Uma viagem no tempo... no meu próprio tempo. (2ª
parte)
Como disse no
artigo passado, estou fazendo uma viagem no tempo... no meu próprio tempo.
Assim sendo, vamos seguir a estrada, pois tem muita poeira pela frente... isso
mesmo, muita poeira, e não é só metáfora, neste verão de janeiro as estradas
são poeira pura, mas há muito pó acumulada ao longo do tempo.
Neste segundo
relato quero falar de um lugar muito caro para mim e para meus irmãos. Caro por
trazer à memória momentos alegres e momentos tristes. Assim é a vida: há sempre
momentos alegres e momentos tristes. Fui visitar a casa onde passei os meus
primeiros 10 anos de vida. A casa está lá, linda e muito bem cuidada. O atual
proprietário fez reforma na casa e olha foi uma grande reforma, mas manteve
suas principais características. Por este motivo, gostaria de publicamente
agradecer este proprietário, que nem sei quem é, mas quero agradecê-lo assim
mesmo, pois mantém intacto aquela casa. A sua manutenção possibilitou-me
confrontar a realidade com a memória que tinha sobre ela. É nesse sentido que
nos possibilitam uma reflexão sobre a importância de um patrimônio para a
memória coletiva.
E o que foi
possível rememorar? Que ideias tinha do tempo de minha infância e do foi
possível perceber diante desta casa? Que memórias esta casa fez erguer dentro
de mim? Talvez eu não consiga expressar claramente tudo, mas não custa tentar.
Vamos começar pelas diferenças. Para mim a casa era muito maior do que
realmente é, isso é compreensível visto que a memória da dimensão da casa
guardava a visão de uma criança menor de 10 anos, era afinal visto de uma outra
perspectiva. Na frente do casarão havia uma coberta onde de guardava o Carro de
Bois, o paiol e na parte abaixo do paiol ficava o chiqueiro. Não haviam as
cercas brancas, nem a plantação de capim, em seu lugar havia um gramado natural
(não fora plantado) grande, com uma boa inclinação. Neste lugar eu e meus
irmãos nos divertíamos escorregando sentados dentro de uma casca de folha de
coqueiro, que nós chamávamos de “capota”. Um pouco mais acima ficava o curral.
Voltando à
casa, possuía 13 cômodos, todos de assoalho, exceto o banheiro a cozinha e a
dispensa. Hoje não sei como está, uma vez que não foi possível entrar na casa.
Não tínhamos televisão, pois naquela época possuir uma era coisa para poucos. Tínhamos
um rádio 4 faixas e ouvíamos a Rádio Nacional e a Rádio Aparecida. Há duas
memórias retidas quanto aos programas de rádio: a primeira refere-se a minha
mãe acompanhando uma rádionovela da Rádio Nacional e a segunda era o canto da
benção de Nossa Senhora Aparecida, principalmente no dia da padroeira – “Viva a
Mãe de Deus e nossa, Oh! Senhora Aparecida.... - da parte da benção do dia de
Nossa Senhora Aparecida eu guardei porque era o Bispo D. Geraldo, achava muito
chic porque meu nome era dito no Rádio. Lembrei de outras coisas, como: colocar
brasas em um latão para nos esquentarmos nas noites de inverno; o colchão de
palha; os dias em que se matava porco era uma festa só – a vizinhança juntava
para ajudar e depois levava um pedaço como forma de pagamento – a casa ficava
movimentada; juntar os bois para carrear, já com 8 anos ia à frente dos bois
como guias; a ida à cidade (Crucilândia) à cavalo com meu pai, uma vez ou
outra... E quando ele comprou-me um chapéu de palha com fitinha azul...
inesquecível. Muitos outros momentos bons mereceriam ser citados aqui. Mas
continuarei no próximo...
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