O
que valorizamos em nossa vida depende unicamente de nós mesmos. É ou não é?!
Parece ser um ambiente comum valorizarmos aquilo que geralmente é ruim. Todos
nós queremos falar mal de alguma coisa. Falar mal do governo é, então, entendimento
comum. Só vemos e apontamos defeitos. Criticamos e, de tanto darmos atenção ao
que de ruim acontece, não conseguimos ou dificilmente conseguimos reconhecer o
que é bom. E essa realidade não se restringe à política. Esta prática
se espalha por todos os aspectos de nossa vida, e, quando menos percebemos,
estamos falando mal de tudo e de todos.
Eu,
que sou professor, enfrento isso todos os dias no ambiente escolar. Todos tem
alguma coisa para reclamar. Reclamamos de tudo. Se propostas de mudanças nos
são apresentadas, geralmente, somos os pessimistas de plantão. Logo aparece
aquelas frases: “Ah! Isso não vai dar certo!” ou “Mais um modismo!”. Se as
propostas não aparecem ou não são apresentadas também reclamamos: “Que falta de
criatividade!” ou “Você viu, trocou 6 por meia dúzia!...”. Falar mal dos
trabalhos dos alunos já é quase uma rotina. Qual professor que nunca ouviu
aquela frase: “Tudo cópia da Internet!” ou “Os nossos alunos não leem!” ou
ainda, “Eles não são capazes de produzir nada que vale a pena!” e por aí vai...
Um verdadeiro “muro das lamentações”!
Hoje
não. Hoje eu quero é elogiar. Parabenizar a todos os meus alunos da Faculdade
de Pará de Minas, a FAPAM pelo brilhante trabalho realizado sobre a cultura
indígena. O tema gerador foi “Cultura Indígena: um olhar sobre a alteridade”
proposta pela direção pedagógica da FAPAM. Uma proposta de um trabalho
transdisciplinar, em um prazo curto de tempo, e olha, foi um “show” de
trabalho.
A
qualidade deste trabalho poderá ser atestada amanhã lá no campus da FAPAM, das
14h às 17h. Os alunos dos cursos de Direito, Administração, Pedagogia, Letras,
Matemática, dentre outros, cada um à sua
maneira, buscaram analisar a questão indígena a partir de uma outra
perspectiva. Independentemente do resultado que será apresentado amanhã, nós
professores, que acompanharam o envolvimento dos alunos no processo, já temos
condições de avaliar a qualidade do trabalho. Isso por que, por mais que eles
tenham “copiado” coisas da Internet, tiveram que elaborar, que construir o
olhar, dar sentido e, principalmente, planejar como este “olhar” deveria ser
apresentado.
Assim
teremos como apresentação amanhã a palestra “A
diversidade cultural e os direitos dos índios” sob responsabilidade do curso de
Direito; em seguida será a vez do Curso de Letras com o tema “Narrativas –
Linguagens indígenas”; depois o curso de Administração apresentará “Empreendedorismo
indígena”; O curso de Matemática trará a questão “Culinária Indígena –
Exposição de mural, alimentos e utensílios”, e inúmeros outros aspectos serão
apresentados.
Sem dúvida é hora de olhar a educação
sobre a perspectiva do que de bom está acontecendo e valorizar. Não dá para
ficar só reclamando. É preciso prestigiar o que é bom, mudar o foco de nossa
atenção e de nosso olhar.
Para terminar este pequeno texto,
transcrevo aqui uma poesia escrita pela aluna Quitéria Martins do Curso de
Pedagogia sobre a temática indigenista que foi apresentado como parte
integrante da disciplina História da Educação no Brasil.
DESPIDO
DE SI
Quitéria
Martins
O índio despido foi
vestido de homem branco.
Perdeu sua casa, sua
raça, sua crença.
Sua imagem, quem diria,
foi capturada, pura magia.
Ficou doente a sua
gente...
Viu sua riqueza
desaparecer, como entender?
Invadiram sua terra,
sentiram-se donos:
Comeram sua comida,
dormiram em sua cama.
Tomaram a sua essência,
falaram de indecência;
Olharam seu corpo,
falaram de pecado, de Diabo,
De um Deus que castiga,
que proíbe, que briga.
O Deus que conhecia com ele permanecia.
Estava na lua, no sol,
na floresta, nas aves em festa.
-Meu Deus é amigo, está
sempre comigo,
-Trago-lhe presentes,
lhe faço cantigas, comigo não briga.
O índio impotente cedeu
a essa gente, perdeu seu lugar, não pode lutar.
Perdeu sua floresta,
pouco lhe resta, tornou-se escravo, marginalizado.
-É um selvagem! Diziam
alguns.
-É um preguiçoso!
Diziam outros.
Hoje não! É um cidadão,
cidadão do Mundo Novo!
Alguém percebeu que um
erro ocorreu:
-O índio era o dono,
nós o roubamos!
E para corrigir o erro
faz-se o enterro dos índios sacrificados.
Redigem a escritura,
atestam a posse, a Terra é tua.
De homem branco
despido, de índio é vestido.
Assim, reforço o convite para
comparecer neste evento realizados pelos alunos da Faculdade de Pará de Minas e
aproveito para convidar você para mudar sua maneira de ver o mundo. Sei que
isso não resolve todos os problemas, mas certamente nos ajudará a enfrentá-los
com mais sobriedade, calma e, principalmente, com otimismo. Se meu olhar é
seletivo, quem o seleciona sou eu.
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