Manoel
Wenceslau Leite de Barros, ou simplesmente Manoel de Barros foi um poeta
nascido em Cuiabá (MT), no ano de 1916. Depois foi morar em Corumbá (MS) de lá foi para a cidade do Rio
de Janeiro, onde cursou Direito. Em 1937 publicou o livro o “Poemas Concebidos
Sem Pecado”. Em 1942 publicou o “Face Imóvel” e em 1946, “Poesias”. De volta a
Mato Grosso do Sul, Campo Grande, passou a dedicar-se à administração de uma
fazenda herdada de seu pai. Somente na década de 1980 é que ficou conhecido no
mundo da poesia, quando então Millôr Fernandes publicou suas poesias em um
jornal de grande circulação nacional.
Os
temas de sua poesia é a natureza, mais especificamente a natureza do Pantanal.
Seu estilo é bastante diversificado, mas é também senhor uma originalidade que
sai da esfera convencional. Ainda no ano
de 1961 publicou “Compêndio para Uso dos Pássaros”, depois, em 1969 “Gramática Expositiva do Chão”, em 1974,
“Matéria de Poesia”. Na década de 1980 saiu “O Guardador de Águas”. Já o “Retrato
do Artista Quando Coisa” e dos anos de 1990, “O Fazedor de Amanhecer” é de 2001,
dentre outras obras.
Em
uma das entrevistas em que fala da poesia, ele afirmava que poesia para ele não
era uma inspiração, mas sim uma transpiração. Depois de tanto transpirar, no
seu esforço contínuo de apresentar o inusitado pela poesia, Manoel de Barros
fechou os olhos eternamente no dia 13 de novembro de 2014.
Alguns
analistas e críticas de literatura consideram Manoel de Barros o João Guimarães
Rosa do Pantanal, isso por que sua genialidade de criar novos termos para
dizer, de forma inusitada o que vê, o que sente e o que pensa tem algumas
características parecidas com o grande escritor mineiro. Outros analistas o consideram
um poeta-filósofo, isso por que sua poesia provoca uma nova forma olhar para as
coisas do mundo. Desde as coisas mais simples até as coisas mais complexas.
Diante
desta perspectiva podemos considerar alguns aspectos da poesia de Manoel de
Barros, no sentido de exemplificar, como a sua produção poética se aproxima da
reflexão filosófica. Manoel
de Barros, ao produzir seus textos poéticos se utiliza de um processo de
contemplação, mas que também é de transpiração que lhe obriga ver e considerar
os detalhes da natureza, promove um movimento em que a poesia vivencia cada
mínimo detalhe na busca expressiva de uma desertificação do próprio eu. Este
esforço poético de Manoel de Barros que pode ser lido, prazerosamente, no poema
abaixo, é expressão deste novo refletir poético do “admirar” o mundo, princípio
do fazer filosófico, e, ao mesmo tempo, busca de compreensão do próprio eu.
Percorro todas as tardes um
quarteirão de paredes nuas.
Nuas e sujas de idade e ventos.
Vejo muitos rascunhos de pernas
de grilos pregados nas pedras.
As pedras, entretanto, são mais
favoráveis a pernas de moscas do que de grilos.
Pequenos caracóis deixaram suas
casas pregadas nestas pedras
e as suas lesmas saíram por aí à
procura de outras paredes.
Asas misgalhadinhas de borboletas
tingem de azul estas pedras.
Uma espécie de gosto por tais
miudezas me paralisa.
Caminho todas as tardes por estes
quarteirões desertos, é certo.
Mas nunca tenho certeza se estou
percorrendo o quarteirão deserto
Ou algum deserto em mim. (BARROS,
2005:31)
Nesta odisseia poética, Manoel de
Barros estabelece uma nova didática do olhar e nesta vai revelando os detalhes
insignificantes que o homem contemporâneo não consegue mais ver. Assim, o poeta
revela, a contramão do tempo acelerado da vida moderna, o caminhar dos
caramujos – “Há um comportamento de
eternidade nos caramujos para subir os barrancos de um rio, eles percorrem um
dia inteiro até chegar a manhã” (BARROS, 2005, p. 319); ou a busca do
silêncio num mundo pleno de barulho – “(…) Uso
a palavra para compor meus silêncios. Não
gosto das palavras fatigadas de informar” (BARROS, 2003, p. 39); ou ainda a
busca de valorização do que é insignificante, do descartável – “ ... as coisas que não tem dimensões são
muito importantes. (…) É no ínfimo que eu vejo exuberância” (BARROS, 2005,
p.55).
Os exemplos aqui apresentados de
Manoel de Barros são suficientes para perceber como o poeta, utilizando-se da
linguagem própria da poesia, traz um novo “admirar”, provocando um certo
desconforto com a realidade que o certa, e ainda possibilita um novo olhar para
aquilo que há muito já foi visto, mas que, por inúmeros contratempos, perdeu
seu sentido. O Poeta (Manoel de Barros) mesmo sem ser filósofo age como
filósofo no “estranhamento” do mundo, propõe novos olhares e provocam novos
posicionamento diante do que é comum ou cotidiano. Sua poesia é belíssima, mas
cada verso é denso, intenso e pleno de filosofia que só filósofos e poetas
(como uma criança) podem compreender. Assim, temos o filósofo-poeta (Nietzsche)
e o poeta-filósofo (Manoel de Barros) no esforço de compreender o mundo e a sua
realidade, usando tão somente a linguagem, e em última instância, a palavra, no
exercício de expressar o que vê, quer pelos sentidos, quer pelos sentimentos.
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