unidos, não para pedir explicações (que eu sei que essas não serão
dadas.), mas para pedir perdão por esta minha paranoia e pelo bloqueio pelo
qual estou passando. Afinal a falta de textos novos que envio para este jornal
(e mando por e-mail) não estão chegando também nas centrais de espionagem
americana, e por isso devo pedir desculpas, afinal meus textos devem ser de
extrema importância para a segurança nacional.
Afinal
os meus textos trabalham a resignação de um professor de um país de 3º mundo
que brinca de educação, mas que sabe elaborar índices de aproveitamento
maravilhosos, com relatórios impressionantes e com propostas de trabalhos
escolares capazes de transformar alunos em estudantes do primeiro mundo.
Acho
que vou parar por aqui... não quero surpreender a todos com as minhas
habilidades intelectuais e literárias.... Desculpe, antes de encerrar eu não
posso deixar de parabenizar a cidade de Itaúna pelos seus 112 anos de
emancipação político-administrativa. Parabéns, Itaúna! Agora temos um governo
que merecemos!!! Isso é que é “Cidade Educativa”! Sua gente te sente crescer!.
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