sábado, 12 de outubro de 2013



Sobre Nada III

Procurando luz no fim do túnel

Hoje eu fecho esta trilogia “Sobre Nada”. Os dois primeiros textos, de modo irônico (e segundo alguns leitores, cínico) abordei de forma “negativa” a situação brasileira atual, tanto na política quanto na educação. Alguns leitores enviaram para o meu e-mail algumas observações pertinentes e que merecem todo o meu respeito e uma resposta a estas provocações. Desde já agradeço aos leitores que enviaram suas críticas e suas sugestões. Fico feliz, sinal que estou sendo, pelo menos, lido. Mesmo que minhas ideias não sejam assim, tão importantes para a segurança nacional, e por isso mesmo, não são tão fundamentais para a espionagem americana, ou canadense... kkkkk (como se faz no facebook).
Na realidade, o que escrevo é parte do que estou vivendo e como eu vivencio esse processo. É sobre isso que escrevo. Não tenho a intenção de criticar ninguém, ou mesmo de colocar em cheque aos processos vivenciados. É na realidade uma tentativa de refletir sobre, de assimilar todo este processo pelo qual estamos passando. Ninguém pode negar que a situação do professor nas salas de aulas de hoje é preocupante, tensa e ao mesmo tempo conflituosa. Ser professor hoje é um desafio muito diferente de quando, por exemplo, iniciei minha carreira (23 anos atrás). Não tínhamos alunos com celulares em suas mãos, com seus fones de ouvido, com tanto acesso a informação (mesmo que não saibam o que fazer com elas), com livros didáticos de qualidade, com material disponível de forma tão abundante e tão diverso. Mas ao mesmo tempo, não podemos negar que os alunos não dão o devido valor a todo este material, visto que eles não passaram pela carência (de tudo isso) pelo qual passamos.
Embora temos que considerar que nós tínhamos uma coisa que muitos alunos hoje não têm: uma família estruturada, que acompanhava de perto e com responsabilidade a formação de seu filho. Uma família que, por não poder oferecer os recursos materiais necessários, dava atenção, acompanhava, responsavelmente e exigia dos filhos um atenção especial (as vezes de forma punitiva) para o desenvolvimento educacional, isso por que acreditavam que a educação (enquanto formação) era um bem em si.  
A realidade hoje é outra, a família não assume os filhos que têm, entregam aos cuidados da escola todo o seu processo educativo, inclusive a educação elementar (aquela de bons hábitos, de respeito, de ética) que deveria vir “do berço”. A escola assume assim a tarefa de oferecer lazer, educação elementar, formação acadêmica, formação humana de aceitar as diferenças, acompanhamento psicológico, educação disciplinar, alimentação, e agora com a ideia de escola complementar, ainda oferece o almoço e o banho para algumas crianças que não tem como ir em casa (por não ter ninguém – visto que o pai e a mãe, ou o pai, ou a mãe trabalha fora do dia todo). Então a escola – que é feito de gente (profissionais) nem sempre preparados para esta nova realidade – vem assumindo novos papéis e a família pouco a pouco se  desobriga da educação de seus filhos. E ainda tem que atender aos índices esperados do rendimento escolar (informação e formação acadêmica com conteúdos) de avaliações externas. Índices que nem sempre expressam a realidade vivida pelas unidades escolares, visto que estes números não consideram os desafios vivenciados dia a dia dentro destas unidades.
Assim, quando fazemos desabafos, de modo cômico (ou cínico?) é na realidade uma tentativa de externar uma situação vivida por um professor de uma cidade de médio porte, e que na realidade, pode ajudar a outros colegas que estão vivendo situações parecidas e que não conseguem se expressar e adoecem, se afastam, entram em pânico.
Não podemos negar que há valores e virtudes nestas unidades escolares. Dentre estas virtudes podemos apontar o esforço das escolas em implantar processos que buscam construir uma identidade da instituição que vive em um momento tão conturbado e de constante transformação. Além disso, não podemos negar que, apesar das dificuldades de alguns colegas, há profissionais responsáveis e comprometidos que trabalham muito e merecem todo o nosso respeito e nossos aplausos. É claro que continuo acreditando que seria preciso mais envolvimento em defesa de seus direitos e de sua participação nas políticas públicas voltadas para a educação e para a escola. Não só por salário, mas por melhores condições de trabalho, por uma carreira que garanta uma velhice saudável e digna.
A escola mudou muito nos últimos anos. Recursos existem – e nunca serão suficientes – tanto para os alunos como para os professores (poucos para estes, principalmente em nosso município, que ainda se limita ao quadro pintado na parede com o tradicional giz e uma pequena cota de fotocopias). Que a estrutura das escolas não são adequadas e que a falta de profissionais para um acompanhamento maior acompanhamento familiar, chamando a responsabilidade da família para o processo educacional de seus filhos...
Os desafios são enormes. Temos que vislumbrar, e não perder de vista, que o ideal é que um professor tenha uma carga horária de efetivo trabalho escolar, onde ele possa desenvolver suas atividades de ensinar e realizar suas atividades burocráticas extra-classe dentro da própria unidade escolar e que receba por este serviço (trabalho). E quando chegar em sua casa ele possa ter o direito de viver sua vida pessoal e familiar. Mas para isso é preciso um salário que garanta uma vida digna a este profissional (a todos os profissionais da educação). Esta é a luz no fim do túnel que precisamos almejar e que temos que perseguir. Que a escola seja um local onde o humano seja trabalhado, valorizado e plenamente desenvolvido. Até chegarmos lá, continuarei desabafando em meus textos... afinal não quero morrer com câncer, ou com úlcera, ou com depressão.... melhor não quero morrer.... não assim....
PARABÉNS PROFESSORES PELO SEU DIA!
ORGULHEM-SE, MESMO QUANDO O GOVERNO NOS NEGAM O DIREITO DE PARTICIPAR DO PROCESSO EDUCACIONAL DE NOSSO PAÍS, DE NOSSO ESTADO E DE NOSSA CIDADE.  

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