terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Projeto: "Para não dizer que não falei das flores" - CRISÂNTEMOS



Ah! Os Crisântemos! Uma bela flor, no Brasil associada à morte, pena! Com um cheiro característico e marcante, o Crisântemo tem sua nobreza histórica e vamos contá-la agora.
Em grego, crisântemo significa "flor de ouro". Cultivada há mais de 3.000 anos na China é considerado uma das plantas nobres chinesas, presente quase sempre nos jardins das elites chinesas. Os Crisântemos, originários da China, foram levados para o Japão no ano de 400 d,C. por monges budistas. Os imperadores japoneses ficaram tão impressionados com a beleza desta flor que acabaram adotando-as para ser um dos maiores símbolos da família imperial japonesa, e mais tarde a Flor Nacional do Japão. Em 910 d.C., o Imperador japonês adotou o crisântemo como seu selo oficial e brasão da família imperial – uma flor dourada com 16 pétalas que irradiam do centro como chamas do sol. O trono onde os Imperadores se sentam também são chamados de “Trono de Crisântemo”, além da “Suprema Ordem do Crisântemo”, honraria concedido somente pelo imperador. Pela tradição japonesa acreditam que uma única pétala do crisântemo colocada no fundo de uma taça de vinho, traria vida longa e saudável. Desta forma o Crisântemo, além de ser símbolo do Japão, também tornou-se símbolo de vida, longevidade, rejuvenescimento, prosperidade, amizade, alegria, otimismo e fidelidade, o design de crisântemo passou a fazer parte das artes japonesas e peças como vestuário ou mobiliário. Além disso, cada cor pode trazer um significa diferente. Um crisântemo vermelho simboliza o amor, quando dado para alguém especial; um crisântemo branco simboliza sinceridade e a amarela, amor não correspondido. Além disso, os crisântemos são utilizados na culinária japonese e, tanto as suas flores como a planta em si, são misturadas e cozidas no vapor e acompanham outras verduras. As flores servem também para chá e ainda para aromatizar vinhos e outras bebidas.
No século XVII, o crisântemo foi levado para o Ocidente onde foi bem aceita como uma planta nobre. Na Europa, o Crisântemo foi pouco a pouco sendo cultivado e misturado em várias espécies. Hoje são catalogados mais de 100 espécies e mais de 800 variedades e, com as novas técnicas, garante a produção de flores durante todo o ano.
No Brasil o Crisântemo chegou provavelmente no final do século XVIII e início do XIX e, desde o início, foi muito utilizado em velórios, inclusive dentro das urnas mortuárias ladeando o cadáver. O uso desta flor nas urnas mortuárias se deve pela sua durabilidade, suas cores (principalmente a branca e a amarela) e ainda contém tipo de inseticida natural, obtido da trituração das flores, que em termos práticos, ao exalar o seu perfume pela trituração, acaba por espantar pequenos e indesejáveis mosquitos atraídos pelo processo de deterioração do corpo fúnebre.
Além dos velórios, o uso do crisântemo está, também, associado ao dia de finados. A cultura de dedicar um dia para homenagear os mortos varia muito de localização ou religião, mas segue os princípios do catolicismo, pois a partir do século XI, os papas Silvestre II, João XVII e Leão IX passaram a exigir tal celebração. O crisântemo, utilizado neste dia, traz a memória do ente querido, e neste caso passa a representar tanto a vida como a morte. No entanto, é um dia triste, e o uso do crisântemo em tais eventos nos faz associar esta flor à morte.
Como os crisântemos, que como vimos - em cada uma de suas cores, um significado, nós brasileiros preferimos nos ater a um único significado e a um único sentido. Colocamos tais flores em um lugar determinado, a uma situação mais ou menos definida e não aceitamos os seus diversos usos, suas diferentes utilidades e contribuições que tais flores podem trazer. Assim como estigmatizamos os crisântemos como flor da morte, como aconteceu também com o “cravo”, que aqui o chamamos negativamente de “cravo de defunto”, dificilmente aceitamos que ela esteja em outros momentos de nossas vidas. Como se cada flor nasceu para um momento ou para ser apenas uma coisa na vida. O pior que esta postura, devido ao nosso patriarcalismo, ou laços de apadrinhamento social e político, se estende também às pessoas. Como se cada um já tivesse nascido predestinados. E com isso há um desperdício das potencialidades, pelo simples fato de não aceitarmos que os outros desenvolvam suas potencialidades. Aplicamos aos humanos o ditado popular: “Até as flores tem sua sorte, umas enfeitam a vida, outras a morte”. E assim nos matamos... enquanto cultivamos crisântemos para nos enfeitar a morte.

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