“Pensamentos
inúteis” e o Sistema – (Parte I)
Geraldo Phonteboa
Com o advento da tecnologia da informação
(softwares e hardwares ou no popular programas e computadores) e suas
aplicações práticas em todas as nossas instituições a vida tornou-se mais prática,
dinâmica, e, até certo ponto, mais fácil de ser controlada e manipulada. Os
procedimentos são elaborados em sistemas de informação e visam evitar
determinadas manobras ou diversidades de opções. Ao mesmo tempo que tornam as
atividades mais eficazes, também controlam e cerceiam determinadas liberdades
humanas. Embora possamos utilizar desses sistemas para organizar movimentos em
defesa das liberdades humanas.
Não há como negar que a eficiência nos
procedimentos vem garantindo a qualidade nos sistemas produtivos, e tem
contribuído para o desenvolvimento de novos procedimentos e melhorias técnicas
e produtivas, que de algum modo, repercute positivamente nos lucros das
instituições. Devemos considerar que “lucros” aqui devem ser entendidos em
sentido amplo, não somente financeiro, mas também em economia de tempo,
retrabalho, assertividade, garantias de qualidade e eficácia.
No entanto, todas estas vantagens derivadas do
desenvolvimento desses sistemas de informações tem um “custo” – que também
devem ser compreendido em sentido amplo, isso é, custo não se refere somente
aos custos financeiros, mas também referem-se a mudanças de comportamentos,
atitudes, novos aprendizados, adequações de procedimentos visando atender as
demandas geradas pela implantação de inúmeros sistemas.
Considerando todos os “custos” e os “lucros” (em
sentido amplo) podemos com certeza afirmar que os “lucros” são compensadores e,
em muitos aspectos, justificam os “custos”, embora sejam difíceis de serem
calculados e para tanto se medem a partir da percepção sensorial cotidiana. Consideremos
também, que todos os seguimentos (produtivos, culturais, educacionais,
profissionais e religiosos) podem ser atendidos pela elaboração e instalação de
sistemas, e não somente nas instituições produtivas (empresas), mas também nas
instituições financeiras, comerciais, de saúde, associações e educacionais.
Isso significa que os sistemas de informação podem ser aplicados com eficiência
e eficácia em todos os seguimentos da vida humana.
O que ocorre, no entanto, é que o princípio da
racionalização para a elaboração dos sistemas não se limita unicamente à
montagem de softwares (programas de computadores). Este princípio está
associado a outras mudanças e racionalidades que, de alguma forma, normatizam a
vida das pessoas dentro das instituições (sejam elas produtivas, econômicas,
educacionais, religiosas, de saúde, etc). E esta normatização podem atingir
graus de controle tão exagerados que tornam os relacionamentos das pessoas
dentro das instituições extremamente desumanos. As pessoas passam a viver em
função de cumprir os prazos e as tarefas determinadas pelo sistema, sem
considerar as particularidades e as necessidades geradas pelos relacionamentos
humanos, ou em detrimento dos relacionamentos. E o que deveria ser prazeroso,
ou um lugar de realização humana pela atividade humana passa a ser um lugar de
se cumprir normas ditadas por um sistema impessoal, distante, desumanizado. E
então, os indivíduos passam a viver para um sistema, que não se sabe qual, nem
onde está e que provavelmente tem um nome genérico de … “sistema”, que deve ser
alimentado, e há indivíduo que, de tão acostumado com o “sistema” acredita que
esta é uma realidade “normal” e “natural” e que, portanto, “louco” e
“inconformado” é que “resiste” a obedecer este “sistema”. Então o “sistema”
paira sobre os indivíduos e estes se tornam meros servidores do sistema,
completamente envolvidos no processo de seguir as regras e prazos determinados
pelo “sistema” e subsistemas que passam a constituir uma rede que geram uma
nova realidade chamada de “virtual”, que dia a dia, ocupa a vida das pessoas –
é a Matrix que se instala... e então
aparece as expressões para manter os questionadores ou resistentes dentro desta
“nova realidade” da “Matrix”: “mas é o
sistema...” ou “o sistema não
permite...” ou “isso não é previsto
pelo sistema...então, não deve ser permitido”, ou melhor “isso não é aceito pelo sistema...” e
assim vão conformando todos ao “sistema” e vão excluindo os demais (aqueles que
tentam resistir e lutar para não ser engolidos pelo sistema) é o “limo sistêmico” ou o “purgatório da Matrix” em um paraíso
virtual...
Então cabe-nos aqui algumas perguntas (talvez a
única coisa que os sistema ainda não conseguiram fazer sozinho): Caro leitor e eleitor, quem elabora tais sistemas?
São os profissionais em sistemas de informações ou os que definem metas
(políticos, empresários, diretores, assessores, gerentes, pedagogos, e tantos
outros funcionários) para as instituições? E como tem sido sua vida dentro
desses sistemas? Tem conseguido – sem adoecer – atender as condições impostas
por esses sistemas? Esses sistemas que cercam sua existência têm permitido uma
certa margem de manobra, de espontaneidade, de criatividade, que você possa
ainda se sentir “pessoa”? Esses “sistemas” (que você não fala com ele e nem ele
com você) tem possibilitado melhoria na qualidade de vida (humanização) dentro
de sua instituição (produtivas, familiar, cultural, religiosa, saúde,
educacional, financeiras, etc...)? É possível viver melhor apesar dos
sistemas... (ou “viver melhor” é apenas mais uma face de algum
outro sistema!...)? Ainda é possível ser um indivíduo de “desejo” que busca no ambiente de trabalho um lugar de se realizar
profissionalmente, além de produzir e realizar atividades “lucrativas”? Ou as
instituições não são lugar de realização profissional, visto que agora é o
lugar da “matrix revolution”?! Ou
tudo isso seria apenas uma fantasia da cabeça deste “filósofo” frustrado e deprimido (portanto, doente) em seu
relacionamento com alguns desses “sistemas”?! Talvez, tudo isso, seja apenas
uma possível brincadeira de “pensar coisas inúteis…” dentro da Matrix.
Bela reflexão, Phonte!
ResponderExcluir:-)
Essa condição do escravagismo mental proporcionado pela Matrix cai muito bem com a pueril sensação de comodidade que nos esconde atrás de nossos inventos, envergonhados de assumirmos a hipocrisia resultante do esvaziamento das liberdades individuais e da própria emancipação como espinha dorsal de nossas vidas e não um "favor" minguado com o tempo.