Sai para uma caminhada e a poucos metros de minha casa fui abordado por um colega de trabalho, que mesmo antes de me cumprimentar, foi logo falando:
- Viu que absurdo! Nossa cidade não tem história mesmo! Mais uma parte de nossa história foi pro chão!.
Sem saber do que se tratava, respondi-lhe com um sonoro "bom dia" e procurei saber do que se tratava. E o que me foi relatado era que mais um casarão centenário havia sido demolido. Ouvi atento seu lamento, manifestei meu apreço pela sua tristeza e segui em frente. Por respeito ao meu colega, não lhe disse o que precisava ser dito. E talvez este seja o nosso problema! Não dizer o que realmente precisa ser dito.
A verdade é que a nossa história não está nos "casarões" centenários. A nossa história, na realidade, não está em lugar nenhum. E este é o problema. Se a consciência histórica, o valor da memória do passado não estiver em nós, não estará em lugar nenhum. Tornando isso um pouco mais claro. A História, e seu valor enquanto memória, enquanto identidade, deve estar na consciência humana. Se os homens, proprietários ou não de um determinado bem - seja ele material ou imaterial - não tiver consciência da importância daquele bem como elemento representativo da memória histórica, então não faz sentido e não se tem a preocupação em "preservar" determinado bem. Isso porque o bem em si não é detentor de história, o bem é apenas um depositário de sentido histórico. São as pessoas que dão significado a determinado bem como uma Patrimônio Histórico e um Patrimônio Cultural.
Infelizmente os proprietários desses "casarões centenários" priorizam o valor financeiro e comercial dos mesmos. Pode ser que alguns até possuem consciência de sua importância como depositário de um significado histórico e cultural coletivo, mas os interesses econômicos são maiores, falam mais alto e orientam as tomadas de decisões, quase sempre desastrosas.
Embora, o proprietário pode muito quando se trata de preservar ou não o seu imóvel, não pode tudo. A comunidade local pode manifestar e exigir do poder público ações que visem a preservação de determinados bens como bens representativos da memória coletiva, mesmo a contragosto de seu proprietário. Para isso é preciso que a comunidade se manifeste, diga ao poder público que bem (material o imaterial) quer preservar e cuidar para que continue sendo depositário desta memória coletiva.
Existem os meios legais para que isso aconteça. Existem as Leis de Proteção do Patrimônio Cultural local, assim como existem os Conselhos de Patrimônio. Se este Conselho, ou estas Leis não funcionam cabe a comunidade, e inclusive este meu colega de trabalho, mobilizar esforços para pedir a proteção de determinados bens. Não resolve ficar lamentando! É preciso Ação, envolvimento, compromisso de todos.
Mais um casarão foi destruído e tantos outros o serão enquanto ficarmos na passividade de reclamar e lamentar. E, claro, enquanto o valor econômico e financeiro falar mais alto. Este é o maior desafio da política de Proteção do Patrimônio Cultural.
A TOMADA DE CONSCIÊNCIA DE QUE QUEM PRESERVA A HISTÓRIA DE UMA CIDADE SÃO AS PESSOAS QUE NELA MORAM, VIVEM E CONVIVEM.
E se a sociedade não mobilizar, o poder público é inoperante, e na pior das hipóteses, conveniente com os interesses econômicos dos proprietários de bens como os "casarões centenários".
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