Sobre Nada III
Procurando luz no fim do túnel
Hoje
eu fecho esta trilogia “Sobre Nada”. Os dois primeiros textos, de modo irônico
(e segundo alguns leitores, cínico) abordei de forma “negativa” a situação
brasileira atual, tanto na política quanto na educação. Alguns leitores
enviaram para o meu e-mail algumas observações pertinentes e que merecem todo o
meu respeito e uma resposta a estas provocações. Desde já agradeço aos leitores
que enviaram suas críticas e suas sugestões. Fico feliz, sinal que estou sendo,
pelo menos, lido. Mesmo que minhas ideias não sejam assim, tão importantes para
a segurança nacional, e por isso mesmo, não são tão fundamentais para a
espionagem americana, ou canadense... kkkkk (como se faz no facebook).
Na
realidade, o que escrevo é parte do que estou vivendo e como eu vivencio esse
processo. É sobre isso que escrevo. Não tenho a intenção de criticar ninguém,
ou mesmo de colocar em cheque aos processos vivenciados. É na realidade uma
tentativa de refletir sobre, de assimilar todo este processo pelo qual estamos
passando. Ninguém pode negar que a situação do professor nas salas de aulas de
hoje é preocupante, tensa e ao mesmo tempo conflituosa. Ser professor hoje é um
desafio muito diferente de quando, por exemplo, iniciei minha carreira (23 anos
atrás). Não tínhamos alunos com celulares em suas mãos, com seus fones de
ouvido, com tanto acesso a informação (mesmo que não saibam o que fazer com
elas), com livros didáticos de qualidade, com material disponível de forma tão abundante
e tão diverso. Mas ao mesmo tempo, não podemos negar que os alunos não dão o
devido valor a todo este material, visto que eles não passaram pela carência
(de tudo isso) pelo qual passamos.
Embora
temos que considerar que nós tínhamos uma coisa que muitos alunos hoje não têm:
uma família estruturada, que acompanhava de perto e com responsabilidade a
formação de seu filho. Uma família que, por não poder oferecer os recursos
materiais necessários, dava atenção, acompanhava, responsavelmente e exigia dos
filhos um atenção especial (as vezes de forma punitiva) para o desenvolvimento
educacional, isso por que acreditavam que a educação (enquanto formação) era um
bem em si.
A
realidade hoje é outra, a família não assume os filhos que têm, entregam aos
cuidados da escola todo o seu processo educativo, inclusive a educação
elementar (aquela de bons hábitos, de respeito, de ética) que deveria vir “do
berço”. A escola assume assim a tarefa de oferecer lazer, educação elementar,
formação acadêmica, formação humana de aceitar as diferenças, acompanhamento
psicológico, educação disciplinar, alimentação, e agora com a ideia de escola
complementar, ainda oferece o almoço e o banho para algumas crianças que não
tem como ir em casa (por não ter ninguém – visto que o pai e a mãe, ou o pai,
ou a mãe trabalha fora do dia todo). Então a escola – que é feito de gente
(profissionais) nem sempre preparados para esta nova realidade – vem assumindo
novos papéis e a família pouco a pouco se
desobriga da educação de seus filhos. E ainda tem que atender aos
índices esperados do rendimento escolar (informação e formação acadêmica com
conteúdos) de avaliações externas. Índices que nem sempre expressam a realidade
vivida pelas unidades escolares, visto que estes números não consideram os desafios
vivenciados dia a dia dentro destas unidades.
Assim,
quando fazemos desabafos, de modo cômico (ou cínico?) é na realidade uma
tentativa de externar uma situação vivida por um professor de uma cidade de
médio porte, e que na realidade, pode ajudar a outros colegas que estão vivendo
situações parecidas e que não conseguem se expressar e adoecem, se afastam, entram
em pânico.
Não
podemos negar que há valores e virtudes nestas unidades escolares. Dentre estas
virtudes podemos apontar o esforço das escolas em implantar processos que buscam
construir uma identidade da instituição que vive em um momento tão conturbado e
de constante transformação. Além disso, não podemos negar que, apesar das
dificuldades de alguns colegas, há profissionais responsáveis e comprometidos
que trabalham muito e merecem todo o nosso respeito e nossos aplausos. É claro
que continuo acreditando que seria preciso mais envolvimento em defesa de seus
direitos e de sua participação nas políticas públicas voltadas para a educação
e para a escola. Não só por salário, mas por melhores condições de trabalho,
por uma carreira que garanta uma velhice saudável e digna.
A
escola mudou muito nos últimos anos. Recursos existem – e nunca serão
suficientes – tanto para os alunos como para os professores (poucos para estes,
principalmente em nosso município, que ainda se limita ao quadro pintado na
parede com o tradicional giz e uma pequena cota de fotocopias). Que a estrutura
das escolas não são adequadas e que a falta de profissionais para um
acompanhamento maior acompanhamento familiar, chamando a responsabilidade da
família para o processo educacional de seus filhos...
Os
desafios são enormes. Temos que vislumbrar, e não perder de vista, que o ideal
é que um professor tenha uma carga horária de efetivo trabalho escolar, onde
ele possa desenvolver suas atividades de ensinar e realizar suas atividades
burocráticas extra-classe dentro da própria unidade escolar e que receba por
este serviço (trabalho). E quando chegar em sua casa ele possa ter o direito de
viver sua vida pessoal e familiar. Mas para isso é preciso um salário que
garanta uma vida digna a este profissional (a todos os profissionais da
educação). Esta é a luz no fim do túnel que precisamos almejar e que temos que
perseguir. Que a escola seja um local onde o humano seja trabalhado, valorizado
e plenamente desenvolvido. Até chegarmos lá, continuarei desabafando em meus
textos... afinal não quero morrer com câncer, ou com úlcera, ou com
depressão.... melhor não quero morrer.... não assim....
PARABÉNS
PROFESSORES PELO SEU DIA!
ORGULHEM-SE,
MESMO QUANDO O GOVERNO NOS NEGAM O DIREITO DE PARTICIPAR DO PROCESSO
EDUCACIONAL DE NOSSO PAÍS, DE NOSSO ESTADO E DE NOSSA CIDADE.
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