quarta-feira, 2 de outubro de 2013


SOBRE NADA

 

Tenho relutado muito para escrever. Tem muito assunto que mereceria uma reflexão, mas que não encontra em mim ressonância suficiente para expressar, em palavras, - talvez, quem sabe, em gestos, - o que penso ou pelo menos uma opinião equilibrada, sincera ou pelo menos que ganhe um pouco mais de sobriedade. Então a pergunta que faço é: por que não estou conseguindo expor em palavras sobre esses temas? Por que estou tão desmotivado em escrever? Por que deste bloqueio. Geralmente não tenho estes problemas... sei que os meus textos não são os melhores, nem os mais verticais ou críticos, mas também não são os piores... faço sempre uma avaliação crítica sobre o que escrevo e sei ponderar, a tal ponto que garanta a continuidade de minha produção literária, se é que posso assim classificar.

Já passei por momentos parecidos como o que estou vivendo agora, mas nunca duraram tanto, nunca foram tão áridos... é terrível. Mas hoje resolvi forçar um pouco e ver o que acontece. Iniciei então a falar sobre o problema como uma forma de “esquentar os motores” e criar as “pré-condições” de um texto. É mais difícil do que se imagina.

Então estou pensando em levantar algumas hipóteses sobre o que está acontecendo comigo. A primeira hipótese pode se referir ao momento em que estou vivendo. Um certo desapontamento com o meu exercício profissional. Afinal, depois de 20 anos como professor a impressão que tenho é que estou ficando velho e desaprendendo a lidar com os jovens de hoje. Há um descompasso entre o que penso ser importante ensinar e o que os alunos querem aprender (e na maioria das vezes parece que eles não querem aprender). Os meus alunos estão o tempo todo com o celular (sempre as escondidas) nas mãos, trocando mensagens durante as aulas, fone de ouvido (escondem o quanto podem), ou cuidando de algum “bichinho” virtual.

E, enfim, quando chega na hora de uma avaliação os resultados não podem ser piores, e ainda sou obrigado a elaborar uma nova avaliação visando recuperar os resultados, afinal não são admissíveis índices negativos na unidade escolar, mas alunos, sim. E, antes, depois de aplicar a prova, uma vez corrigidas entregava aos alunos e enviava à secretaria escolar para a elaboração dos boletins escolares. Agora não, depois de corrigidas tenho ainda que elaborar uma planilha que demonstre quais das questões os alunos tiveram melhor aproveitamento (se é que seja possível) e quais das questões de pior aproveitamento (quase todas). E ainda tenho que escrever um relatório onde devo expressar possíveis hipóteses para o “fracasso” dos alunos (embora todos já sabem, mas ninguém quer assumir).

Depois encaminho para a secretaria toda a papelada, com propostas de ações visando recuperar o rendimento escolar de meus alunos... e vamos em frente... eu sou o único culpado para o baixo rendimento escolar de meus alunos... eles continuarão com seus celulares ligados e funcionando a todo vapor (sempre as escondidas, é claro). Eu continuarei falando para as paredes, elaborando avaliações, exercícios, administrando a falta de vontade e a falta de perspectiva dos alunos... e se chamo a atenção de um aluno sou agredido, nem sempre com palavras e ideias (porque se assim o fizesse eu poderia pelo menos argumentar e quem sabe geraria um debate – e aí estaria no paraíso), mas com olhares, sacarmos, gestos, expressões monossílabas... e tenho que aguentar calado, afinal, como dizem as pedagogas escolares (com alguns meses de experiência) “você é o adulto na relação” e então pergunto: que relação? Penso que não existe nenhuma “relação” nisso que vem acontecendo... e saio da unidade escolar com a sensação que estou cada vez mais desconectado com o mundo ao meu redor... mais ignorante, ou quem sabe com menos capacidade intelectual... embrutecido.

Percebo que esta pode ser uma hipótese absurda e ainda tento enxergar uma luz no fim do túnel. Acredito que esta situação não afeta em nada a minha capacidade e vontade de escrever... o problema deve ser outro. Talvez seja a falta de vergonha na cara de muitos políticos ou a falta de educação que os senhores ministros do Supremo Tribunal Federal fizeram com a nação brasileira ao aceitarem os “embargos infringentes” que até ontem ninguém sabia o que significava... mas hoje sabemos que é um jeitinho para ajudar políticos a se salvarem da condenação ou da cadeia. Pois no meu caso, não há “embargos infringentes” que possa salvar a geração que estão nas escolas públicas, sem a mínima perspectiva ou tão distraídas com seus celulares de última geração, mas que não sabem ler, nem escrever. E então, esta é apenas mais uma hipótese absurda e descabida para a minha paralisia intelectual e literária.

Mas ainda temos a questão da espionagem da Dilma e da Petrobrás. É isso! Por que não havia pensado nisso antes. Estou com bloqueio por que estamos sendo alvo de espionagem norteamericana e talvez estes meus textos, tão úteis à nação, podem estar sendo copiados e editados entre os americanos (do norte, é claro) sem eu o saber... e por isso estou me sentido acuado... Mas não seria isso paranoia de minha parte? Não deveria solicitar a Dilma Roussef que enviei o embaixador para os Estados Unidos, não para pedir explicações (que eu sei que essas não serão dadas.), mas para pedir perdão por esta minha paranoia e pelo bloqueio pelo qual estou passando. Afinal a falta de textos novos que envio para este jornal (e mando por e-mail) não estão chegando também nas centrais de espionagem americana, e por isso devo pedir desculpas, afinal meus textos devem ser de extrema importância para a segurança nacional.

Afinal os meus textos trabalham a resignação de um professor de um país de 3º mundo que brinca de educação, mas que sabe elaborar índices de aproveitamento maravilhosos, com relatórios impressionantes e com propostas de trabalhos escolares capazes de transformar alunos em estudantes do primeiro mundo.

Acho que vou parar por aqui... não quero surpreender a todos com as minhas habilidades intelectuais e literárias.... Desculpe, antes de encerrar eu não posso deixar de parabenizar a cidade de Itaúna pelos seus 112 anos de emancipação político-administrativa. Parabéns, Itaúna! Agora temos um governo que merecemos!!! Isso é que é “Cidade Educativa”! Sua gente te sente crescer!.

 

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