sexta-feira, 2 de novembro de 2012


“Tudo que é sólido desmancha no ar.”

 

Não falarei aqui de filosofia, nem de sociologia. Não pretendo também produzir algo que sirva de referência para estudiosos ou mesmo teóricos sérios e carrancudos que, forçando a barra, elaboram teorias que expliquem modelos acadêmicos de estudo ou teses científicas. Mas não podemos negar que o título (que não foi talhado por mim, e por isso está entre aspas) deste artigo é bastante sugestivo. Apesar tempo em que ele foi talhado, 1848 quando da publicação do Manifesto Comunista. Isso mesmo este título está inserido dentro de um contexto europeu de luta trabalhista, de greves operárias, de teorização sobre as relações de trabalho no sistema capitalismo industrial. 

Assim, recuperar o sentido desta afirmativa considerando o momento político e ideológico em que fora talhada não é simples. Sei que a extensão deste pequeno artigo não há espaço suficiente para verticalizar a análise desta afirmativa. Tenho consciência disso e, portanto, restringir-me a traçar um painel de esboços imperfeitos e fragmentários é algo natural e uma obrigação que imponho a mim mesmo. Portanto não pretendo produzir uma imagem completa, mas acredito que posso recuperar parte de seu significado e a partir dele refletir, também de modo limitado, a novas trajetórias que se estão delineando nos relacionamentos humanos. Não se trata de uma face parcial de relações segmentária, como é a relação trabalhista. Afinal as relações humanas não se limitam à relações trabalhistas.

Mas voltemos por um minuto a parte do fragmento de Karl Marx e Friedrich Engels quando então se talhou e frase capitular deste artigo. Assim escreveu Marx

todas as relações fixas, enrijecidas, com seu travo de antiguidade e veneráveis preconceitos e opiniões, foram banidas; todas as novas relações se tornam antiquadas antes que cheguem a se ossificar. Tudo que é sólido desmancha no ar, tudo que é sagrado é profano, e os homens finalmente são levados a enfrentar (...) as verdadeiras condições de suas vidas e suas relações com seus companheiros humanos” (Marx apud Berman, 1998, pg.20).

Observe que a leitura deste fragmento, considerando o contexto de luta dos funcionários das indústrias por melhores condições de trabalho e salários, certamente as palavras de Marx poderia ganhar uma conotação de esperança, visto que as relações sólidas de dominação da classe operária poderiam ceder, amolecer “desmanchar no ar”.

            Creio que possamos nos apropriar das palavras de Marx, mesmo considerando o contexto do século XIX, para compreender os relacionamentos humanos nos dias deste inicio de século XXI. Hoje os relacionamentos frágeis, descartáveis, virtuais demais. O sociólogo Zygmunt Bauman denomina este relacionamento frágil e descartável de “líquido” criando assim uma categoria oposta ao “sólido” de Marx. No entanto, esta “liquidez” do relacionamento nos tempos atuais não é permanente, tem sua própria fluidez, mas também pode ser “enrijecer”, ganhar substância, substanciar-se. Tudo é possibilidade, e enquanto for possiblidade haverá esperança de que embora “tudo que é sólido desmancha no ar”, mas também nem tudo que não é sólido não é líquido, e tudo que é líquido pode se transformar em algo mais substancial, mas duradouro, mais extremamente comprometido. Porque ainda acredito na capacidade humana de se transformar.

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