Ah! Os Crisântemos! Uma bela flor, no Brasil
associada à morte, pena! Com um cheiro característico e marcante, o Crisântemo
tem sua nobreza histórica e vamos contá-la agora.
Em grego, crisântemo significa "flor de ouro". Cultivada há
mais de 3.000 anos na China é considerado uma das plantas nobres chinesas,
presente quase sempre nos jardins das elites chinesas. Os Crisântemos,
originários da China, foram levados para o Japão no ano de 400 d,C. por monges
budistas. Os imperadores japoneses ficaram tão impressionados com a beleza
desta flor que acabaram adotando-as para ser um dos maiores símbolos da família
imperial japonesa, e mais tarde a Flor Nacional do Japão. Em 910 d.C., o
Imperador japonês adotou o crisântemo como seu selo oficial e brasão da família
imperial – uma flor dourada com 16 pétalas que irradiam do centro como chamas
do sol. O trono onde os Imperadores se sentam também são chamados de “Trono de
Crisântemo”, além da “Suprema Ordem do Crisântemo”, honraria concedido somente
pelo imperador. Pela tradição
japonesa acreditam que uma única pétala do crisântemo colocada no fundo de uma
taça de vinho, traria vida longa e saudável. Desta forma o Crisântemo, além de
ser símbolo do Japão, também tornou-se símbolo de vida, longevidade,
rejuvenescimento, prosperidade, amizade, alegria, otimismo e fidelidade, o
design de crisântemo passou a fazer parte das artes japonesas e peças como
vestuário ou mobiliário. Além disso, cada cor pode trazer um significa
diferente. Um crisântemo vermelho simboliza o amor, quando dado para alguém
especial; um crisântemo branco simboliza sinceridade e a amarela, amor não
correspondido. Além disso, os crisântemos são utilizados na culinária japonese
e, tanto as suas flores como a planta em si, são misturadas e cozidas no vapor
e acompanham outras verduras. As flores servem também para chá e ainda para
aromatizar vinhos e outras bebidas.
No século XVII, o crisântemo foi
levado para o Ocidente onde foi bem aceita como uma planta nobre. Na Europa, o
Crisântemo foi pouco a pouco sendo cultivado e misturado em várias espécies.
Hoje são catalogados mais de 100 espécies e mais de 800 variedades e, com as
novas técnicas, garante a produção de flores durante todo o ano.
No Brasil o Crisântemo chegou
provavelmente no final do século XVIII e início do XIX e, desde o início, foi
muito utilizado em velórios, inclusive dentro das
urnas mortuárias ladeando o cadáver. O uso desta flor nas urnas mortuárias se
deve pela sua durabilidade, suas cores (principalmente a branca e a amarela) e
ainda contém tipo de inseticida natural, obtido da trituração das flores, que
em termos práticos, ao exalar o seu perfume pela trituração, acaba por espantar
pequenos e indesejáveis mosquitos atraídos pelo processo de deterioração do
corpo fúnebre.
Além
dos velórios, o uso do crisântemo está, também, associado ao dia de finados. A cultura de dedicar um dia para homenagear os mortos varia
muito de localização ou religião, mas segue os princípios do catolicismo, pois
a partir do século XI, os papas Silvestre II, João XVII e Leão IX passaram a
exigir tal celebração. O crisântemo, utilizado neste dia, traz a memória
do ente querido, e neste caso passa a representar tanto a vida como a morte. No
entanto, é um dia triste, e o uso do crisântemo em tais eventos nos faz
associar esta flor à morte.
Como os crisântemos, que como
vimos - em cada uma de suas cores, um significado, nós brasileiros preferimos
nos ater a um único significado e a um único sentido. Colocamos tais flores em
um lugar determinado, a uma situação mais ou menos definida e não aceitamos os
seus diversos usos, suas diferentes utilidades e contribuições que tais flores
podem trazer. Assim como estigmatizamos os crisântemos como flor da morte, como
aconteceu também com o “cravo”, que aqui o chamamos negativamente de “cravo de
defunto”, dificilmente aceitamos que ela esteja em outros momentos de nossas
vidas. Como se cada flor nasceu para um momento ou para ser apenas uma coisa na
vida. O pior que esta postura, devido ao nosso patriarcalismo, ou laços de
apadrinhamento social e político, se estende também às pessoas. Como se cada um
já tivesse nascido predestinados. E com isso há um desperdício das
potencialidades, pelo simples fato de não aceitarmos que os outros desenvolvam
suas potencialidades. Aplicamos aos humanos o ditado popular: “Até as flores
tem sua sorte, umas enfeitam a vida, outras a morte”. E assim nos matamos...
enquanto cultivamos crisântemos para nos enfeitar a morte.
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