sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

"Para não dizer que não falei das flores"...



Na semana passada relembrei, aqui, a proposta feita pelo então senhor vereador Osmando Pereira, no ano de 1987, sobre a necessidade de criação de uma Secretaria Municipal de Cultura. Depois de algumas polêmicas embrionárias, não em torno do texto em si, mas de modo particular contra a minha “falta de diplomacia e pouca inteligência”, quanto a viabilidade da publicação daquele texto, mesmo considerando que o texto possuía verdades, o momento não era apropriado. O texto continua disponível em meu blog (http://phonteboa.blogspot.com.br/2016/01/uma-secretaria-de-cultura-em-itauna.html) e no espaço virtual Horizonte Paralelo (http://horizonteparalelo.net).
Polêmicas à parte, cabe a mim reiterar as proposições apresentadas naquele texto, sendo a principal, a SUGESTÃO de se separar a pasta da cultura da pasta da Educação. Sugestão esta que, diga-se de passagem, não é minha, é do próprio Senhor Osmando Pereira da Silva, quando era vereador. Tenho eu o poder de criar esta Secretaria? Não. Cabe a mim avaliar se ela é viável? Não. Ela é necessária? Sim. Como posso fundamentar tal necessidade? A ausência de uma política de apoio à produção cultural de nossa cidade; a falta de recursos claramente visíveis para a aplicação e para o investimento em uma política duradoura e eficaz na promoção da cultura; a ausência de uma coordenação dos projetos culturais de formação cultural, etc...
  Sendo assim, vamos mudar de assunto. Quero agora “falar das flores”, isso porque não depende de diplomacia, nem de inteligência. Para tanto relembro da canção de Geraldo Vandré, 2º lugar no Festival Internacional da Canção de 1968. Esta música tornou-se símbolo de resistência ao regime militar, pelo simples fato de ser proibida pela censura.  A derrota de “Caminhando” (como era conhecida pela população) para “Sabiá” (de Chico Buarque) gerou muita polêmica na época e ainda repercutiu por anos. O que é muito curioso é que “Para não dizer que não falei das flores” tornou-se mais conhecida e cantada do que a vencedora “Sabiá”.
Após a censura desta canção Geraldo Vandré passou alguns dias escondido na fazenda de Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, viúva de Guimarães Rosa, o compositor partiu para o Chile e, de lá, para a Alemanha e França. Quando retornou ao Brasil, em um depoimento polêmico à Rede Globo (idônea e imparcial) de que só iria compor canções de amor. Então, por isso, resolvi “falar das flores” e, para tanto, escolhi a Rosa, a “Rosa de Hiroshima”. Poema de Vinícius de Morais, mas que foi musicado por Gerson Conrad e gravado em 1973 pelo grupo “Secos e Molhados”. “Rosa de Hiroshima” era na realidade um repúdio ao uso de armas nucleares... Mas rosa são muitas e não há rosas iguais, mesmo as rosas sejam da mesma cor, não há rosas iguais. E por que? A resposta é simples e não requer inteligência: Cada rosa é uma rosa única, porque nenhuma pétala é igual a outra, assim como as rosas, cada pétala é única. E a rosa para ser exclusiva e única “abraça” as diferenças existentes em cada pétala. A rosa, para ser rosa, faz com que as pétalas que são diferentes entre si, se interlaçam e convivam com suas diferenças. Harmonizam sem anular as diferenças. Acolhe e envolve sem anular. Cada pétala é pétala, iguais em suas diferenças, e no conjunto destas diferenças a unidade e exclusividade da rosa.
Não estou inventando a roda, nem a rosa, só reeditando o caminho assumido por aquele que um dia ousou “dizer de flores vencendo canhões”, mesmo sabendo que “somos todos iguais, braços dados ou não” (pois somos pétalas em uma rosa, e assim somos rosa). Então, “vem vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Ele escolheu o caminho do silêncio e do anonimato, eu, ao contrário produzirei ficções e falarei de flores.

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