terça-feira, 28 de janeiro de 2014


Uma viagem no tempo... no meu próprio tempo.

Estou sofrendo férias. Então resolvi não ir para o litoral, nem fazer uma viagem longa que atendesse os reclames do sistema capitalista de gastar, gastar, gastar e aumentar os índices de turismo do país. Nada disso. Resolvi curtir minhas férias com atividades diferentes, fazer aquelas coisas que geralmente a gente não tem tempo para fazer, ou quase nunca faz porque sempre temos  pouco tempo, principalmente depois que o ano letivo se inicia. Então resolvemos realizar algumas viagens para cada fim de semana. Para onde? Para qualquer lugar... sem rumo... ou com um pouco de rumo, mas sem muito planejamento.

Estas viagens tinha, ou melhor ainda está tendo, pois ainda estamos no processo, dois objetivos: conhecer lugares novos e rever outros lugares que a muito tempo não via. Assim, andar por caminhos novos e velhos, ver novos lugares e velhos e, ao mesmo tempo, experimentar um tempo novo, ou leituras novas de meu próprio tempo. Neste fim de semana, voltei ao lugar de minha infância, realizei uma viagem no tempo, no meu próprio tempo. Vi pessoas que a muito tempo não via, conversei com outros que acabei de conhecer. Fui a lugares que há anos não visitava.



Figura 1 - Grupo Escolar de Parreiras - Município de Crucilândia

Resolvi iniciar o trajeto pelo antigo prédio onde funcionava o grupo escolar rural onde estudei, hoje abandonado. Mesmo depois de muito tempo, estava tudo lá. Um pequeno gramado na frente, ao lado esquerdo ainda resiste alguns pés de goiaba, destas goiabinhas do mato. Lembro que na hora do recreio era visitado por nós. Por um momento ainda pude sentir a existência e a presença de meus colegas de escola, correndo pra lá e pra cá. Eram duas salas de aula, multiseriadas. Uma sala para o 1º e 2º anos, e outra para o 3º e 4º anos. Lembrei da cartilha em que aprendi a ler, quase cantando, recitávamos as poesias “Minha enxadinha, trabalha bem, corta matinho, num vai e vem”... e aquela outra “Upa, upa cavalinho”... Mas hoje a escola estava com suas portas fechadas... uma pelo menos, as outras quebradas, e no chão de cimento grosso, restos de folhas de caderno e sinais de fogo, no canto um armário de aço velho quebrado, sem portas, deixando revelar alguns copos de plástico... eu e minhas duas irmãs fomos pra frente da escola e ficamos para uma foto. E assim registramos o que resta deste velho tempo... embora eu saiba que a memória do tempo de infância foi apenas reforçada com esta pequena visita.

E por que está abandonada? Por que decidiram matar esta escola, em um país que precisa tanto de escola? Poderíamos pensar inúmeras possibilidades: não haveria crianças suficientes que justificasse a manutenção do funcionamento escolar; ou com a nova política de transportar as crianças da zona rural para as escolas urbanas torna-se mais econômico e beneficia mais alguns e assim garante votos nos pleitos eleitorais. E então não se respeita as diferenças culturais e nem se planeja uma educação que prioriza a fixação do homem no campo e o desenvolvimento de uma agricultura familiar. O contato das crianças da zona rural com as crianças dos centros urbanos acabam provocando um determinado choque cultural que poderá causar profundas transformações na vida dessas crianças. E então, nem todas terão as oportunidades que tive, tendo uma educação dentro de seu próprio espaço, de seu próprio universo.

O que é melhor? O que é pior? Não sei dizer. Mas sei que ver esta escola abandonada não foi o que eu gostaria de ver, embora tenha sido muito bom voltar aquele lugar. Agora fico pensando as inúmeras possibilidades para aquela escola, para aquele local de ensino-aprendizagem... Ainda há esperanças ou possibilidades?! Talvez... mas eu preciso caminhar... continuar nesta viagem do tempo, do meu tempo. O segundo capítulo contarei na próxima semana...

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